Considerada por muitos arqueólogos o primeiro assentamento urbano real da Mesopotâmia, com fortes indícios de ocupação humana que remontam a aproximadamente 5.400 a.C., Eridu é frequentemente citada como o berço da civilização suméria. Situada entre os rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque, a cidade vem sendo escavada desde o século XIX.

Em uma paisagem arqueológica ainda bem preservada, pesquisadores descobriram recentemente uma vasta, intensiva e bem desenvolvida rede de canais de irrigação artificiais. A descoberta fornece as primeiras evidências físicas de como as antigas civilizações mesopotâmicas gerenciavam os recursos hídricos.

Publicada na revista Antiquity, a pesquisa descreve indícios de técnicas avançadas de agricultura irrigada, desviando a água do Rio Eufrates através desses canais para irrigar plantações em uma região que seria naturalmente árida ou semiárida. Essa tecnologia pode ter sido fundamental para o desenvolvimento e sustentação das primeiras civilizações urbanas naquela região.

Uma “cápsula do tempo” natural

1a.jpg
A região abandonada após o desvio de curso do rio Eufrates. (Fonte: Jaafar Jotheri et al., Antiquity, 2025/Divulgação)

Liderados pelo geoarqueólogo Jaafar Jotheri, da Universidade de Durham na Inglaterra, os pesquisadores afirmaram que o sistema avançado de gerenciamento da água é anterior ao ano 1000 a.C. Isso porque aquela região, próxima a atual cidade iraquiana de Basra, foi preservada por um fenômeno geológico natural: o rio Eufrates mudou seu curso no início daquele milênio.

Quando isso ocorreu, a área ficou sem acesso à água e se tornou seca e inabitável. No entanto, isso teve um efeito positivo para a arqueologia, pois, abandonada, a região se converteu em uma “cápsula do tempo” natural, que preservou um sistema completo de irrigação, capaz de fornecer insights sobre como as antigas civilizações mesopotâmicas gerenciavam água para agricultura.

Até hoje, todo o conhecimento sobre os métodos de irrigação e agricultura nas cidades ancestrais mesopotâmicas vinha “principalmente de evidências indiretas”, especificamente das tábuas cuneiformes. Esses registros estão entre os mais antigos do mundo, e citavam ou descreviam sistemas de irrigação, só agora detectados fisicamente.

Arqueólogos se impressionam com engenharia mesopotâmica

Photographs-of-two-small-canals.jpg
Foto de dois pequenos canais do Eufrates. (Fonte: Jaafar Jotheri et al., Antiquity, 2025/Divulgação)

Na pesquisa, os arqueólogos combinaram mapas geológicos, imagens de satélite, fotografias de drones e trabalho de campo para identificar quase 200 canais primários diretamente conectados ao antigo Eufrates. Além disso, mais de 4 mil canais menores foram mapeados, em um sistema de irrigação complexo e sofisticado que abastecia mais de 700 fazendas.

“Os canais principais estão diretamente conectados ao antigo curso do Eufrates e têm entre 1 km e 9 km de comprimento e entre 2 e 5 m de largura“, afirmam os autores no estudo. Os agricultores de Eridu aproveitaram de forma inteligente a topografia natural da região: eles observaram que o rio Eufrates formava diques naturais (elevações) ao longo de suas margens.

Em uma prova de sofisticação técnica impressionante para a época, esses antigos mesopotâmicos cavaram canais a partir desses pontos mais altos para que a água pudesse fluir naturalmente por gravidade para os campos de cultivo. Essa engenharia demonstra um avançado entendimento em hidrologia e topografia por parte desses agricultores antigos.

Qual a importância da descoberta dos canais de irrigação

GettyImages-136554122.jpg
Foto atual do rio Eufrates, em Dura Europos, na Síria. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Demonstrando avançado conhecimento de engenharia hidráulica adaptada ao ambiente local, os agricultores da Mesopotâmia identificavam ou criavam aberturas estratégicas (rompimentos) nesses diques naturais, em vez de construir completamente novos canais. Esses furos ou cortes nas encostas serviam como pontos de entrada para direcionar a água do rio para a planície de inundação, onde ficavam os campos agrícolas.

Esse tipo de intervenção demandava uma enorme quantidade de mão de obra especializada e uma profunda experiência em gestão de recursos hídricos, evidenciando uma sociedade complexa e organizada. A evolução dos canais ao longo dos séculos, com diferentes seções sendo utilizadas em períodos distintos, revela como as práticas agrícolas se transformaram ao longo do tempo, adaptando-se às mudanças ambientais e sociais.

A equipe espera que pesquisas futuras sobre a cronologia precisa de cada canal permitam compreender melhor a evolução das técnicas agrícolas mesopotâmicas. A comparação dos projetos descoberto com as descrições em textos cuneiformes fornecerá insights valiosos sobre práticas antigas, capazes de inspirar desafios contemporâneos de sustentabilidade nas planícies de inundação do Eufrates.

O que você achou sobre essa descoberta de canais sofisticados na antiga Mesopotâmia? Veja também como uma equipe internacional de pesquisadores descobriu recentemente, na Península Arábica, os indícios mais antigos já revelados até hoje da fabricação sistemática e planejada de ferramentas de pedra na Arábia há 80 mil anos.


Previous post RTX 5050, RTX 5060 e 5060 Ti têm todos os detalhes vazados
Next post Amor e Batatas: Quando estreiam os próximos episódios na Netflix? Confira o calendário