**Por Fernando Arditti, vice-presidente e gerente-geral da WSO2 na América Latina

Temos observado como as tecnologias emergentes de inteligência artificial (IA) já têm impactado os modelos de negócios no mundo todo, com oportunidades para aumentar eficiências de custo e criar novos fluxos de receita. Ainda assim, são poucos os projetos que realmente saem do papel. O estudo Data Readiness for Impactful Generative AI, divulgado pela especialista em analytics Qlik e pelo Enterprise Strategy Group (ESG), revela que 94% das empresas aumentaram os gastos com IA, mas somente 21% conseguiram integrá-la totalmente em suas operações.

Enquanto a demanda por inovação acelera, muitas empresas enfrentam desafios relacionados a infraestruturas rígidas, questões relacionadas à governança, regulamentações e segurança. Isso pode fazer com que os desenvolvedores acabem gastando mais tempo configurando ambientes, gerenciando integrações complexas e resolvendo falhas em sistemas, o que torna o processo mais demorado e desafiador. Assim, o conceito de ‘Platformless Modernization’ surge para facilitar essa rotina, permitindo que o mercado foque no que realmente importa: criar experiências digitais de valor para seus usuários.

‘Platformless’ (sem plataforma) é uma mudança estratégica na engenharia de software empresarial, que prioriza adaptabilidade, escalabilidade e responsividade. Trata-se de construir sistemas que podem se adaptar rapidamente aos avanços tecnológicos e aos requisitos de negócios em evolução. Em vez de depender de infraestruturas monolíticas, as empresas adotam arquiteturas modulares, onde APIs atuam como conectores universais entre sistemas, microsserviços e aplicações. A infraestrutura, por sua vez, opera como um serviço gerenciado, escalando conforme a demanda e ajustando-se automaticamente a novas necessidades.

Para o Brasil, essa abordagem é especialmente relevante, já que a falta de padronização entre ferramentas e a escassez de profissionais especializados amplificam o desafio de uso. A necessidade de maior automação no ciclo de desenvolvimento também impacta a produtividade das equipes, o que reforça a importância de estratégias que minimizem essas barreiras.

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‘Platformless’ é uma mudança estratégica na engenharia de software empresarial, que prioriza adaptabilidade, escalabilidade e responsividade.

O conceito coloca as APIs como elemento central, garantindo integração fluida entre sistemas, além de permitir que aplicativos sejam desenvolvidos e escalados de maneira eficiente. Ao adotar um middleware nativo da nuvem e uma infraestrutura otimizada para a execução de arquiteturas distribuídas, as empresas podem aproveitar as vantagens do desenvolvimento ágil e da automação para simplificar as operações e ganhar competitividade. Outro benefício essencial é a experiência do desenvolvedor, que se torna muito mais fluida e produtiva, que resulta em ciclos de desenvolvimento mais curtos, redução de custos operacionais e maior alinhamento com as demandas dos clientes e as necessidades dos consumidores.

O estudo Mobile App Trends 2024, da Adjust, destaca um crescimento expressivo nas instalações e sessões de aplicativos móveis na região, especialmente no Brasil, que se destaca pela alta de 30% nas instalações de aplicativos de e-commerce no ano de 2024. No entanto, as taxas de retenção apresentam um outro cenário: enquanto as instalações aumentam, a retenção no país é a mais baixa da região, com apenas 1,5% dos usuários ativos após um mês.Esse cenário evidencia a necessidade de empresas digitais investirem em soluções que não apenas atraiam usuários, mas que também os mantenham engajados a longo prazo.

Nesse contexto, o ‘Platformless’ se torna uma estratégia crucial ao adotar arquiteturas modulares e APIs como núcleo, as empresas podem reduzir os esforços gastos em integrações complexas — hoje responsáveis por 30% do tempo dos desenvolvedores, segundo a Qlik/ESG — e redirecionar recursos para criar experiências personalizadas que promovam a retenção.

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Aplicativos de e-commerce, por exemplo, poderiam aproveitar a inteligência artificial para oferecer jornadas de compra personalizadas em tempo real, mas isso só seria possível em larga escala se a base tecnológica permitisse ciclos de desenvolvimento rápidos e experimentação ágil.

O futuro da engenharia de software no Brasil está diretamente ligado à simplificação. À medida que a complexidade tecnológica cresce, o ‘Platformless’ surge como resposta prática para reduzir entraves operacionais e liberar capacidade de inovação.

Ao adotar essa abordagem, as organizações não apenas modernizam processos e aceleram entregas de valor, mas se preparam para competir em um cenário digital que exige cada vez mais eficiência, agilidade e, acima de tudo, reinvenção. A questão não é se a simplificação é necessária, mas quão rápido as companhias se adaptarão para se manterem relevantes em um mercado em constante reinvenção.