Quando se fala em rodar inteligência artificial generativa de forma nativa em um computador, os PCs Copilot+ logo vêm à mente. Essas máquinas foram projetadas do zero para lidar com as demandas excepcionais da tecnologia. No entanto, essa não é a única forma de executar grandes modelos de linguagem (LLMs) sem depender de um servidor externo — e é aí que entra o ChatRTX.
O ChatRTX é uma aplicação da Nvidia que permite executar um chatbot com IA de forma totalmente local, sem necessidade de conexão com a internet ou servidores remotos. A ferramenta utiliza exclusivamente o poder das GPUs instaladas no computador para gerar respostas e interagir com o usuário.
A proposta é oferecer as mesmas funcionalidades de um chatbot online — como análise de documentos, esclarecimento de dúvidas, auxílio na escrita e programação em diversas linguagens — com o diferencial da privacidade garantida pelo processamento local. Ou seja, seus dados (solicitações e arquivos) não precisam ser enviados a servidores externos.

Um assistente realmente pessoal
Ao depender exclusivamente do hardware local, o ChatRTX apresenta vantagens específicas, como a capacidade de localizar informações diretamente nos arquivos armazenados no computador. Ele pode vasculhar toda a base de dados fornecida em busca do conteúdo solicitado ou utilizá-la para compreender melhor o contexto e entregar respostas mais eficientes.
Se você quiser encontrar imagens de flores, por exemplo, basta pedir ao ChatRTX, que fará uma varredura nos seus dispositivos de armazenamento para retornar os resultados correspondentes.
O aplicativo permite escolher entre diferentes modelos generativos, que variam de acordo com a configuração da GPU instalada no computador.
A maioria dos modelos disponíveis são versões reduzidas de IAs maiores, já que os modelos completos são pesados demais para rodar localmente. Isso pode causar limitações na janela de contexto e um tempo de resposta mais alto, mas, para o usuário comum, o impacto tende a ser pequeno.
Outro fator limitante é a função de cada modelo: o Mistral 7B int4, por exemplo, é voltado apenas para respostas em texto, enquanto o CLIP, da OpenAI, é um modelo visual, usado exclusivamente para buscar imagens armazenadas.
Como usar o ChatRTX?
O ChatRTX é um programa como qualquer outro: basta iniciá-lo para começar. Vale lembrar, porém, que ele exige bastante do sistema; pode consumir grandes quantidades de memória RAM e impactar significativamente a autonomia de notebooks.

Após aberto, o usuário escolhe entre os modelos disponíveis para sua placa gráfica e começa a interagir. Em geral, há duas bases de dados: uma local, com conteúdo do próprio usuário, e outra de treinamento, com informações adquiridas durante o processo de aprendizado da IA.
O ChatRTX é útil, mas até certo ponto
O TecMundo testou o ChatRTX por algumas semanas em um notebook cedido pela Nvidia. Equipado com uma GeForce RTX 4060 de 8 GB, os modelos disponíveis foram o Mistral 7B int4, CLIP e ChatGLM 3 6B int4.
A experiência de uso é direta — e, de certa forma, crua. O ChatRTX lembra muito o ChatGPT em seus primeiros meses de lançamento, com funcionalidades limitadas. Os comandos são todos em texto, embora exista a opção de transcrição de fala. Já as respostas são sempre textuais — ou imagens, nos casos de buscas no armazenamento local.

Graças ao processamento local, as respostas são geradas com agilidade e independem da qualidade da conexão com a internet.
Contudo, o aplicativo peca pela simplicidade, especialmente na apresentação das respostas. A interface é limpa, mas não há qualquer tipo de formatação especial nas saídas da IA. Isso significa que tudo é exibido em blocos contínuos de texto, sem listas, subtítulos ou destaques — o que dificulta a leitura em interações mais complexas.
Esse problema se intensifica em respostas longas, como revisões de texto ou listas de tópicos. A ausência de organização visual prejudica a rastreabilidade das informações, algo que os principais chatbots atuais já dominam.
A precisão das respostas varia de acordo com o modelo selecionado. No entanto, os modelos disponíveis no notebook testado pelo TecMundo eram voltados majoritariamente para outros idiomas (como inglês e chinês). Eles compreendem perguntas em português, mas costumam responder automaticamente em inglês, a menos que o idioma seja especificado.
Existe um grande potencial
Embora o ChatRTX ainda seja limitado, há bastante espaço para aprimoramentos — e há exemplos de que isso é possível. Um bom caso é o LM Studio, outro software que permite rodar LLMs localmente no Windows.

