A radiação, em suas diversas formas, permeia o mundo ao nosso redor. Ela é invisível, onipresente, essencial para a vida e também uma força destrutiva. Mas o que realmente torna a radiação tão perigosa para os seres humanos?

Ao sermos expostos à radiação, seja de maneira acidental, seja devido a uma fonte artificial, o que acontece em nosso corpo quando partículas subatômicas encontram nossos tecidos, atravessam nossas células e chegam até o nosso DNA?

Para responder a isso, é preciso compreender o que é a radiação, como ela interage com a matéria viva e os tipos específicos que podem nos causar mal.

A radiação solar é a principal fonte de energia do planeta Terra.
A radiação solar é a principal fonte de energia do planeta Terra. (Fonte: Getty Images)

A história da radiação começa no final do século XIX, quando os cientistas Wilhelm Röntgen, Henri Becquerel e Marie Curie começaram a investigar fenômenos misteriosos no campo da física. Röntgen, em 1895, descobriu os raios X, um tipo de radiação que conseguia atravessar a pele e revelar estruturas internas, como ossos.

Logo em seguida, Henri Becquerel descobriu a radioatividade, observando que certos elementos, como o urânio, emitiam uma energia invisível capaz de penetrar até objetos sólidos. Um pouco mais tarde, Marie Curie e seu marido Pierre Curie realizaram experimentos fundamentais com materiais radioativos, como o rádio e o polônio, e ajudaram a estabelecer o conceito de elementos que emitem radiação de maneira natural.

“Essas descobertas abriram portas incríveis para a medicina e para a ciência nuclear, mas também trouxeram o perigo, inicialmente subestimado, da radiação”. 

Os primeiros cientistas que lidaram com materiais radioativos, como a própria Marie Curie, não tinham conhecimento dos riscos e os efeitos nocivos da exposição prolongada à radiação, e acabaram sofrendo graves problemas de saúde, chegando até mesmo a morte.

Os estudos de Marie Curie com a radioatividade foram pioneiros e deram origem a avanços significativos na física nuclear.
Os estudos de Marie Curie com a radioatividade foram pioneiros e deram origem a avanços significativos na física nuclear. (Fonte: Getty Images)

Por definição, radiação é a emissão de energia que se propaga por meio de partículas ou ondas eletromagnéticas. Existem dois tipos principais: radiação ionizante e não ionizante. A radiação não ionizante inclui ondas de rádio, micro-ondas e luz visível — formas de radiação geralmente inofensivas ao corpo humano em níveis normais.

A radiação ionizante, por outro lado, é toda aquela que tem energia suficiente para arrancar elétrons dos átomos e moléculas, transformando-os em íons.

A radiação ionizante pode ser classificada em três tipos principais

Radiação Alfa (a)

Este tipo de radiação é composto por partículas formadas por dois prótons e dois nêutrons (o núcleo de um átomo de hélio). Embora seja altamente ionizante (capaz de destruir átomos ao remover elétrons de seus átomos), as partículas alfa têm baixa capacidade de penetração.

Elas não conseguem atravessar a pele humana, mas se uma fonte de radiação alfa for ingerida ou inalada, os danos podem ser devastadores. O polônio-210, por exemplo, é um elemento radioativo altamente perigoso em forma alfa, e sua ingestão pode ser letal.

Radiação Beta (ß)

Composta por partículas de alta energia, os elétrons ou pósitrons, a radiação beta pode penetrar mais profundamente na pele humana, mas geralmente não atinge órgãos internos com alta intensidade. No entanto, a exposição prolongada pode causar danos ao tecido, como queimaduras de radiação ou, em casos extremos, aumentar o risco de câncer.

Radiação Gama (y)

As radiações gama são ondas eletromagnéticas de alta frequência, semelhantes à luz, mas com uma energia muito maior. Elas têm uma penetração extremamente profunda e podem atravessar vários metros de concreto ou até mesmo o corpo humano.

A radiação gama pode causar danos severos a células e tecidos internos, tornando-se a forma de radiação mais perigosa quando não controlada adequadamente.

A radiação alfa, beta e gama tem diferentes capacidades de penetrabilidade na matéria.
A radiação alfa, beta e gama tem diferentes capacidades de penetrabilidade na matéria. (Fonte: Sensaweb)

A radiação ionizante é perigosa porque ela pode romper ligações químicas em moléculas, especialmente no DNA das células. Quando isso acontece, as células podem sofrer mutações que as tornam cancerígenas ou, em doses elevadas, morrerem.

Os efeitos da radiação variam segundo a dose e a exposição. A unidade de medida comum para a dose absorvida pelo corpo é o sievert (Sv), e pequenas doses de radiação, como aquelas usadas em radiografias, são relativamente seguras. Contudo, doses elevadas, como as liberadas em acidentes nucleares, podem ser mortais.

Os efeitos biológicos da radiação ionizante

Exposição aguda

Uma dose elevada de radiação em um curto período pode causar envenenamento por radiação, com sintomas que vão desde náuseas e vômitos até danos em órgãos vitais. Em casos extremos, essa exposição pode levar à morte em poucos dias ou semanas, dependendo da dose.

Efeitos a longo prazo

A exposição contínua, mesmo a baixas doses de radiação, pode levar ao acúmulo de danos celulares, aumentando o risco de desenvolver cânceres, especialmente leucemia e cânceres de pele.

Efeitos genéticos

A radiação pode causar mutações nos genes que podem ser transmitidas às futuras gerações. Isso ocorre especialmente quando a exposição afeta células reprodutivas.

Os perigos da radiação se tornaram evidentes em eventos como os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki em 1945, onde as explosões nucleares liberaram radiação gama mortal, matando centenas de milhares de pessoas e deixando um legado de doenças genéticas nas gerações seguintes.

Um dos efeitos nocivos à exposição prolongada de radiação é o surgimento de células cancerígenas, os tumores malignos.
Um dos efeitos nocivos à exposição prolongada de radiação é o surgimento de células cancerígenas, os tumores malignos. (Fonte: Getty Images)

Outro exemplo é o desastre de Chernobyl em 1986, onde a exposição à radiação resultou em inúmeras mortes e casos de câncer que se manifestaram ao longo das décadas.

Após esses eventos, a ciência se empenhou em compreender melhor a radiação e os meios de protegê-la, levando à criação de protocolos rigorosos de segurança para aqueles que trabalham com materiais radioativos, seja em usinas nucleares, medicina ou pesquisa.

Por essas razões, hoje é possível utilizá-la em diversas formas, usá-la de forma segura, minimizando seus perigos e ampliando seus benefícios.

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