Será que nós já conhecemos tudo o que existe na Terra? Um novo estudo revela que ainda há muito o que ser explorado, e muita coisa que ainda não descobrimos.
Uma nova publicação científica mostra que há grandes regiões que estão enterradas por baixo do “manto” da Terra, que é a camada intermediária do planeta, localizada entre a crosta e o núcleo. Haveria pelo menos dois “supercontinentes” escondidos. Um deles estaria abaixo da África, e o outro sob o Oceano Pacífico.
Os “continentes” escondidos
O estudo, que foi publicado recentemente por pesquisadores holandeses na revista Nature, afirma ter usado um novo método para analisar dados sísmicos de terremoto. Os pesquisadores dizem ter descoberto que esses antigos supercontinentes podem desempenhar um papel fundamental no manto da Terra, funcionando como “âncoras”.
Estas estruturas são mais antigas do que se imaginava anteriormente. Eles serviriam a funções cruciais, moldando as atividades do manto e o movimento das placas tectônicas. Mas estes gigantescos continentes permanecem, em grande parte, inexplorados.
É o que diz a pesquisadora Sujania Talavera-Soza, do departamento de geociências e sismologia na Universidade de Utrecht, na Holanda, que participou do estudo. “Sua origem e se são estruturas de longa duração são amplamente debatidas”, explicou.
Esta nova descoberta se soma a outras que sugerem que o manto, que é formado sobretudo de rochas, não é tão agitado pela agitação interna da Terra, como antes se acreditava. Por isso, a hipótese é que esses supercontinentes, que são bolsões de material não misturado, podem moldar a atividade do manto de maneiras que ainda não compreendemos bem.
“Montanhas” mais altas que o Everest
O estudo foca sobretudo em duas estruturas que seriam semelhantes a montanhas, e que são centenas de quilômetros mais altas que o Monte Everest. “Ninguém sabe o que são, e se são apenas um fenômeno temporário, ou se estão ali há milhões ou talvez até bilhões de anos”, disse Arwen Deuss, sismóloga e professora de Estrutura e composição do interior profundo da Terra na Universidade de Utrecht.
Com cerca de 620 milhas de altura (o que equivale a cerca de 997 quilômetros), essas “ilhas de rocha” subterrâneas são mais de 100 vezes mais altas do que o cume do Monte Everest, que possui por volta de 9 quilômetros de altura.
Obviamente, não há como chegar até eles, pois seríamos automaticamente torrados se nos aproximássemos do núcleo. Os “supercontinentes” estão localizados a cerca de 1.200 milhas abaixo da superfície da Terra, e ficam cercados por um enorme “cemitério de placas tectônicas transportadas para lá por um processo chamado “subducção”, no qual uma placa tectônica mergulha abaixo de outra placa e afunda da superfície da Terra até uma profundidade de quase três mil quilômetros”, afirmou Deuss.
O que os pesquisadores observam é que as ondas sísmicas desaceleram ao chegar nesse local. Por isso, eles chamaram essas duas “montanhas” de Large low-shear-velocity provinces, ou LLSVP (em português, seria algo como “Grandes Províncias de Baixa Velocidade Sísmica”).
As estruturas são mais quentes que as placas tectônicas vizinhas, o que seria a razão pela qual as ondas desaceleraram ao chegar lá. “Contra nossas expectativas, encontramos pouco amortecimento nos LLSVPs, o que fez os tons soarem muito altos ali. Mas encontramos muito amortecimento no cemitério de lajes frias, onde os tons soaram muito suaves”, acrescentou Deuss.
Essa pesquisa avança descobertas que começaram a ser feitas ainda nos anos 1970, quando foram encontradas duas grandes estruturas estranhas abaixo da Terra, que foram chamadas de “blobs”. Só que ninguém sabia se elas se tratavam de um fenômeno temporário ou algo que existia há muito tempo. “Sabemos há anos que essas ilhas estão localizadas na fronteira entre o núcleo e o manto da Terra. E vemos que as ondas sísmicas desaceleram ali”, comentou a pesquisadora.
Ainda não há muitas certezas consolidadas sobre estas grandes estruturas. Uma das hipóteses circulantes é que sejam pilhas de crosta oceânica que foram acumuladas ao longo de milhões de anos. Mas é claro que também há teorias mais loucas – como a de que se tratariam de restos vindos de algum planeta desconhecido. Independente do que sejam, o estudo deixa claro que há muito o que se descobrir sobre a história do planeta em que vivemos.
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