Além de oferecer uma biblioteca mais variada de modelos, o LM Studio apresenta uma interface com melhor formatação nas respostas, tornando os textos mais legíveis e fáceis de navegar. Em um dos testes, o modelo deepseek-r1-distill-qwen-7b gerou um texto bem estruturado e até produziu código para solucionar uma dúvida.
Isso comprova que computadores com GPUs Nvidia são capazes de executar modelos de linguagem localmente, sem necessidade de assinatura ou conexão constante à internet. Assim, os PCs Copilot+ não são os únicos aptos a rodar IA generativa de forma nativa, como sugerem algumas campanhas publicitárias.
Entretanto, o ChatRTX precisa de refinamentos importantes — principalmente no que diz respeito à formatação das respostas. Ele é funcional para tirar dúvidas e manter interações simples, mas a ausência de elementos visuais e organizacionais torna a experiência menos atraente frente a outras alternativas.
Processamento local é uma vantagem inegável
Apesar disso, o processamento local traz benefícios que modelos online não oferecem, como a consulta de arquivos armazenados no próprio dispositivo. Embora o processo exija que os dados estejam em pastas específicas, há espaço para que isso seja simplificado com o tempo.
O destaque, nesse aspecto, vai para a busca por imagens. O modelo CLIP, por exemplo, consegue localizar fotos rapidamente a partir de descrições textuais, com precisão notável.
Os requisitos mínimos podem ser caros
Como tecnologia da Nvidia, o ChatRTX depende da aceleração por núcleos tensores e recursos das GPUs RTX mais recentes. Por isso, só funciona em hardwares relativamente modernos da marca.
No site oficial, a Nvidia informa os requisitos mínimos:
- Placas de vídeo Nvidia RTX 3000 ou RTX 4000 com pelo menos 8 GB de memória gráfica;
- Placa de vídeo Nvidia RTX 5000 (como RTX 5080 ou RTX 5090) com 16 GB de VRAM;
- 70 GB de armazenamento livre;
- Windows 11 versão 23H2 ou 24H2.
Quanto mais potente for a GPU, melhor será o desempenho e maior a variedade de modelos disponíveis. Ou seja: quanto melhor o computador, mais interessante se torna o uso do ChatRTX.
Conclusão: é promissor, mas carece de polimento
O ChatRTX compartilha uma deficiência comum a muitos softwares da Nvidia: falta de acabamento na versão final. O programa é funcional e mostra o potencial do hardware da marca, mas entrega tudo isso por meio de uma interface que ainda precisa de bastante aprimoramento — algo que impacta diretamente a usabilidade.
Ainda assim, o fato é que as GPUs da Nvidia são plenamente capazes de rodar IA localmente, como o LM Studio comprova. Isso coloca os produtos da empresa em destaque, especialmente diante da necessidade de investir altos valores em um PC Copilot+, que muitas vezes não entrega desempenho bruto suficiente para outras tarefas pesadas, como jogos ou renderização.
Portanto, é totalmente viável usar IA de forma nativa sem depender de notebooks com Snapdragon X Elite ou Plus. Uma máquina com placa RTX 3000 (ou superior) e ao menos 8 GB de VRAM já permite aproveitar boa parte desses recursos — e, no caso de desktops, basta um upgrade de GPU para embarcar nessa tendência.
Portanto, se eficiência energética não for uma prioridade para você, mas é interessante ter ferramentas de IA com processamento local no computador, optar por um notebook com GPU Nvidia pode ser uma boa opção. Além de oferecer base para rodar as tecnologias mais recentes, você ainda terá uma máquina poderosa para lidar com outras demandas senão inteligência artificial.
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