Antigamente, quando uma criança era desobediente ou ia mal na escola, várias punições eram aplicadas. E uma delas, pasme, era que a criança ficasse num cantinho usando um boné cônico, algo que chegou até os dias de hoje especialmente por meio de desenhos animados mais antigos.

O objetivo era humilhar estas crianças no intuito que elas ficassem com vergonha e “tomassem jeito”. Mas, por incrível que pareça, a origem do chapéu de burro é bem diferente: ele foi criado para ser o indicativo de uma mente brilhante. Contamos esta história aqui.

O chapéu de burro e a filosofia

(Fonte: Scotsman)(Fonte: Scotsman)

No século XIV, um filósofo e teólogo escocês chamado John Duns Scotus ficou muito conhecido por conta de suas teorias sobre o mundo e a religião, que se inspiravam nas ideias de Aristóteles. Católico ardoroso e devoto da Virgem Maria, ele buscava conectar os ensinamentos da Bíblia com interpretações de ordem metafísica.

Scotus era da ordem franciscana e passou a dar aulas na Universidade de Paris. Entretanto, sua vivência entre a religião e o pensamento laico por vezes lhe causava problemas. Ele acabou entrando numa disputa pública com o rei da França sobre a tributação das propriedades da Igreja. Como se posicionou do lado da Igreja, Scotus acabou sendo expulso da universidade, para onde só retornaria anos depois.

Em razão de suas ideias, Scotus ganhou muitos seguidores, que continuaram estudando seus escritos após a sua morte. Estes sujeitos se autodenominaram “Dunsmen”, em homenagem ao mestre, e usavam chapéus pontudos para homenagear o filósofo (aparentemente, Scotus gostava muito de chapéus com formato pontiagudo, pois remeteriam ao adereço usado pelos magos).

Não obstante, quando o tempo foi passando, o Renascimento floresceu e novas teorias surgiram, os acadêmicos começaram a notar que as ideias dos Dunsmen estavam atrasadas. Eles não eram tão inteligentes quanto se imaginavam. Assim, os chapéus usados pelos membros do grupo passaram a ser vistos como ridículos.

A ideia por trás do chapéu

(Fonte: Telegraph)(Fonte: Telegraph)

Segundo o livro Hats and Headwear Around the World: A Cultural Encyclopedia, John Duns Scotus acreditava que um chapéu pontudo teria o poder de canalizar o conhecimento do mundo exterior e distribuí-lo para o cérebro. Esta é a razão pela qual ele e os Dunsmen adotaram este adorno, no intuito de torná-lo um símbolo das pessoas inteligentes em geral.

Com o Renascimento, tanto a palavra “Dunsmen” quanto os chapéus que eles usavam começaram a ser vistos de forma pejorativa. Quem usasse esse adereço era reconhecido como alguém incapaz e sem vontade de aprender algo novo.

E por que o chapéu de tornou símbolo de burrice? Há indícios de que o primeiro uso de “dunce” (a palavra original associada ao chapéu, que não tem a ver com o bicho) significando falta de inteligência ocorreu em uma peça escrita em 1624. Já em 1840, no romance The Old Curiosity Shop, o escritor Charles Dickens menciona um dunce cap encontrado em uma sala de aula, sendo um indício de que estes chapéus eram usados como castigos em escolas britânicas.

O chapéu da humilhação, aliás, poderia aparecer sob algumas variações. Havia escolas em que o chapéu cônico era adornado com um grande D, de dunce, para deixar bem evidente que aquela criança havia sido desobediente ou indisciplinada.

Vale lembrar que o dunce cap também teve algumas outras associações mais sombrias. Segundo algumas teorias, as ideias de Scotus também foram adotadas por outro grupo nem um pouco louvável, a Klu Klux Klan. Isto explicaria por que a organização de supremacistas brancos também usava chapéus pontudos.

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