Lançada pela Netflix nesta quarta-feira (11), a série Cem Anos de Solidão chega com a difícil tarefa de adaptar uma das obras mais conceituadas da literatura hispânica. Escrito por Gabriel Garcia Márquez, o livro publicado em 1967 conta a história da pequena vila de Macondo e de várias gerações da família Buendía-Iguarána.
Embora traga muitos elementos fantasiosos, a obra se consagrou por também narrar muitos eventos que, embora pareçam exagerados, fazem parte da história real da Colômbia. Entre elas está uma grande guerra civil, que se inspirou na Guerra Dos Mil dias (1899 a 1902) e o assassinato de trabalhadores ocorrido em 1928, que ficou conhecido como o Massacre das Bananeiras.
A seguir, confira mais detalhes sobre a história real que inspirou Cem Anos de Solidão, tanto em livro quanto na série da Netflix, que já está disponível.
O que foi o Massacre das Bananeiras que inspirou Cem Anos de Solidão?
Formada em 1899, a United Fruit Company se tornou uma corporação extremamente poderosa ao controlar a plantação, colheita e distribuição de frutas para os Estados Unidos e a Europa. Ela era conhecida por ser dona de grandes extensões de terra na América Central, na costa caribenha da Colômbia e nas Índias Orientais, o que deu a ela um grande poder político.
Usando a mão de obra de países considerados pobres, a companhia pressionava governos locais para que eles a ajudassem em seus planos de expansão e na manutenção de práticas trabalhistas abusivas. Entre aqueles que não aceitaram a situação estava um grupo de aproximadamente 25 mil trabalhadores da cidade de Ciénaga, na Colômbia, que iniciou uma grande greve no dia 12 de novembro de 1928.
Eles decidiram que não trabalhariam mais para a United Fruit Company enquanto a companhia não concordasse em melhorar suas condições de trabalho. Após várias semanas de impasse, graças à decisão da empresa de não participar de negociações, o governo de Miguel Abadía Mendez decidiu resolver a situação apelando para a violência.
No dia 5 de dezembro do mesmo ano, 700 membros do exército colombiano liderados por Cortés Vargas chegaram à cidade de Ciénega para “resolver a situação”. No entanto, eles não estavam ali para proteger os trabalhadores, mas sim para castigar com armas quem decidisse continuar com a paralisação.
Cinco minutos após um aviso de que os grevistas deveriam deixar a praça pública em que se reuniram, os membros do exército atiraram conta a multidão restante. Embora os números oficiais afirmem que isso resultou em 47 mortes, há relatos de que pelo menos 2 mil pessoas morreram durante o Massacre das Bananeiras.
A decisão de atacar os trabalhadores surgiu como resultado das pressões exercidas pela United Fruit Company (atualmente conhecida como Chiquita Brands) e do Secretário de Estado dos Estados Unidos. Eles afirmavam que aqueles que estavam protestando eram “comunistas subversivos” que deveriam ser tratados na base da violência.
Massacre real foi esquecido com o passar do tempo
Além de demonstrar o poder que grandes corporações podem ter sobre governos, o episódio do Massacre das Bananeiras se tornou famoso por ter sido “esquecido” durante muito tempo. Contribuiu muito para isso o fato de que, desde que as paralisações começaram a acontecer, o governo e a imprensa local nunca as reconheceram com algo legítimo.
Em Cem Anos de Solidão, algo semelhante acontece, com a população afirmando que “não houve mortos” e deixando de lado o grande massacre que ocorreu. O evento também foi retratado por Álvaro Cepeda Samudio em sua obra La Casa Grande, que, junto do livro de García Marquez, colaborou para manter viva a história do evento.
A influência da United Fruit Company na política latino-americana é sentida até hoje, e inclusive colaborou para a criação do termo “República das Bananas”. Usando seu grande poder financeiro e político, a empresa ficou famosa por colaborar com governantes corruptos e ditaduras, pedindo em troca a concessão de terras que a permitissem continuar exercendo suas práticas comerciais.
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