A Terra vive um caos organizado, sempre evoluindo e modificando ao longo do tempo. Contudo, alguns fenômenos, principalmente relacionados ao clima, possuem certa ciclicidade, por isso, nosso planeta já teve mais de uma Era Glacial e também tempos bem quentes, como esse que estamos vivendo agora.
Ao que se sabe essa movimentação e periodicidade estão ligadas a influência das forças orbitais da Terra na regência desses fenômenos, porém, não havia uma certeza sobre o quão previsíveis poderiam ser o início e o fim desses períodos.
Mas um novo estudo da Universidade Cardiff, Reino Unido, traz uma potencial resposta para o problema, possibilitando a capacidade de determinação da duração e previsibilidade de quando uma nova Era Glacial pode se iniciar na Terra.

A dança orbital de Milankovitch
Quando olhamos para desenhos e diagramas do Sistema Solar, nos deparamos com representações gráficas das órbitas planetárias. Para algumas pessoas, esses desenhos podem fazer pensar que todos os planetas seguem sempre o mesmo trajeto, como se estivessem sendo guiados por um fio, nunca desviando ou modificando seus padrões orbitais.
Mas isso não poderia estar mais longe da verdade. A órbita da Terra, assim como dos demais astros no sistema, sofre modificações ao longo do tempo que irão influenciar, dentre outros fenômenos, em como o clima se manifesta nesses períodos de alteração.

A teoria sobre a relação entre forças orbitais e a influência no clima terrestre foi formulada por Milutin Milankovitch (1879-1958), engenheiro e geofísico sérvio. Para ele, a excentricidade das órbitas, a inclinação axial, também chamada de obliquidade, e os movimentos de precessão podem gerar grandes alterações no clima.
A excentricidade é a forma da órbita, que pode variar em sua trajetória elíptica, algumas vezes estando mais arredondada, quase próxima de uma circunferência e outras mais alongadas, tornando a elipse mais achatada.
A outra variável de Milankovitch é a obliquidade, que se refere ao ângulo de inclinação do eixo da Terra. Essa angulação varia entre 22,1° e 24,5º, e contribui para o fenômeno das estações do ano. Sim, nós giramos um pouco “tortos” em volta do Sol.

Por fim, o terceiro fator a ser considerado são os movimentos de precessão, que podem ser descritos como um balanço do eixo axial. Pense em uma pião que gira em seu eixo fazendo alguns pequenos movimentos ao longo de sua trajetória. Como a Terra não possui um eixo real fixado nas extremidades, esse balanço sempre irá acontecer.
Como nada na vida é fixo e imutável, nem as rochas errantes do espaço, todo esse conjunto de fatores se modifica ao longo dos milênios e seriam essas mudanças, segundo Milankovitch, que provocam as mudanças climáticas naturais. Mas como?
Girando, aproximando e afastando: a órbita da Terra
Pesquisadores da Universidade de Cardiff podem ter chegado ao ponto de responder a essa questão, indicando como cada um desses fenômenos podem influenciar o clima de uma forma mais severa. Os resultados da pesquisa foram publicados na Revista Science.
Existe um caos ordenado no mundo, assim, a órbita da Terra passa por fases, onde os três elementos apontados por Milankovitch atuam contribuindo para o início e fim das Eras. Não se sabia qual era responsável por dar início, mas as simulações, que varreram os dados dos últimos um milhão de anos na Terra, trouxeram algumas informações interessantes, demonstrando que houve uma forte correlação entre determinadas fases da órbita da Terra e suas eras glaciais, que duram em média 100 mil anos.
Os resultados demonstraram que a obliquidade da Terra poderia contribuir diretamente para o início de um período glacial. Quando o ângulo sofre uma diminuição, a exposição e distribuição de calor provenientes do Sol sofrem uma má distribuição, oportunizando a formação das camadas de gelo.
Enquanto isso, a união do aumento da obliquidade, em conjunto com os movimentos de precessão, desencadeariam a deglaciação. Esses dois fatores estimulados pela excentricidade da órbita completariam a receita para as mudanças de irradiação e dispersão de calor sobre o globo que contribuiriam para diminuir e aumentar as temperaturas por aqui.
Em um exemplo simplório, imagine que você quer descongelar uma maçã que por acidente ficou no freezer. Com pressa, você tem a ideia de utilizar o fogão para isso. Então você espeta sua fruta em um garfo e a expõe ao fogo. Para descongelar por igual, você gira em cima da fonte de calor, mas percebe que há lugares onde o gelo permanece. Então você muda de ângulo, distância e faz mais ou menos giros.

A órbita da Terra não é assim tão facilmente modificável, levando milênio até que qualquer alteração possa ser sentida em sua totalidade. Contudo, as simulações do grupo de pesquisa demonstraram que é possível determinar quando uma nova era glacial pode ser desencadeada e que os movimentos da Terra podem ser os únicos responsáveis por esse fenômeno.
Aliás, os resultados demonstram que em aproximadamente 10 mil anos, possamos vivenciar uma nova Era do Gelo. Porém, sempre tem um porém. Todos os dados e simulações consideram as condições naturais da Terra, mas ela é povoada por processos que deixam marcas de carbono bem desinteressantes e que podem afetar o modo como o processo natural se desencadeia.
Então, esse será o próximo passo da pesquisa, entender como as mudanças climáticas provocadas artificialmente pelas emissões de gases do efeito estufa podem impactar na forma como os processos naturais se desencadearão.
Afinal, mesmo que estejamos na fase correta em 10 mil anos para sofrer outra glaciação, não sabemos em que condições nossa atmosfera estará para conseguir interagir com a radiação solar e a dispersão de calor abaixo dela.

Mas ainda que haja incerteza sobre o comportamento do nosso planeta, o estudo contribui para estudos do clima, reconhecimento de fases orbitais do nosso planeta e principalmente pela possibilidade de determinação do início e final de períodos que podem ser considerados críticos para o nosso lar.
Ainda há muito o que compreender sobre o nosso mundo e todos os possíveis desdobramentos dos processos complexos aos quais estamos submetidos, quem nos dera o Sistema Solar, e tudo o que existe no universo, fosse simples como as maquetes que construímos com papelão e isopor.
E se você quer dar uma olhada em como foram outras épocas geladas na Terra, que tal dar uma olhada em como já fomos uma grande bola de neve? Continue acompanhando a TecMundo e até mais!