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A poluição por chumbo diz respeito à liberação de chumbo no meio ambiente, o que pode ocorrer por meio da queima de combustíveis fósseis, mas também de outras formas. Ela é gravemente danosa tanto para o planeta quanto para os seres humanos.

Os efeitos dessa contaminação são tão extensos que podem ter provocado, inclusive, o fim de civilizações, incluindo a queda do Império Romano.

As consequências da poluição por chumbo

A mineração pode provocar a poluição por chumbo no meio ambiente. (Fonte: GettyImages / Reprodução)
A mineração pode provocar a poluição por chumbo no meio ambiente. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Um estudo do Desert Research Institute conduziu uma pesquisa no gelo do Ártico para entender melhor a poluição ambiental do passado e seus efeitos na saúde humana. Esse gelo possui pequenas bolhas de ar que contêm pistas microscópicas sobre como era a atmosfera da Terra na época em que esse material foi gerado.

Essas bolhas trouxeram aos pesquisadores informações importantes sobre como foram os níveis de poluição atmosférica por chumbo ao longo dos séculos. Por meio delas, eles chegaram a dados sobre a época do Império Romano, especificamente a fase da Pax Romana.

A constatação foi surpreendente: durante esse período, a civilização romana vivenciou um aumento significativo nas operações de mineração e fundição em toda a Europa. O resultado disso foi uma grave poluição por chumbo.

“Este é o primeiro estudo a pegar um registro de poluição de um núcleo de gelo e invertê-lo para obter concentrações atmosféricas de poluição e então avaliar os impactos humanos. A ideia de que podemos fazer isso há 2 mil anos é bastante nova e emocionante”, comentou Joe McConnell, principal autor do estudo.

A fundição de chumbo durante a Roma antiga

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O Império Romano fez grande uso da fundição de metais para produzir seus materiais. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

É importante resgatar aqui o fato de que, durante o Império Romano, a fundição era um processo essencial, permitindo que os romanos extraíssem metais valiosos como ferro, cobre e chumbo de seus minérios. Por conta disso, eles montaram grandes fornalhas em que aqueciam o material com carvão.

Ocorre que o calor intenso fazia com que o metal se separasse do minério rochoso, derretesse e se acumulasse no fundo do forno. Havia também trabalhadores qualificados que controlavam a temperatura e o fluxo de ar para garantir que os metais derretessem corretamente, sem desperdiçar combustível ou danificar o forno.

Esse metal era então utilizado para criar muito itens, que iam de armas até obras de arte. O chumbo, em especial, era usado em encanamentos e construções, o que mostra que os romanos já eram muito sofisticados em seus conhecimentos de engenharia.

Os pesquisadores notaram, por meio da análise do gelo, que a ascensão e a queda dos níveis de poluição por chumbo aconteceu entre 500 a.C. e 600 d.C. Ela começou a aumentar durante a Idade do Ferro e atingiu o pico no final do século II a.C., tempo em que ocorria o auge da República Romana.

O estudo ainda estima que, no ápice do Império Romano, mais de 500 quilotons de chumbo foram lançados na atmosfera, principalmente como subproduto da mineração da prata.

Os efeitos nocivos do chumbo entre os romanos

Pesquisadores discutem atualmente se a alta contaminação por chumbo pode ter provocado a queda do Império Romano. (Fonte: GettyImages / Reprodução)
Pesquisadores discutem atualmente se a alta contaminação por chumbo pode ter provocado a queda do Império Romano. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

A hipótese dos cientistas é que essa exposição crônica à poluição por chumbo pode ter causado muitos impactos negativos contínuos à saúde.dos romanos. “Sabe-se que o chumbo tem uma ampla gama de impactos na saúde humana, mas escolhemos focar no declínio cognitivo porque é algo que podemos quantificar”, explicou Nathan Chellman, professor em hidrologia de neve e gelo no DRI, que também assina o estudo.

Ou seja, a grande quantidade de poluição por chumbo na Europa nessa época pode ter provocado o declínio cognitivo generalizado na população, incluindo as que viviam em Roma. Os pesquisadores acreditam que, no auge desse governo, a expansão maciça da mineração e do processamento de minérios metálicos fez com que a poluição atmosférica por chumbo aumentasse, o que pode ter levado a uma queda estimada de 2 a 3 pontos no QI das pessoas.

“Nossas descobertas demonstram que as emissões antropogênicas de atividades industriais resultaram em danos generalizados à saúde humana por mais de dois milênios, o que é bastante profundo na minha opinião”, acrescentou McConnell.

O estudo ainda afirma que os médicos romanos já sabiam sobre os riscos do envenenamento por chumbo, mas mesmo assim o metal era amplamente usado em canos de água e panelas de cozinha, além de medicamentos, cosméticos e brinquedos.

Em média, os níveis de chumbo no sangue das crianças no auge do império podem ter subido 2,4 microgramas por decilitro, o que reduziria o seu QI em 2,5 a 3 pontos. Partindo da estimativa de que o Império Romano pode ter chegado a ter mais de 80 milhões de pessoas, afirma-se que um quarto da população mundial pode ter sido exposta à poluição por chumbo gerada pela mineração e fundição.

Os cientistas concluem dizendo que os efeitos do envenenamento por esse metal podem ser tão graves que suscitam até uma discussão se o império pode ter caído por conta disso. “Uma redução de 2,5 a 3 pontos no QI pode não parecer muito, mas ocorreu em toda a população e teria persistido pelos quase 180 anos da Pax Romana. Deixo para epidemiologistas, historiadores antigos e arqueólogos determinar se os níveis de poluição atmosférica de chumbo e os impactos à saúde que identificamos foram suficientes para mudar a história”, concluiu McConnell.

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