A pequena cidade de Bad Dürrenberg, na Alemanha, sempre foi conhecida por suas águas termais e por ser situada em uma bela região perto de um penhasco com vista para o Rio Saale. Mas em 1934, uma descoberta alterou o que se sabia sobre esta pacata localidade.
Foi nessa época que trabalhadores que instalavam canos em uma das fontes termais encontraram um monte de terra vermelha. Com a coordenação de um arqueólogo chamado Wilhelm Henning, os funcionários começaram a cavar e encontravam várias relíquias, como lâminas de sílex, conchas de mexilhões, restos de corças e presas de javalis.
Descobria-se por fim um esqueleto colocado lá como se estivesse sentado em um poço raso. Tratava-se dos restos de uma poderosa mulher xamã, que teria morrido com idade entre 25 e 40 anos.
Os achados arqueológicos de Bad Dürrenber
Entre os achados localizados dentro desse túmulo, estava também um segundo crânio minúsculo que teria pertencido a uma criança com menos de um ano de idade, e que estava situada entre as coxas do esqueleto adulto. No entanto, o bebê não era filho da mulher enterrada, e sim um parente seu de quarto ou quinto grau. Outros itens incluíam chifres de um veado que ainda estavam presos a uma parte do seu crânio, e que pareciam ser adereços de um cocar.
Todos os artefatos levaram o arqueólogo a assumir que o túmulo era de um fazendeiro neolítico. Mais tarde, ele e sua equipe mudariam de opinião. Passaria então a existir um longo debate mantido por décadas sobre o que indicariam os restos mortais de Bad Dürrenberg, e diferentes pesquisadores desenvolveram novas teorias.
Na década de 1950, estudiosos conseguiram reexaminar o esqueleto e, com base no formato da pélvis e de outros ossos, sugeriram que ele pertenciam a uma mulher. Os adereços que estavam junto dela — além do cocar de chifres, havia lâminas, conchas de mexilhão e presas de javali, conchas de tartaruga e ossos de pássaros — sugeriam que o seu sepultamento teria sido algo muito especial.
Assim, consolidou-se a ideia de que aquele túmulo era excepcionalmente rico para o período a que remetia, durante a época dos caçadores-coletores mesolíticos que viveram entre 12.000 e 6.000 anos atrás.
A xamã de Bad Dürrenberg
Um dos artefatos mais valiosos encontrados em 1934 em Bad Dürrenberg é o cocar da xamã, encontrado no seu túmulo repleto de pó de ocre vermelho. Ele consistia em pelo menos 50 pingentes feitos de dentes de vaca, bisão e veado.
O esqueleto dessa mulher também foi considerado particular: sua primeira vértebra cervical, que conecta a coluna ao crânio, possuía formato irregular e era parcialmente fundida, sugerindo uma anomalia óssea que pode ter causado sensações anormais em sua pele, como a de estar com formigas rastejando em seus membros, além de movimentos oculares involuntários.
Tudo isso pode ter ajudado que ela fosse considerada especial. Por fim, uma análise genética revelou que ela provavelmente tinha uma pele relativamente escura, com cabelos lisos escuros e olhos azuis.
De acordo com os especialistas do State Office for Heritage Management and Archaeology Saxony-Anhalt, a mulher deve ter sido uma xamã ou uma curandeira espiritual — ou seja, alguém que teria o poder de fazer a ponte entre o mundo dos vivos e dos mortos, além de curar doenças. Por conta disso, eles reconstruíram o seu cocar usando referências do xamanismo que existia então na Sibéria e em outros lugares do norte da Eurásia.
A descoberta foi muito surpreendente e situou essa personagem como alguém muito marcante na história da arqueologia. Considera-se que a chamada xamã de Bad Dürrenberg foi uma das últimas caçadoras-coletoras mesolíticas que viveram na Europa antes do tempo em que os povos começaram a adotar a agricultura, fazendo com que as pessoas ficassem mais sedentárias.
Acredita-se que ela possa ter vivido em uma floresta de bétulas onde buscava animais de caça desaparecidos, tarefa que executava usando o seu cocar e uma máscara com os quais assumia a forma de um animal espiritual, como uma corça.
Por fim, as descobertas também sugeriram que a mulher provavelmente morreu por conta de um abscesso dentário que se espalhou, o que provocou múltiplas infecções em seus seios nasais e acabou a matando.
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