Uma pira funerária do final da Idade do Bronze (1150 a.C. a 950 a.C.), contendo restos mortais carbonizados e outros materiais, foi encontrada em Salorno, na região norte da Itália. Os detalhes sobre a rara descoberta foram publicados em um estudo na revista científica PLOS ONE no dia 18 de maio.

Escavada pela primeira vez em 1986, a plataforma de cremação conhecida como Salorno-Dos de la Forca tem sido estudada desde então. A análise bioantropológica dos mais de 60 kg de restos humanos, ossos e demais materiais achados por lá só terminou recentemente, revelando detalhes curiosos.

(Fonte: PLOS ONE/Reprodução)(Fonte: PLOS ONE/Reprodução)

Ao contrário de outros locais de cremação na Europa daquele período, onde os restos mortais eram armazenados em urnas e longe da área do ritual, em Salorno eles foram deixados a céu aberto, na própria plataforma, permanecendo intactos por milênios. Tal característica sugere uma abordagem bem diferente dos costumes da época.

Conforme as estimativas da pesquisa, entre 48 e 172 pessoas podem ter sido cremadas ali ao longo de 200 anos. Não há nenhuma pista em relação à identidade delas, mas acredita-se que pertenciam à elite italiana ou faziam parte de um grupo de famílias nucleares.

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Análise dos materiais

As escavações feitas no sítio arqueológico de Salorno revelaram em torno de 64 kg de restos humanos. Análises mais detalhadas de ossos e dentes preservados indicaram que pelo menos uma criança de seis anos e um adolescente de 13 anos foram cremados ali.

O estudo apontou também descobriu que a temperatura do fogo usado na técnica funerária pode ter ultrapassado os 700?°C. Essa informação foi revelada pela condição dos ossos achados no local, que tinham rachaduras específicas induzidas pelo calor e uma coloração esbranquiçada indicando a alta intensidade das chamas.

Fragmentos de ossos e crânios achados no local. (Fonte: PLOS ONE/Reprodução)Fragmentos de ossos e crânios achados no local. (Fonte: PLOS ONE/Reprodução)

Junto aos restos mortais estavam ainda partes de ossos queimados de animais e muitos materiais de bronze e cerâmica provavelmente utilizados nos rituais fúnebres. Vasos, xícaras, tigelas e copos são alguns deles, cuja análise também ajudou a identificar a época em que as cremações provavelmente ocorreram.

Alguns dos objetos encontrados costumavam ser usados em rituais de libação, quando líquidos são derramados em honra aos deuses. Depois disso, eles eram jogados na pira para serem cremados junto ao falecido, de acordo com a investigação.

“Lugar sagrado”

Coautora da pesquisa, a bioantropóloga da Universidade de Stony Brook (EUA), Federica Crivellaro, disse acreditar que Salorno-Dos de la Forca foi uma espécie de “lugar sagrado” para a comunidade. Diferente dos cemitérios contemporâneos, a pira permaneceu livre de saques e ações humanas ou naturais que poderiam destruí-la.

Os pesquisadores não têm ideia de como nem porquê o local foi preservado durante 3 mil anos. Os estudos que continuam acontecendo na região podem ajudar a decifrar tal mistério.

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