Ao final da década de 1860, iniciou-se o conflito religioso que mudaria para sempre a história do Rio Grande do Sul: a Revolta dos Muckers.

O ápice desse conflito aconteceu nos anos de 1873 e 1874, quando confrontos armados liderados por Jacobina Mentz Maurer e João Jorge Maurer ocorreram na região de São Leopoldo, atual Sapiranga, no Rio Grande do Sul. Esses conflitos, iniciados no fim da década de 60, são conhecidos por Revolta dos Muckers ou Campanha do Morro do Ferrabrás e tiveram um forte impacto na história da região.

A história tem como centro Jacobina, responsável pela criação do movimento cristão que passou a ser conhecido como Mucker, que juntamente com seu marido João rapidamente despertou a simpatia de um grupo de pessoas, essas que viviam precariamente, cercadas de pobreza e doenças.

(Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)(Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)

A família de Jacobina, originária da Alemanha, tinha um forte histórico com atividades religiosas, o que a motivou a implementar suas próprias crenças e regras dentro da sua comunidade de seguidores, que chegou a ser representada por 150 pessoas, aproximadamente.

Mais e mais fiéis chegavam acreditando em seus poderes de cura e precisavam seguir uma série de regras como não fumar, não beber, não frequentar festas e até mesmo a seguir a educação praticada pela própria comunidade dos Muckers, o que fez com que pais retirassem seus filhos das escolas.

Todas essas crenças, palavras e regras geraram rejeição por parte de classes políticas e elites, que começaram a atacar e chamar os Muckers de falsos profetas, fanfarrões, arruaceiros, além de os acusar de separatismo, com a intenção de separar a igreja da comunidade.

Esses acontecimentos geraram uma série de conflitos armados e opressões no Morro Ferrabraz, culminando na prisão de Jacobina e seu marido no ano de 1873.

Importante ressaltar o impacto da revolta dos Muckers para o Rio Grande do Sul, tendo em vista que São Leopoldo foi a primeira colônia da região, também conhecida como o Berço da Colonização Alemã do Brasil, que até hoje possui fortes raízes no sul.

Quem eram os Muckers?

Assim como sua líder Jacobina, todos os Muckers tinham descendência alemã e em sua comunidade, eram representados por adultos e crianças.

Os adultos formavam a liderança dos Muckers e entre eles, foram escolhidos doze, em referência aos apóstolos de Cristo, que eram mais próximos ao casal Maurer e eram confidentes das visões de Jacobina, onde ela acreditava ver a salvação.

Como dito anteriormente, os Muckers seguiam uma série de regras, acreditando fielmente na missão de sua líder e chegando ao ponto de se desvencilhar de suas antigas religiões ou crenças. Jacobina acreditava representar a religião evangélica e frequentemente espalhava as palavras da Bíblia, a qual conhecia do começo ao fim.

João, marido de Jacobina, atendia enfermos diariamente, recomendando tratamento através de chás e ervas, enquanto Jacobina os tratava com palavras bíblicas, o que rapidamente criou sua fama de curandeira ou milagreira.

Já as crianças, que representavam 30% da comunidade Mucker, recebiam educação religiosa diariamente e devido à carga de ensino, foram retiradas das escolas.

O desenrolar da revolta dos Muckers

Em 1873, após uma série de denúncias por parte da comunidade, Jacobina ficou internada na Santa Casa de Porto Alegre por alguns dias e seu marido ficou preso por 45 dias, sendo solto com o acordo de não realizar novas reuniões em sua casa. Os dias em que ficaram reclusos foram seguidos por uma série de ataques aos Muckers, com casas incendiadas, mortes de adultos e crianças.

(Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)(Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)

Sem a presença de seus líderes, muitos seguidores dos Maurer abandonaram a seita e por isso, foram atacados pelos adeptos vingativos. Além disso, diversos crimes como furtos e assassinatos foram creditados aos Muckers, o que causou a prisão de 32 fiéis.

Após mais de 20 dias de conflitos incessantes, o coronel Genuíno Sampaio chegou com suas tropas – curiosamente 150 voluntários alemães -, objetivando o fim dos conflitos, com a iminente derrota dos Muckers. Sua carta de visita foi um ataque inicial à região dos Muckers onde ficava a casa dos Maurer e nesse ataque aproximadamente 12 pessoas morreram, obrigando a fuga de alguns adeptos, incluindo as principais lideranças dos Muckers abaixo do casal Maurer.

Seguidos 34 dias de ataques, em 2 de agosto de 1874, o último reduto dos Muckers foi destruído, com 17 mortes, incluindo a de Jacobina. Seu marido fugiu e nunca foi encontrado.

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