Sabe aquela ideia machista de que existem mulheres que são para casar e outras não? Este preconceito, na verdade, tem nome: chama-se o complexo de Madonna-prostituta e foi categorizado por ninguém menos que Sigmund Freud, o pai da psicanálise.

O conceito foi identificado por Freud no início dos anos 1900 em alguns de seus pacientes do sexo masculino. Ele observava que estes homens heterossexuais categorizavam as mulheres como santas ou prostitutas. Com as primeiras, eles diziam amar e querer se casar e, com as últimas, eles desejavam fazer sexo — os dois papéis nunca eram intercambiáveis.

Sobre este complexo, Freud escreveu em 1925: “a quem estes homens amam, eles não têm desejo, e a quem desejam, não podem amar”. A origem desta sensação masculina estaria, segundo o psicanalista, na ligação com sua mãe.

O funcionamento do complexo Madonna-prostituta

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Nesse complexo, segundo os estereótipos compartilhados socialmente, os traços reconhecidos como femininos jamais poderiam estar conjugados com o aceite da própria sexualidade. Dito de outro modo, mulheres que são gentis, compreensivas e doces não poderiam ser sexualmente empoderadas.

Ou seja, esta ideia aprisiona os homens a sempre enxergar suas parceiras em um padrão impossível e redutor. Já as mulheres são estimuladas a se privar de sexualidade e de seu direito ao prazer se quiserem firmar algum tipo de compromisso com homens. Vale lembrar que este ideal dicotômico, separando “santas” e “prostitutas”, nunca é aplicado da mesma forma para eles.

De acordo com o que escreveu Freud, a consequência inevitável deste complexo é a erosão do desejo, pois mesmo que uma relação heterossexual inicie-se pela paixão, à medida em que ela se aprofunda, o erotismo tende a se esvair. Ou seja, quando a mulher que um homem deseja se transforma na santa (ou seja, na Madonna, em referência à mãe de Cristo), ele não consegue mais excitar-se por ela.

As causas do complexo

(Fonte: DEA/G. DAGLI ORTI/Getty Images)(Fonte: DEA/G. DAGLI ORTI/Getty Images)

As razões pelas quais esta divisão afetiva e sexual ocorre no inconsciente masculino podem ser diversas. Sigmund Freud buscou explicar o complexo com base no mito grego de Édipo, que funda boa parte do pensamento psicanalítico. A história mitológica entre Édipo (que é abandonado por seu pai por conta de uma maldição e acaba matando-o e casando-se com sua própria mãe, Jocasta) explicaria a ansiedade de castração que atinge os homens e evita que se atraiam por mulheres que, supostamente, são puras e perfeitas, como assim seriam as suas mães.

Esta separação, segundo Freud escreveu, faz com que “toda a esfera de amor em tais pessoas permaneça dividida nas duas direções personificadas na arte como sagrada e profana”. Deste modo, para lidar com esta ansiedade, os homens categorizariam as mulheres em dois grupos: aquelas que admiram e respeitam, e aquelas que eles desejam sexualmente, mas desprezam.

O psicanalista Richard Tuch foi mais além: ele ofereceu a ideia de que esta cisão não ocorre por conta da ansiedade da castração, mas por um ódio primário dos homens em relação às mulheres, que nasceria da frustração da criança que foi decepcionado pela sua mãe. Quando adultos, os homens tentariam se vingar das mulheres, que substituem a sua mãe, por meio de maus-tratos a elas.

Já a filósofa Naomi Wolfe, em seu livro O Mito da Belezaopina que a revolução sexual, ao invés de amenizar este complexo, acabou por acentuar a separação entre virgem e prostituta, fazendo com que as mulheres sejam vistas como encarnações das piores facetas destes dois lados.

Independente de quais sejam as interpretações sobre estes fenômenos, o fato é que as principais vítimas seguem sendo as mulheres, que não podem apresentar-se como sujeitos completos aos seus parceiros. Não há soluções fáceis para esta questão, uma vez que são ideias implantadas no inconsciente coletivo. Mas, se você é um homem e se identificou com este texto, seria interessante conversar com um terapeuta.

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