Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars é a remasterização dos primeiros jogos da franquia de RPG da Konami. Eles têm como principal atrativo um visual remodelado, que mistura elementos nostálgicos, como personagens pixelados, junto a uma ambientação refeita para ficar com cara de geração atual.
O game chega para consoles e PCs preparando o terreno para a expansão da saga, que ganhará um título mobile inédito e um anime contando a história do segundo capítulo. Com isso, o relançamento chega para ir além da pura nostalgia: o pacote também pode ser considerado uma arma da Konami para conquistar novos jogadores, ou trazer de volta os fãs antigos para a franquia.
Mas será que a coletânea vale a pena? Agora é uma boa hora para entrar no mundo de Suikoden? Confira o review completo!
Uma história inspiradora e envolvente
Suikoden sempre foi um jogo que encabeçou as listas de melhores narrativas nos anos em que foi lançado — com os primeiros títulos chegando em 1996 e 1998, respectivamente. Mesmo que o game original tenha sido um dos primeiros RPG da geração 32 bits, sempre foi lembrado e revisitado pelos fãs do gênero, principalmente por quem buscava uma história para se envolver, ao contrário dos clichês de outros títulos da época.
No primeiro gamem assumimos o controle de um jovem guerreiro, cujo pai é reconhecido pelos seus feitos para o reino. Entretanto, assim que o mesmo começa a seguir os passos de seu pai, rapidamente ele descobre os verdadeiros planos malignos do reino em que vive. Agora, para combater o governo opressor, você vai comandar e liderar o Exército de Libertação, um grupo que, como o nome sugere, fará de tudo para ver o seu povo livre da ditadura atual.
Já o segundo jogo traz um enredo que se passa três anos após o final do primeiro título da franquia. Você assume o controle de um soldado do império que, junto ao seu amigo Jowy, descobre que o mesmo vem agindo para acabar com inocentes mesmo depois de terem assinado um tratado de paz. Diante de tamanha injustiça, ambos decidem abandonar seus postos e se aliar a grupos de rebeldes combatentes.
O bom da coletânea é que, caso você queira emendar um jogo após o outro, terá uma série de referências frescas, seja de personagens que aparecem logo no começo da história, como de eventos marcantes do primeiro game. Além de também ser uma boa preparação para o anime da franquia, que será focado justamente nos acontecimentos de Suikoden 2. Recém anunciada, a animação será a primeira grande produção da Konami Animation, mas ainda não possui uma data de lançamento e pode demorar para dar as caras no mercado.
Jogabilidade complexa e voltada para os nostálgicos
Quando o assunto é gameplay, Suikoden é puro suco dos RPGs da geração 32 bits. Assim como tantos e tantos outros games da época, ele traz elementos que foram padrões dos jogos daquela geração, como os combates em turnos, exploração quase ilimitada com mapas abertos, confrontos imprevisíveis, masmorras aos montes, etc. Ou seja, o que encontramos em Suikoden, também podemos encontrar em franquias como Final Fantasy, Chrono, Tales of, Phantasy Star, Lunar e muitas outras.
O grande problema é que esses mesmos elementos, para muitos jogadores hoje em dia, podem soar como arcaicos. Além disso, há fatores que complicam ainda mais o gameplay e deixam o jogo mais complexo. Por exemplo, é difícil encontrar um game recente do gênero que não tenha um sistema de localização de objetivos, ou uma outra forma de deixá-los claro para o jogador. Em games como Suikoden, há apenas os diálogos entre personagens, ou raramente uma informação mais precisa, necessitando vasculhar o mapa em busca do seu roteiro principal.
Um entre tantos exemplos foi em uma determinada missão, quando meu grupo decidiu que era melhor ir para uma certa cidade. No mesmo diálogo, um personagem pergunta: “e com quem falaremos ao chegar lá?”. E a resposta foi: “Não sei, vamos perguntar, pois a região é pequena!”. Ou seja, precisei ir atrás de cada um dos NPCs do vilarejo para enfim encontrar aquele que iria dar rumo à história.
Achou complicado? Pois então tente organizar e equipar os itens dos seus personagens. É simplesmente caótico, já que cada um deles possui uma determinada quantidade de espaços, que são usados tanto para suas armaduras, como para itens comuns, como de cura, etc. Em outras palavras, não há nada que facilite ou automatize funções simples como trocar sua armadura por uma melhor. É se acostumar com essa rotina, que, por sua vez, demora muito mais tempo do que deveria.
