Em um ano particularmente “produtivo” para a arqueologia egípcia, mais uma enorme tumba de faraó foi desenterrada em uma necrópole pouco mais de um mês após o anúncio da descoberta da sepultura perdida de Tutmés II. Mas enquanto o governante da XVIII dinastia teve seu nome confirmado, o ocupante do túmulo atual não foi identificado.
Segundo um comunicado do Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito, a descoberta foi feita por uma equipe arqueológica egípcia-americana na necrópole da Colina de Anúbis, no sul do país, no sítio arqueológico de Ábidos. A antiga cidade era um importante centro religioso especialmente ligado ao culto de Osíris, o deus dos mortos, do submundo e da ressurreição.
Estimada pelos pesquisadores como tendo 3,6 mil anos, a tumba foi encontrada na base de um alto penhasco desértico, a quase sete metros de profundidade. Conhecida como local de sepultamento para os primeiros faraós, Ábidos fica perto da moderna cidade de Sohag, localizada no Alto Egito, na margem esquerda (oeste) do rio Nilo.
Como é a tumba do faraó desconhecido?

A tumba recém-descoberta em Ábidos apresenta características impressionantes, com uma entrada decorada, múltiplos cômodos e abóbadas de tijolos de barro com quase cinco metros de altura. As paredes são adornadas com cenas pintadas das deusas Ísis e Néftis, o que adiciona mais valor histórico e arqueológico à descoberta.
Semelhanças com a tumba de Seneb-Kay, encontrada em 2014, levaram os arqueólogos a acreditar que o faraó ainda desconhecido pode ter pertencido à dinastia “perdida” de Ábidos. Mas, como foi saqueada ao longo dos séculos por ladrões de túmulos, a tumba perdeu grande parte de seu conteúdo original, incluindo um recesso destinado a jarros canópicos, destinados a armazenar órgãos, agora completamente vazio.
O que mais frustrou os pesquisadores, no entanto, foi que, além de espoliar, os ladrões de túmulos tornaram ilegível o nome do governante sepultado. “Eles causaram danos suficientes à decoração para que agora tenhamos apenas a base do que seriam as colunas de texto de identificação”, explicou ao The New York Times o líder do lado americano da expedição, Josef Wegner, curador do Penn Museum da Filadélfia.
Como era o Egito na época da construção da tumba do faraó desconhecido?

Estima-se que a tumba derive do Segundo Período Intermediário, que durou de 1630 a 1540 a.C., e foi marcado por uma complexa divisão política no Egito. No Baixo Egito (Norte), os hicsos (“governantes de terras estrangeiras” em grego) estabeleceram seu domínio, trazendo contribuições culturais e tecnológicas, como a introdução do cavalo e da carruagem. Esses invasores asiáticos transformaram profundamente a parte norte do Antigo Egito.
Enquanto isso, o Alto Egito, na parte sul do país, era governado por uma dinastia local de reis que acabaram sucumbindo à invasão dos hicsos. A falta de registros históricos tornava a chamada dinastia de Ábidos um mistério, até a descoberta da tumba do rei Senebkay em 2014, que ofereceu um raro vislumbre sobre aquele período da história egípcia.
Para Wegner, foi uma era caracterizada por intensa instabilidade política e econômica, dominada por “faraós guerreiros” em constante conflito. Nesse cenário, líderes como Senebkay possivelmente morriam em combate. Paradoxalmente, esse período turbulento serviu como um “laboratório” para o Novo Reino, que fez do Egito uma potência regional.
Implicações da descoberta da nova tumba

Para Wegner, “as novas descobertas sugeriram que a dinastia de Ábidos não foi uma espécie de fenômeno passageiro onde você tem um punhado de reis se separando do território original a que pertenciam”, explicou ele ao The New York Times. Mesmo sem ter seus nomes conhecidos, “o uso do título de “rei” sugere que eles tinham aspirações a algo maior”, conclui o arqueólogo Matthew Adam, que não participou da pesquisa, à publicação americana.
Wegner indica que dois reis que deixaram monumentos em Abidos, Senaiib e Paentjeni, são elegíveis para terem sido os ocupantes da tumba recém-descoberta, uma vez que os seus locais de sepultamento permanecem até hoje desconhecidos.
Em sua declaração, o curador do Penn Museum assume dois compromissos importantes: gerenciar e proteger o local arqueológico descoberto e continuar escavando a área em busca de outras tumbas. “É sempre nosso sonho encontrar uma que esteja intacta ou parcialmente intacta”, afirma o arqueólogo. “Ainda pode haver tumbas como essa”.
O que você achou da descoberta de duas tumbas de faraós no período de um mês, depois de mais de cem anos decorridos da descoberta da múmia de Tutancâmon? Comente em suas redes sociais e compartilhe essa matéria com seus amigos e seguidores.