Durante os últimos anos Guerra Fria, soldados da antiga União Soviética se instalaram em zonas remotas da Polônia, onde foram enviados com suas famílias para preservarem um segredo perigoso por baixo das áreas silvestres. Por muito tempo, as bases militares de Podborsko, Templewo e Brzeznica Kolonia abrigaram dezenas de pessoas e transmitiram a ilusão de uma vida pacífica na região, mas sem revelar que hospedavam ogivas nucleares muito mais poderosas que as de Hiroshima e Nagasaki.

Excluídas dos livros de história, as bases militares foram construídas durante a década de 1960, como uma tática da URSS para atuar rapidamente contra a OTAN, caso a aliança intergovernamental decidisse atacá-la. E embora a Polônia estivesse pagando para construir os locais de armazenamento, seu povo não tinha ideia de que o país abrigava centenas de ogivas controladas pela União Soviética. 

(Fonte: BBC / Reprodução)(Fonte: BBC / Reprodução)

Estima-se que mais de 140 soldados moraram nas instalações, controlados e armados sob controle da república do leste europeu. Com o tempo, mais cidadãos foram chegando às bases e estabeleceram sua nova moradia, levando um estilo de vida cotidiano e repleto de coisas efêmeras, como se o cenário não passasse de uma pacata, receptiva e desenvolvida cidade interiorana. Porém, essa tática seria apenas a apólice de seguro dos generais.

(Fonte: BBC / Reprodução)(Fonte: BBC / Reprodução)

Décadas depois, Grzegorz Kiarszys, arqueólogo da Universidade de Estetino, na Polônia, utilizou fotos aéreas, varredura a laser, pesquisas de campo, imagens de satélite desclassificadas e documentos da CIA para descobrir a história do “projeto super-secreto”. Intitulada de “Vístula”, a iniciativa acabou contando muito mais do que se propunha e revelou facetas que não apareciam em nenhum registro oficial, incluindo evidências de que mulheres e crianças moravam lá.

A descoberta, o abandono e o passado

Os documentos sobre o programa desapareceram completamente depois que foram entregues à URSS no final de 1969, e apenas em 1991, com a retirada da nação, o povo polonês soube que seu país havia abrigado incontáveis armas nucleares. “Foi um choque”, disse Kiarszys. “Foi-nos garantido pelos governos soviético e polonês que nunca houve uma arma nuclear no território da Polônia. A ideia em si era maluca. Mas era assim que os generais soviéticos acreditavam que a guerra na Europa iria acontecer”.

(Fonte: BBC / Reprodução)(Fonte: BBC / Reprodução)

Após o abandono das bases, as regiões tornaram-se aterros históricos. O lixo é “completamente diferente” do que seria encontrado em depósitos tradicionais e revela sapatos de marca do Ocidente, peças de Lego, velhos pedaços de uniforme em decomposição, embalagens de doces, patos de borracha e telefones de brinquedo. Para a arqueologia, o fenômeno ficou conhecido como mais um caso de garbologia, estudo que permite identificar padrões de vida a partir da análise de itens descartados.

(Fonte: BBC / Reprodução)(Fonte: BBC / Reprodução)

Para Kiarszys, compreender o passado de quem vivia nas antigas bases é descobrir coisas que não foram registradas em documentos oficiais. Esses fragmentos escondidos poderiam desenvolver a história da Guerra Fria e colaborar com o estudo sobre conflitos modernos, realizando paralelos com eventos que há muito tempo foram arquivados. À medida que a Guerra Fria recua na memória, seus restos físicos desaparecem lentamente.

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