Sim, é possível promover alterações genéticas em fetos antes que eles nasçam. Ao menos é o que estudos como da equipe da Universidade da Califórnia, Davis, tem demonstrado. A ciência tem progredido no desenvolvimento de estratégias genéticas para uso terapêutico, melhorando tecnologias e promovendo avanços significativos.
Mas pode não ser exatamente como você está pensando. Para que de fato haja uma alteração genética nesses embriões, eles precisam ser “abordados” em fases críticas do desenvolvimento intrauterino em uma inoculação direta.
Achou interessante? Vem que a gente te conta o restante dessa história que pode modificar o modo como enfrentamos síndromes do neurodesenvolvimento.
Matemática da vida
Para que os nossos corpos possam ser formados, uma matemática básica é necessária: 23 cromossomos são herdados do seu pai, enquanto outros 23 são herdados da sua mãe, somando os 46 cromossomos que constituem todo organismo humano.
Contudo, algumas alterações podem ocorrer pelo caminho, somando ou diminuindo alguns desses cromossomos. Em casos de adição temos as síndromes trissomiais, como a Síndrome de Down, atualmente nominada apenas como Trissomia do 21, Síndrome de Edwards, Síndrome de Patau, entre outras.
Mas assim como ocorrem adições, também podem ocorrer subtrações, como na Síndrome de Algeman, onde o par do cromossomo 15 pode estar ausente. Essas deleções acarretam falta de informações genéticas cruciais para o bom desenvolvimento dos embriões.
Em geral, as aneuploidias implicam no excesso ou falta de informações genéticas que interferem no neurodesenvolvimento dos bebês da concepção à vida extra uterina.
Contudo, ainda que a matemática da vida esteja, aparentemente, completa, algumas deleções genéticas podem ser herdadas, ocasionado, genes “defeituosos” que são pouco eficientes no seu trabalho de sintetização de proteínas e manutenção da vida. Nossas sequências de genes podem apresentar falhas, fazendo com que alguns tipos de proteínas e enzimas não sejam produzidas ou possuam baixa ação.
Todavia, e se houvesse um modo de silenciar ou estimular o desenvolvimento genético correto? Algumas dessas síndromes podem ser detectadas por meio de exames laboratoriais, com os bebês em fase de desenvolvimento intra-uterino.
Essa janela de oportunidade poderia ser utilizada para tratamentos genéticos em prol de uma minoração dos efeitos ocasionados pela matemática, nem sempre tão exata, da nossa herança gênica.
Delivery Genético
Tentando responder a alguns desses questionamentos, uma colaboração entre pesquisadores da Universidade da Califórnia, Davis, realizou testes com camundongos que simulam a Síndrome de Algeman.
Esses animais são manipulados geneticamente para nascerem com uma deleção do cromossomo 15, assim como as pessoas que apresentam a síndrome. Em testes com embriões ainda no útero de suas mães, os pesquisadores realizaram algo bastante interessante.
Eles utilizaram uma nanopartícula lipídica contendo informações de RNA mensageiro, em uma injeção intracerebroventricular, inoculando os componentes diretamente no cérebro dos embriões de camundongos dentro do útero de suas mães.
Os testes demonstraram que uma boa parcela das células-tronco do embrião, aproximadamente 30%, apresentaram uma boa resposta aos componentes, gerando uma maior proliferação de células saudáveis e fazendo com que as células menos aptas fossem descartadas.
Em uma comparação bastante simplista, é como se colocássemos fermento no bolo, depois que ele já está no forno. Ainda que o resultado não seja perfeito, o seu bolo sairia menos embatumado.
Além disso, as células-tronco alvo eram pluripotentes, contribuindo para o desenvolvimento de outros tecidos, além do tecido cerebral mais próximo do ideal. Mesmo após o nascimento, essa “injeção gênica” demonstrou continuar agindo nos corpos dos roedores.
Esperança e desafios
O experimento é inovador, pois em um primeiro ponto, os experimentadores foram capazes de desenvolver tecnologia suficiente para que a nanopartícula de entrega fosse pouco tóxica, não gerando inflação do tecido receptor.
Sendo assim, o segundo objetivo pôde ser alcançado, pois as chances de sucesso aumentam, já que o corpo não irá “atacar” o ingrediente extra, colocado para completar a sequência em falta, provocando o resultado desejado, com uma boa taxa de sucesso.
Contudo, apesar do aparente sucesso, ainda existem muitos desafios pela frente até que o experimento possa ser replicado em humanos.
Impasses como desafios bioéticos, acesso aos exames pré-natais com detecção precoce de síndromes, dentre tantos outros desafios, ainda se encontram no caminho para o desenvolvimento de terapias gênicas em prol de um sistema de prevenção de agravos.
Assim, ainda há um longo trajeto a ser percorrido até que este estudo, e outros em desenvolvimento em diferentes laboratórios, possam trazer resultados mais robustos e confiáveis.
Até lá, você pode se inteirar mais do campo lendo sobre como a Genômica pode ser um caminho promissor em um futuro não tão distante. Se você gosta de conteúdos sobre genética, ciência e pesquisas, continue acompanhando a TecMundo e nos conte o que mais você quer ver por aqui.