Se o famoso museu de cera Madame Tussauds, em Londres, se tornou um ponto turístico e parte da cultura, foi porque Marie Tussaud, nascida em 1º de dezembro de 1761, em Estrasburgo (leste da França), não teve uma juventude comum.

Em vez de aulas de piano e costurar roupas, como era a realidade de muitas jovens da sua idade, ela preferiu passar seu tempo vendo o Dr. Phillipe Curtius, um médico anatomista e ceramista para o qual sua mãe trabalhou como governanta e que praticamente a adotou, aprendendo técnicas de modelagem. Apesar de os boatos serem muitos, ninguém sabe ao certo se Tussaud era apenas uma pupila do homem ou se havia algum laço consanguíneo, fruto de um relacionamento às escuras com sua mãe.

De qualquer forma, parece que o talento com as mãos que Curtius tinha foi transferido para a garota, que viu vários cidadãos influentes de Paris entrarem e saírem da loja de cera do homem ao longo de toda a sua infância e juventude. 

Aos 16 anos, Tussaud já ouvia do homem que seria o futuro da arte de fazer esculturas, e ele estava certo, embora nem fizesse ideia que ela teria que enfrentar percalços perturbadores assim que consagrou o início de sua carreira com sua primeira escultura: o rosto do filósofo Voltaire.

Sobrevivendo por pouco

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

A tendência das estátuas de cera e a demanda por elas, cresceu exponencialmente no século XVIII, e Tussaud passou todo o seu tempo produzindo o máximo de esculturas que conseguiu, ansiosa para se destacar — o que não demorou muito.

Os membros da realeza ficaram maravilhados com seu talento, a tal ponto que ela foi contratada pela princesa Elizabeth da França, irmã de Luís XVI, chegou para que ensinasse a arte da cerâmica a ela, se tornando sua conselheira e confidente. Mas, o que deveria ser o começo de um estrelato, quase foi sua ruína.

Em 12 de julho de 1789, dois dias antes da queda da Bastilha iniciar a Revolução Francesa, várias figuras de cera representando aristocratas e membros da família real, feitas por Curtius, foram roubadas e carregadas pelas ruas de Paris durante protestos contra a monarquia. 

Tussaud foi acusada de apoiar o monarquismo por trabalhar para a realeza, sendo jogada em uma masmorra após ter a cabeça raspada como preparação para execução em guilhotina.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Assim que soube do estado de Tussaud, Curtius convenceu os revolucionários de que ela era, na verdade, uma defensora de ideais liberais, mostrando algumas de suas figuras de cera guardadas que apoiavam sua alegação.

Tussaud não só foi liberta como empregada pelo novo regime para usar sua aptidão extraordinária para confeccionar máscaras mortuárias daqueles que eram guilhotinados na revolta, expondo-as no salão de Curtius. Rapidamente, os manequins fantasiados com cabeças falsas se tornaram mais do que uma tendência, mas um protesto político da época.

Sangue e cera

(Fonte: History Collection/Reprodução)(Fonte: History Collection/Reprodução)

Além de o trabalho exigir atenção, habilidade artística e muita paciência, também requeria que a mulher tivesse estômago para pegar as cabeças, por vezes ainda quentes, logo que eram arrancadas dos corpos. O que ela fazia beirava o grotesco e, ironicamente, cruzava com sua árvore genealógica, visto que a maioria dos homens de sua família foram carrascos. No livro Madame Tussaud and the History of Waxworks, a escritora Pamela Pilbeam detalha que a mulher se sentia suja com as cabeças ensanguentadas em seu colo para colher as expressões e traços quando a vida mal havia abandonado o corpo.

Até que, se valendo dessa sua aptidão que todos exaltavam e a tornava única, em 1802, aos 40 anos, ela decidiu buscar fazer fortuna fora da França, deixando para trás um marido esbanjador, dois dos três filhos e o negócio dilapidado deixado por Curtius. Ela viajou por 20 anos entre a Inglaterra e Escócia, aproveitando de todas as tendências e modas para criar modelos de cera como ninguém viu.

(Fonte: National Geographic/Reprodução)(Fonte: National Geographic/Reprodução)

Já com 74 anos, Tussaud decidiu se estabelecer em um local permanente, escolhendo a Baker Street, na Londres da década de 1830. Foi lá que ela encontrou o sucesso que sempre procurou, entrando para História com suas esculturas macabras, seus autorretratos e qualquer outro tipo de representação que não deixava de ser realística a ponto de as pessoas se questionarem se estavam olhando para algo vivo ou não.

Marie Tussaud faleceu em 1850, aos 88 anos.

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