Considerando o histórico de jogos da Obsidian no passado, não é de se espantar que tanta gente esteja esperando pelo novo título do estúdio. Avowed chega em 18 de fevereiro para expandir ainda mais o leque de RPGs da Microsoft, além de aumentar o catálogo do Xbox Game Pass Ultimate.
O game surgiu inicialmente como uma aposta de um RPG de ação nos moldes de Skyrim, mas a empresa rapidamente deu preferência a fazer algo próprio e mais alinhado com seus próprios projetos anteriores, focando mais em narrativa e em seus personagens. Depois de longos anos de espera, o resultado chegou agora nesse comecinho de 2025 e nós te contamos tudo o que achamos de Avowed no review logo a seguir!
Um single player vestido de MMO
Um rápido aviso antes de começar a falar do game em si: atualmente, eu estou usando a placa de vídeo RX 7700 XT da AMD e, infelizmente, Avowed rodou de forma muito estranha no meu PC, mesmo após eu ter mudado todas as configurações possíveis e ter atualizado os drivers. Por isso, eu tive que me contentar com os visuais que parecem ter saído direto do PS4, mesmo que todas as opções gráficas estejam no nível mais alto que o jogo oferece. Eu conversei com pessoas que rodaram o game com placas da NVIDIA e eles não tiveram esse mesmo problema, então deve ser algo específico e que só será consertado após o lançamento do jogo.
É claro que isso afetou a minha experiência, mas mesmo com os visuais tão precários, foi possível perceber a linda direção de arte que a Obsidian escolheu para Avowed. Os cenários, cidades, vegetação e inimigos se destacam bastante ao longo de toda a aventura e possuem uma boa variação entre diferentes partes do mapa. Falando nisso, é importante comentar que o jogo não é um mundo aberto tradicional, mas sim dividido em grandes zonas e regiões distintas.
Segundo a própria Obsidian, isso ajuda a dar um ritmo melhor à exploração e às escolhas que nós fazemos ao longo da história. Pessoalmente, eu não senti que isso foi um problema, mas às vezes os locais que eram abertos e os que exigiam uma tela de carregamento me passaram uma sensação que nunca foi embora: que era a de estar jogando um MMO em vez de um RPG single-player. Eu não digo isso necessariamente como algo ruim, especialmente porque já passei mais horas em diferentes MMOs do que eu gostaria de admitir, mas realmente é uma quebra de expectativa.
Isso se reflete em outros aspectos do jogo, que à primeira vista podem parecer pequenos, mas que se juntam e evidenciam demais essa sensação. Um exemplo mais óbvio que posso citar é o fato de muitas missões caírem no bom e velho “vá até lugar X e encontre pessoa ou objeto Y”, que geralmente resulta num boss local. Fora isso, muitos diálogos parecem superficiais, as expressões faciais são rígidas e até o nosso próprio protagonista parece um boneco de cera sem personalidade.
Também senti muita falta de pequenos elementos clássicos não só de RPGs no geral, como de jogos da própria Obsidian. Para ter noção, não há a opção de roubar objetos, sendo possível pegar qualquer item ou abrir qualquer baú que esteja disponível no cenário sem qualquer consequência. Além disso, tudo que você pode pegar fica brilhando para te mostrar que há uma interação ali, tirando parte da surpresa e curiosidade durante as explorações. Infelizmente, as opções de diálogo especiais relacionadas aos seus stats, como ter bastante força ou determinação, quase nunca parecem levar a conversa para outro rumo, sendo mais um enfeite do que outra coisa.
Isso me deixou meio confusa exatamente pela experiência tão positiva que tive com The Outer Worlds, por exemplo, mesmo que esse não seja um jogo que tenha agradado todo mundo. Talvez eu tenha ido com expectativas erradas em relação à Avowed, mas acredito que eu teria me divertido bem mais com uma experiência menos parecida com MMOs e mais imersiva.
O copo meio cheio
Falar sobre as coisas que menos gostei em Avowed pode passar uma impressão de que achei o jogo ruim, mas é claro que esse não é o caso. O game tem muitos pontos positivos e oferece uma experiência interessante quando você deixa suas falhas de lado. Alguns de seus pontos mais fortes são a exploração, o combate, suas quests mais complexas e a maneira que você sente que realmente está fazendo decisões mais significativas do meio para o final da trama.
Embora a exploração não seja favorecida pelo esquema dos itens destacados que já mencionei, os cenários e cidades são interessantes o suficiente para te manter interessado em ver tudo possível. Isso costuma ser recompensado com textos de lore, baús, pequenos puzzles e muitos lugares bonitos e diversificados. Outro ponto que ajuda nisso é a quantidade de regiões que você pode visitar ao redor do mapa, que eu não vou revelar exatamente para que você vá tendo essa surpresas aos poucos como aconteceu pra mim.
