Um experimento inovador conduzido por pesquisadores da Universidade Fudan de Xangai, na China, permitiu que quatro pacientes paralisados voltassem a andar após a implantação de chips de elétrodo no cérebro e na medula espinhal, obtendo resultados superiores aos da Neuralink. Detalhes do estudo foram divulgados recentemente.
Descrita como a primeira “tecnologia de interface cérebro-coluna triplamente integrada” do mundo, a técnica possibilitou o restabelecimento das vias de comunicação entre essas duas partes do corpo que haviam sido rompidas devido a lesões na medula espinhal. Com isso, foi possível formar um “bypass neural” entre elas.

A interface cérebro-coluna (BSI) desenvolvida pelos cientistas chineses funciona diferente da interface cérebro-computador (BCI) utilizada pela empresa de Elon Musk, que conecta nervos danificados a membros robóticos. Nela, o foco está na reconexão do sistema nervoso, eliminando a dependência de dispositivos externos.
Os resultados foram surpreendentes, superando as expectativas da equipe responsável pelo estudo. Em um dos casos, o paciente recuperou o movimento das pernas cerca de 24 horas após a cirurgia de implantação dos chips no cérebro e na medula, demonstrando o sucesso da BSI.
Voltando a andar após dois anos

O paciente identificado como Lin foi um dos voluntários e se tornou o primeiro paraplégico total do mundo a restaurar a capacidade de andar por meio dos implantes, em uma cirurgia minimamente invasiva. Ele perdeu os movimentos das pernas dois anos atrás, ao cair de uma escada de 4 m de altura.
A queda resultou em ferimentos graves na coluna e hemorragia cerebral, além de ter levado ao corte da conexão neural entre o cérebro e a área da medula associada à caminhada, deixando suas pernas paralisadas. Desde então, o homem de 34 anos passou a ser usuário de cadeira de rodas.
Mas a situação de Lin começou a mudar a partir da cirurgia. Com o auxílio de inteligência artificial, os pesquisadores implantaram os eletrodos, realizando um desvio nervoso entre o cérebro e a medula espinhal, procedimento que aconteceu em janeiro e durou apenas quatro horas.
Cerca de 24 horas depois da cirurgia, o paciente já conseguia levantar as duas pernas e continuou evoluindo nos dias seguintes. Ao completar duas semanas do implante, ele conseguia superar obstáculos e andar por quase 5 m, enquanto no final de fevereiro passou a sentir os músculos das pernas se contraindo ao ficar de pé.
“Meus pés estão quentes e suados, e há uma sensação de formigamento”, relatou o paciente durante a consulta de acompanhamento. Ele também recuperou a sensação que indica a vontade de ir ao banheiro, perdida após a queda, mostrando que o procedimento de remodelação neural ofereceu uma restauração nervosa ainda mais profunda.
Como funciona o método chinês?

Assim como Lin, outros três voluntários receberam dois chips de eletrodos com 1 mm de diâmetro, cada, no córtex motor, região que cuida dos movimentos voluntários do corpo. Esses dispositivos minúsculos coletam e decodificam sinais neurais do cérebro do paciente, fornecendo estímulos elétricos para raízes nervosas específicas.
Com o estímulo da interface cérebro-espinhal, as conexões neurais dos pacientes estão se reconstruindo, possibilitando que eles controlem músculos paralisados sem auxílios externos. Além disso, a remodelação neural chinesa apresentou recuperação mais rápida do que uma pesquisa semelhante feita na Suíça, onde os efeitos foram observados seis meses após a cirurgia.
Operados nos dias 5 e 25 de fevereiro e 3 de março, os demais pacientes tiveram graus variados de recuperação, porém todos conseguiram voltar a andar. Segundo o professor Jia Fumin, líder do projeto, os nervos podem se reconectar e serem remodelados por completo se os voluntários tiverem um treinamento de reabilitação de três a cinco anos.
Marcando um avanço significativo da neurocirurgia na China, todos os dispositivos médicos do estudo foram produzidos no país que tem 3,7 milhões de pessoas com lesão medular. Com a evolução do processo, estima-se que os pacientes recuperem a capacidade de andar sem o apoio de suportes de suspensão em um período de seis meses a um ano.
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