A Terra é formada por seis continentes, incluindo a África, América, Antártida, Ásia, Europa e Oceania — em países de língua inglesa são sete continentes, pois eles dividem América do Norte e América do Sul.
Além dessas grandes massas de terra, há inúmeras ilhas espalhadas pelo planeta. No Brasil, especialistas estimam que existem mais de mil ilhas catalogadas; a maioria delas não tem grande dimensão.
Um estudo recente, publicado na revista científica Nature, revela que pesquisadores da Universidade de Utrecht (UU), na Holanda, identificaram duas formações gigantescas subterrâneas parecidas com ilhas. Elas são tão grandes quanto alguns continentes e estão escondidas em áreas extremamente profundas, no manto da Terra.
Os resultados sugerem que essas estruturas são extremamente antigas, com origem estimada em aproximadamente de meio bilhão de anos. Talvez muito mais.
A pesquisa descreve duas “ilhas” do tamanho de continentes, com temperaturas mais altas que o cemitério de placas tectônicas ao seu redor. Em um comunicado oficial da Universidade de Utrecht, os cientistas destacam que esses achados contradizem a teoria atual, que descreve o manto terrestre como uma região de fluxo rápido e altamente misturada. Os dados sugerem que esse fluxo é menor do que era esperado.
O cemitério de placas tectônicas é uma área onde placas subduzidas afundam no manto terrestre devido ao processo de subducção. Nesse fenômeno, uma placa desliza sob outra e ‘mergulha’ em direção às camadas mais profundas da Terra.
O estudo foi baseado na análise de vibrações sísmicas geradas por terremotos ao redor do planeta. Ao examinar possíveis desvios nessas ondas, os pesquisadores identificam áreas onde elas podem ter sido refletidas ou alteradas. Esse processo permite mapear estruturas internas da Terra e entender suas formas ocultas nas profundezas.
“Mas ninguém conseguia explicar realmente o que eram, ou se eram um fenômeno temporário, ou se estavam ali há centenas de milhões ou mesmo bilhões de anos. Ao redor dessas duas ilhas gigantescas, há um “cemitério” de placas tectônicas e foram trazidas da superfície da Terra a uma profundidade de quase três mil quilômetros por subducção, o processo pelo qual uma placa tectônica mergulha sob a outra”, disse o sismólogo e professor da UU, Arwen Deuss.
Manto e placas tectônicas
A teoria atual sobre a formação das placas tectônicas explica como os continentes se deslocaram ao longo de bilhões de anos e moldaram a Terra como a conhecemos hoje. No passado, o planeta tinha uma configuração muito diferente, como na era da Pangeia, quando todas as massas terrestres formavam um único supercontinente.
Antes dessa ideia, a teoria mais aceita era a do geólogo alemão Alfred Wegener, que propôs a deriva continental. Mas na época, seu modelo não considerava a existência de placas tectônicas e nem explicava o mecanismo do movimento dos continentes.
Os cientistas estimam que existam entre 12 e 14 placas tectônicas principais, essenciais para a dinâmica interna da Terra — outros especialistas sugerem que há mais de 20. Algumas possuem apenas centenas de quilômetros, enquanto outras se estendem por milhões de quilômetros.
Para entender esse processo, imagine o planeta como uma imensa esfera rochosa repleta de fissuras. Essas fissuras representam as placas tectônicas, que se deslocam impulsionadas pelo movimento do material rochoso que se desloca de forma lenta devido ao calor interno da Terra.
As placas tectônicas fazem parte da litosfera, uma pequena porção da estrutura colossal da Terra, que se divide em quatro camadas principais: crosta, manto, núcleo externo e núcleo interno. O manto, que se estende por cerca de 2.900 km, é subdividido em superior e inferior, composto por rochas sólidas, mas com fluxo que permite o movimento das placas.
Assim, por meio das ondas sísmicas geradas por terremotos e pequenos tremores, os cientistas analisam como essas vibrações se propagam no interior da Terra. Esse método é essencial para estudar suas camadas, já que não existe tecnologia capaz de perfurar até essas profundezas para observação direta ou coleta de amostras.
‘Ilhas’ do tamanho de continentes
Por meio da análise das ondas sísmicas, os pesquisadores do novo estudo conseguiram criar um tipo de mapa do interior da Terra e identificar as gigantescas “ilhas”. Vale destacar que essas estruturas subterrâneas não foram observadas pela primeira vez agora; no século XX, já haviam sido detectadas, mas os cientistas não conseguiram explicar sua origem na época.
A equipe afirma que as ‘ilhas’ estão localizadas na fronteira entre o núcleo externo e o manto, em uma região conhecida como Grandes Províncias de Baixa Velocidade Sísmica (LLSVPs). Nessas áreas, as temperaturas são mais altas e isso faz com que as ondas sísmicas se movam mais devagar ao atravessá-las – quanto mais quente, mais as ondas são amortecidas.
Contudo, as observações mais recentes mostraram um resultado inesperado: houve pouco amortecimento das ondas nas LLSVPs. Em contraste, o amortecimento foi bem mais significativo no cemitério de placas tectônicas. Já no manto superior, como previsto, as altas temperaturas fizeram com que as ondas sísmicas perdessem ainda mais energia ao atravessar a região.
Inicialmente, os pesquisadores acreditavam que o amortecimento das ondas sísmicas nas LLSVPs ocorria apenas devido às altas temperaturas. No entanto, perceberam que a temperatura sozinha não explica essa absorção de energia.
Por isso, também analisaram o tamanho dos grãos minerais nessas regiões. Eles perceberam que os pequenos grãos criam fronteiras entre si, e cada vez que uma onda sísmica atravessa essas fronteiras, parte de sua energia é absorvida. Esse fator pode ajudar a explicar por que algumas áreas dissipam mais energia do que outras.
Os investigadores acreditam que os grãos nas LLSVPs são muito maiores, por isso a energia passa mais “tranquilamente” por lá; já no cemitério de placas, os grãos são realmente pequenos.
“Grãos menores também significam uma quantidade maior de grãos e, portanto, mais transições entre grãos. E como também há mais transições entre os grãos dentro do cemitério de placas tectônicas frias, vemos muito amortecimento ali, porque a cada transição uma vibração perde um pouco de sua energia. O fato de os LLSVPs apresentarem pouca atenuação significa que eles devem consistir em grãos muito maiores”, disse a especialista em minerais, Laura Cobden.
Movimentos nas profundezas da Terra influenciam desde a atividade sísmica até a formação de novas paisagens ao longo de milhões de anos. Quer saber mais? Aproveite para entender como o manto da Terra moldou a topografia da superfície. Até a próxima!