A produção doméstica de hardware emerge como um pilar fundamental para o fortalecimento do mercado tecnológico brasileiro, proporcionando benefícios significativos para a economia e a sociedade. Dados recentes da consultoria IDC revelam que o Brasil reafirmou sua posição entre os dez maiores mercados de tecnologia do mundo, demonstrando um crescimento consistente em todas as áreas: software (31%), serviços (26%) e hardware (43%). Esse cenário promissor é corroborado pela pesquisa “Clima Empresarial”, da Boucinhas & Campos, que aponta que 28% dos empresários brasileiros planejam investir na aquisição de infraestrutura tecnológica.
O investimento contínuo na produção nacional de hardware reduz a dependência de importações, mitigando os riscos associados às flutuações cambiais e instabilidades geopolíticas. Essa autonomia garante a estabilidade no fornecimento de componentes cruciais para setores como telecomunicações, saúde e indústria automotiva, tornando o país menos vulnerável às oscilações do mercado global. A capacidade de produzir localmente componentes essenciais assegura a continuidade de serviços críticos e a manutenção de infraestruturas estratégicas, especialmente em tempos de crise global.
Geração de empregos e fortalecimento da economia
Essa indústria impulsiona a criação de empregos qualificados, abrangendo desde pesquisa e desenvolvimento até manufatura e suporte técnico. Esse crescimento fortalece a economia local, estimula o desenvolvimento de polos industriais e contribui para a redução das desigualdades regionais. A criação de um ecossistema robusto de produção de hardware fomenta a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias, impulsionando a competitividade do país no cenário global. Além disso, uma cadeia produtiva robusta permite que empresas brasileiras inovem e adaptem tecnologias às necessidades específicas do mercado interno. A proximidade com o consumidor final viabiliza soluções mais eficientes e torna as empresas nacionais mais competitivas no cenário mundial.
Um exemplo dessa tendência é a Adata, empresa do setor de semicondutores, que desde 2014 possui fábricas no Brasil, localizadas em Santo Antônio de Posse (SP) e Manaus (AM). Com quase 500 funcionários, a Adata tem forte presença na fabricação de Circuitos Integrados DRAM e Circuitos Integrados FLASH, essenciais para a produção de notebooks e desktops. Essa fabricação nacional atende às demandas do mercado interno, suprindo a necessidade dos integradores brasileiros e reduzindo a dependência de componentes importados. Empresas como a Adata demonstram como a produção local de hardware pode fortalecer a indústria de tecnologia do país, gerando empregos e ampliando a capacidade de inovação nacional.

Ao longo da história, o Brasil demonstrou potencial no setor de hardware, com iniciativas como a BB Tecnologia e Serviços (antiga Cobra Tecnologia) e a CEITEC S.A. Embora a CEITEC tenha encerrado suas operações em 2020, seu legado destaca a capacidade do país na área de semicondutores e a necessidade de políticas públicas consistentes para o setor. A experiência da CEITEC, apesar de seu término, serve como um valioso aprendizado para o desenvolvimento de futuras iniciativas no setor de semicondutores.
O papel das políticas públicas no setor de hardware
Nesse contexto, as políticas públicas desempenham um papel crucial na promoção da indústria nacional de hardware. A Política Nacional de Informática (1984) e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) são exemplos de iniciativas que fomentaram a produção doméstica de tecnologia.
Mais recentemente, o Programa Nova Indústria Brasil (2023) e os incentivos do governo para a produção de semicondutores demonstram o compromisso em modernizar e expandir o setor, visando aumentar a competitividade e reduzir a dependência de importações. Essas políticas públicas, ao oferecerem incentivos fiscais, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e apoio à formação de mão de obra qualificada, criam um ambiente favorável para o crescimento da indústria de hardware no Brasil.
A fabricação nacional de hardware se consolida como um pilar essencial para o desenvolvimento do mercado tecnológico brasileiro. Ao reduzir a dependência externa, promove a geração de empregos, estimula a inovação e fortalece a economia local.
Para que esse avanço seja sustentável, é fundamental que o governo e a iniciativa privada mantenham um esforço conjunto, garantindo investimentos contínuos e a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento da indústria de hardware nacional. A colaboração entre universidades, centros de pesquisa e empresas é essencial para impulsionar a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias, consolidando o Brasil como um player relevante no mercado global de hardware.
Thiago Tieri é Gerente de Marketing da ADATA/XPG no Brasil e colunista no Voxel e TecMundo.