No entanto, esse tipo de mudança brusca na exploração e organização de itens poderia trazer grandes mudanças na experiência de gameplay, descaracterizando o que era entregue na época do lançamento original. Com isso em mente, talvez a Konami tenha optado por deixar as coisas como eram para entregar uma jogabilidade mais autêntica para os jogadores antigos — além de obviamente cortar custos de desenvolvimento. Por outro lado, a decisão também é meio contraditória, visto que o remaster seria uma ótima chance de modernizar a franquia e angariar novos fãs.
Por outro lado, vale notar que outras melhorias de “qualidade de vida” foram adicionadas ao remaster. Além dos aprimoramentos visuais, a coletânea traz suporte para salvamento automático, permite acelerar batalhas e também conta com um registro de conversas, o que pode ajudar na exploração do game.
Já os combates, como dito anteriormente, são realizados por turnos. A cada início de batalha você deve escolher qual oponente atacar, a ordem, e até mesmo se deseja usar algum item. Há formas de automatizar esses embates, mas isso tira completamente a graça do jogo.
Além disso, Suikoden não tem pena dos novatos. Isso porque o jogo traz uma dificuldade um tanto alta no começo, basta explorar o mapa logo no início da aventura para você ter uma noção do que te espera. Mas a boa notícia é que, conforme a história avança, os combates ficam mais justos (não necessariamente mais fáceis), principalmente para quem opta por evoluir sempre o mesmo grupo.
Uma curiosidade é que o game conta com um sistema de itens que ajudam a evoluir rapidamente seu personagem, e que dão outras vantagens. Quem comprou o jogo na pré-venda, ou a edição especial, assim que começa uma nova jogada pode escolher usá-lo no momento ou depois. A solução caiu como uma mão na roda, já que, como dito anteriormente, a dificuldade inicial do game é um pouco elevada.
Uma aula da remasterização
Suikoden I&II HD Remaster são um exemplo de como alguns clássicos do passado deveriam ser remasterizados. Isso porque o game soube balancear de uma forma digna a nostalgia com o mundo moderno, trazendo um visual com elementos que enchem os olhos e, ao mesmo tempo, sem perder as características principais do clássico.
A principal diferença fica em relação a ambientação do jogo. Em muitos cenários é possível notar o quanto os desenhos que compõem o plano de fundo foram caprichados, com direto a um belo efeito de sombra e luz para alguns elementos. Além disso, algumas cenas, como essa aqui embaixo de um luar sobre uma cachoeira, fez com que eu perdesse alguns segundos admirando o belo trabalho de remasterização.
Já os personagens, foram mantidos de forma pixelada. Entretanto, suas imagens, tanto nos diálogos como nos menus de configuração, também receberam um upgrade visual, dando um tom mais atual para suas faces. Além disso, as animações também tiveram uma atualização, mas foram mantidas em seus formatos originais.
Por fim, a interface dos menus também trouxe melhorias pontuais. A principal delas é uma organização mais ampla na tela, onde é possível, por exemplo, ver as estatísticas de pontos de experiência de todos os personagens ao final dos combates, o que antes era limitado a uma delas por vez.
Quase um Pokémon de aliados
A comparação com o jogo da Nintendo não é porque Suikoden possui criaturinhas para serem capturadas, mas uma enorme quantidade de aliados para se unirem à sua causa, ou seja, se juntarem ao seu grupo. Esse número passa facilmente de 100 personagens, o que torna a exploração do jogo única, já que você instintivamente coloca uma meta de descobrir todos os possíveis companheiros de causa.
Porém, a forma com que isso é feito tem seus altos e baixos. A parte boa é que você conta com tanta gente como opção que se torna quase inevitável não “testar” algumas formações. E para isso, é necessário vagar pelo mapa aberto em busca de combates, e ao mesmo tempo evoluir os novatos na equipe principal. E acredite, isso faz diferença, pois como dito anteriormente, o jogo possui uma dificuldade alta, e uma das melhores formas para contornar esses desafios é ter um grupo preparado para combates mais intensos.