Em relação ao combate, eu posso dizer que não era muito fã dele no início do jogo, mas depois que subi mais de nível e vi suas possibilidades, fui mudando de ideia. É possível adquirir habilidades de diferentes classes tradicionais de RPG, então você pode fazer um guerreiro que carrega uma espada na mão e um tomo com magias na outra, por exemplo. As possibilidades são provavelmente muito maiores do que eu poderia experimentar no curto tempo que tive para jogar o game a tempo desse review, então não duvido que vocês verão diversas builds interessantes nos dias após o lançamento.
A única coisa que me incomodou um pouco quanto o combate é o grind necessário para subir de nível e conseguir equipamentos melhores para enfrentar certas batalhas em quests principais. Isso me fez sentir que eu tinha que fazer várias missões secundárias, mesmo quando não queria, só para ter algum progresso no que realmente me interessava. Talvez seja um problema de eu ter feito uma build mais fraca, mas não deixa de ter sido irritante.
Inclusive, eu imagino que se não fosse o grind, a duração do jogo poderia ser menor para quem focasse mais na trama principal. Eu diria que se fizer um misto da história e das missões secundárias, dá tranquilamente para zerar Avowed na casa das 30 e poucas horas, mas o jogo oferece mais conteúdo que isso se realmente preferir se aprofundar em seu mundo e suas quests.
A difícil vida de uma deidade
Falando em quests, acho que também vale a pena comentar sobre o enredo, personagens e companheiros que encontramos em Avowed. Eu não joguei os games da franquia Pillars of Eternity e não sabia nada sobre o seu mundo ou personagens, então admito que fiquei um pouco perdida em alguns momentos que envolviam o lore do universo, mas Avowed ainda fez um bom papel em explicar a maioria dos conceitos desse mundo compartilhado.
Sem dar spoilers, dá para dizer que nosso protagonista é uma deidade, um ser cuja alma foi tocada por um deus durante seu nascimento e, por isso, possui algumas características bem diferentes dos outros. Nós somos um dos últimos dessa espécie e um dos únicos que não sabem quem é a sua divindade, e saímos em missão nas Terras Férteis para tentar entender uma situação conhecida como “A Praga dos Sonhos”, que tem infectado e matado parte da população de diversas regiões.
No começo, eu achei a trama interessante, mas parecia que ela demorava a realmente se desenvolver ou ter desdobramentos significativos. Parte disso pode ter sido causado por ter tido que fazer muitas missões secundárias sem graça no meio, mas eventualmente o enredo pega no tranco e finalmente oferece decisões difíceis, a possibilidade de você estar sendo manipulado por mais de uma pessoa e as possíveis consequências do que você escolheu anteriormente.
Felizmente, as missões também vão melhorando com o tempo e é possível encontrar várias que são, de fato, divertidas e memoráveis. Isso vale especialmente quando algo envolve seus companheiros, que podem desaprovar ou aprovar suas ações e decisões. A parte negativa é que não achei que todos os companheiros são bem desenvolvidos ou tão interessantes, mas eles costumam ser úteis em batalhas e oferecem alguns diálogos engraçadinhos no meio tempo.
E só para não faltar, eu preciso mencionar que o jogo está localizado em português e a Obsidian ouviu seus fãs e adicionou um modo em terceira pessoa para aqueles que possuem pavor em jogar em primeira pessoa. A má notícia é que achei esse modo bem pior do que o normal, mas aí é algo que cai mais no gosto pessoal, então você pode preferir.
Vale a pena?
Sei que muita gente está esperando Avowed com grandes expectativas e tenho certeza de que, para muitas dessas pessoas, esse realmente vai ser um jogo muito bom e divertido. Para mim, foi uma experiência positiva, mas com diversas falhas, como vocês obviamente devem ter notado com essa análise. Acredito que o grande problema é o que se espera encontrar no game, já que eu esperava um RPG de ação single-player mais tradicional e encontrei algo muito mais voltado para ação e cujas mecânicas que me lembraram diversas vezes de um MMO.
Como o jogo estará disponível no Game Pass, você pode testá-lo à vontade se tiver uma assinatura e ainda estiver em dúvida se é um jogo que te agradaria. Como eu disse, eu acho que é um saldo positivo no geral, mas para mim, Avowed entra num meio termo tão grande com suas decisões que acaba se tornando bem menos memorável que os outros RPGs de ação que saíram nos últimos anos.
Nota do Voxel: 80
Pontos positivos:
- Direção de arte belíssima
- Regiões diversificadas e interessantes de explorar
- Combate tem inúmeras possibilidades
- O enredo e algumas ramificações são bem interessantes
Pontos negativos:
- Necessidade de grind para prosseguir na trama principal
- Falta de elementos tradicionais de RPGs mais imersivos
- Sensação de MMO mesmo sendo um single-player
Avowed foi cedido pela Xbox Brasil para a realização desta análise no PC. O jogo chega aos computador e Xbox Series S e X, diretamente no Game Pass, em 18 de fevereiro.