Por exemplo, em boa parte da jornada, eu fiz questão de montar um grupo com três personagens de (literalmente) linha de frente, que por sua vez possuíam um ataque poderoso e muita energia para receber a grande maioria dos golpes dos inimigos. Já a fileira de trás da formação contava com dois personagens de ataques à distância, e um apenas para curar e remover maldições e envenenamentos, o famoso suporte.
Entretanto, até chegar a essa combinação ideal foi preciso testar dezenas e dezenas de combinações, sempre mapeando as vantagens e desvantagens de cada um. Para quem se envolve com o jogo, essa acaba sendo uma das melhores partes, e chega até mesmo a dar uma grande tristeza depois que o primeiro game acaba, já que o mesmo não é tão longo quanto o segundo.
Já a parte ruim é a forma com que esses aliados chegam ao grupo. Em um determinado momento, basta simplesmente conversar com um NPC do cenário para o mesmo se juntar ao seu time, ou até mesmo tentar comprar um item e o próprio balconista sair da função para combater o império com você. É tão fácil agregar personagens ao elenco que passa uma sensação estranha, talvez fosse necessário um desafio maior, como batalhar, e vencer esse personagem para que ele entre no seu grupo, ou realizar alguma tarefa específica.
O descaso com a nossa língua
O maior ponto negativo de Suikoden I&II HD Remaster é a falta de localização para o português aqui do Brasil. Por se tratar de um jogo que depende muito do diálogo, principalmente para se orientar sobre quais os próximos passos para concluir a história, é um verdadeiro descaso não ter a nossa língua entre tantas outras disponíveis.
A minha crítica não é apenas por ser brasileiro, mas sim por fazer parte de um dos maiores mercados do mundo. Entretanto, parece que, para a Konami, o nosso mercado não é tão importante assim, uma vez que, sem essa opção de linguagem, serão muitos aqueles que irão deixar o jogo passar batido. Afinal, ninguém é obrigado a saber um outro idioma para aproveitar um game tão dependente de seus muitos diálogos.
Vale ressaltar, também, que o remaster de Suikoden não é um caso isolado, pois a Konami já deixou outros pacotes de clássicos sem tradução para português brasileiro. Recentemente, a empresa não implementou nosso idioma em relançamentos como Castlevania e Yu-Gi-Oh! Early Days Collection, que chegou em fevereiro.
E o pior de tudo é que a tarefa de localização está longe de ser um trabalho árduo para a empresa. A prova disso é que, como toda certeza do mundo, algumas semanas ou meses depois do seu lançamento, não faltarão mods que farão essa tradução do jogo para o português.
Além disso, a própria Konami também investe em legendas em outros “grandes lançamentos, incluindo eFootball, Contra: Operation Galuga, Silent Hill 2 Remake e o futuro Metal Gear Solid Delta. Ou seja, a companhia claramente poderia fazer esse investimento, mas deve ter deixado a localização da coletânea de lado para cortar gastos.
Vale a pena?
Suikoden I&II HD Remaster é um presente para os fãs da franquia ou dos jogos de RPG que dominaram os consoles da era 32 bits. O pacote mantém os elementos tradicionais dos jogos, como exploração livre, combates em turnos e, principalmente, centenas de personagens para serem agregados ao seu grupo, mas agora com um visual atual que mistura nostalgia com atualidade.
Entretanto, há um enorme descaso em não ter o português brasileiro entre os idiomas disponíveis, já que é um jogo que exige tanto dos diálogos, seja para traçar os rumos da história, como para ser assertivo na hora de tomar decisões. Além disso, muitos elementos podem soar como arcaicos para jogadores mais novos, que estão acostumados com indicadores e elementos para te guiar na história principal. Porém, é aquela coisa: adotar essa modificações seria confortável, mas certamente tiraria a magia do passado presente nos títulos.
Nota Final: 90
Pontos positivos (prós):
- Visual mescla moderno e nostálgico
- Enredo envolvente
- A boa e velha jogabilidade de combates em turnos
- Dois jogos clássicos em um só
Pontos negativos (contras):
- Sem localização em português
- Muito complexo para jogadores acostumados com os RPGs atuais
- Masmorras muito lineares
Suikoden I&II HD Remaster já está disponível para jogar no PC e consoles. Uma cópia do game para computador foi disponibilizada para review.