O que difere Assassin’s Creed Shadows dos outros games da franquia? Afinal, em seus quase dezesseis anos de história, mais de vinte jogos lançados, diversos livros e adaptações literárias, bonecos, vestuários, períodos revisitados da história… O que Shadows irá fazer para se destacar numa franquia que (ironicamente) está parada no tempo, e ainda pior – no meio de um furacão de polêmicas?

A convite da Ubi, o Voxel viajou até o Canadá para visitar a Ubisoft Québec, estúdio mãe responsável pelo novo jogo da saga. Além de jogar por seis horas o novo capítulo da saga, conversamos com os diretores sobre o jogo que pode definir o futuro da empresa.

Adeus Infinity e olá Animus Hub!

No começo da nossa jogatina, de cara somos apresentados ao novo projeto maquiavélico da Abstergo: um novo Animus em que todos futuramente terão acesso para que possam revisitar suas memórias genéticas como seus antepassados (claro, fachada para algo que a Abstergo procura e cabe ao jogador descobrir o que a empresa deseja e porquê)

Lembra daquele projeto chamado Assassin’s Creed Infinity? Ele mudou de nome e agora se chama “Animus Hub”, e vimos o primeiro vislumbre dele aqui: um grande hub dividido em memórias divididas em períodos, sendo esses os jogos anteriores da saga (a partir do Origins). Ali dentro você poderá escolher qual game irá jogar, algo parecido com o que a Activision fez com Call of Duty.

Animus Hub, em Assassin”s Creed Shadows.

Porém, o Animus Hub dará acesso a documentos, e-mails e conversas que instigam o jogador a descobrir o que a Abstergo está escondendo do público, além de missões e objetivos diários que darão diversos brindes ao jogador. É quase uma fusão do hub de COD com o Ubisoft Connect, sendo Shadows o game que irá estrear essa nova função.

Não ficou claro se teremos uma história paralela no presente como tivemos com Desmond ou Layla, porém deu-se a entender que agora o jogador será o alvo da Abstergo. Afinal, quem de nós nunca ficou preocupado em ter algum dado roubado ou vazado por alguma megacorporação, não?

Afinal, do que se trata a história?

Ao começar nossas seis horas de gameplay, tivemos acesso ao prólogo onde conhecemos melhor os personagens principais, Yasuke e Naoe. Não irei entrar em maiores detalhes da história para não estragar a experiencia de quem for jogar, porém uma coisa posso falar: este é um dos melhores prólogos de introdução de personagens que a Ubisoft fez na franquia dos Assassinos.

A sequência compete com as aberturas de Assassin’s Creed 2 e Origins, dando o tom principal que a história irá seguir dali pra frente. Para quem é fã dos filmes de Kurosawa, Tarantino e até Miyazaki, prestem atenção na cinemática antes dos créditos e na escolha da trilha e não irá se arrepender.

Naoe, uma das protagonistas de Assassin”s Creed Shadows.

E é aqui que conhecemos Yasuke, centro das polêmicas do novo jogo. Aqui iremos evitar entrar em assuntos desnecessários e revisionismos históricos, afinal: eu já lutei contra o Papa embaixo do Vaticano e visitei Atlântida no meio do mar Egeu. Fato é: sim, ele existiu. Sim, ele era um escravo. Sim, ele serviu a Nobunaga. Sim, ele virou um Samurai e sim, tudo isso está no jogo.

E você pode – ou não – jogar a campanha toda com ele. Em certo momento, seu caminho cruza o de Naoe e a partir dali é possível perceber como o game começa a se destacar dos seus antecessores.

Yasuke e Naoe

Introduzir dois personagens jogáveis não é novidade na franquia, já que vimos isso em Assassin’s Creed Syndicate, Odyssey e Valhalla de um jeito feito as pressas. Diferente de jogos passados, aqui nós realmente sentimos uma grande diferença no modo de jogar de ambos os personagens (que vamos combinar, já era para ter acontecido faz tempo). E é aí que a Ubisoft começa a acertar.

Yasuke, por exemplo: na prévia em que jogamos, ele tem pouco tempo de treinamento em luta, porém é forte como um touro, então é ótimo para arrombar portas e lutar contra diversos inimigos de uma vez. Porém, é impossível andar em cordas que ligam os telhados das casas, subir prédios com telhados gigantes de templos japoneses ou até fazer um salto de fé bem-feito tarefas da qual Naoe consegue tirar de letra.

Leve e ágil, a shinobi Naoe é uma mistura de vários assassinos num só: ela tem a lâmina, a visão de águia e a destreza de um membro do credo. Porém uma pancada errada e lá se vai metade da sua vida, fazendo com que o jogador tenha que calcular qual personagem ele irá escolher para travar certas batalhas. Afinal, num lugar pequeno e fechado é melhor arrebentar o inimigo com um kanabo ou atacá-lo com kunais?

Durante a maior parte do jogo é possível alterar entre os personagens livremente, com eles aparecendo instantaneamente no mesmo lugar que o personagem anterior. GTA V me acostumou mal ao esperar que ao trocar de personagem ele estaria fazendo outra tarefa aleatória? Sim, mas isso não tira o brilho do jogo.

Outra coisa legal que a Ubisoft fez para diferenciar os personagens foi a introdução de atividades especificas para cada um espalhadas pelo mapa. Com Yasuke, pude testar duas delas: o Kata e o Yabusame. Por ser um samurai é possível que ele aprenda o Kata – sequência de movimentos usados por lutadores e guerreiros para que tenham mais precisão e equilíbrio durante as lutas ou o Yabusame, que é o treino de tiro ao alvo montado em um cavalo em movimento.

Já Naoe, tive acesso a apenas uma atividade que é o Kuji Kiri, uma prática espiritual comum no passado para te ajudar na concentração. Nele, você precisa repetir uma dada sequência de botões que vão sumindo aos poucos da tela para que o ensinamento chegue até você, junto de uma animação linda no final. Cada uma dessas atividades te concede Pontos de Conhecimento, que te ajudarão a desbloquear novas habilidades ao decorrer da sua jornada.

E aí, o que mudou?

Felizmente, as mudanças não ficam só na troca entre personagens jogáveis, já que a Ubisoft adicionou alguns elementos que darão uma revitalizada na saga, afetando diretamente o mundo a sua volta e como você pretende construí-lo. Sim, construir: agora você pode ter bases no jogo, conhecidas como Esconderijos.

Lembrando bastante as bases de Fallout com um toque de The Sims, Assassin’s Creed Shadows implementou um sistema em que você reutiliza materiais encontrados dentro do jogo para montar lugares para que você treine, aperfeiçoe armas e possa decorar do jeito que bem entender.

Por exemplo, ao ter certo número de material e dependendo do seu nível, é possível criar dentro do Esconderijo uma barraca de ferreiro na qual você irá gastar menos para forjar armas do que em outros cantos da cidade. São diversas construções e possibilidades, podendo escolher desde o tipo de pedra usada para o chão até os animais que irão morar lá — e você pode fazer carinho no cachorro. Não sou fã de montar bases assim, mas é um ponto positivo para diversificar o jogo dos seus anteriores.

Além disso, será possível recrutar aliados para te ajudar em lutas, bem parecido com o que Brotherhood fazia. Não foi explicado como iremos encontrar eles, porém é possível chamá-los para te auxiliar em missões, lutar com certos guardas fora do seu alcance ou até explorar locais para que objetivos sejam encontrados. É possível modificar suas roupas e habilidades no Esconderijo, podendo ter até quatro aliados ao mesmo tempo para te ajudar.

O ambiente também terá um espaço importante no gameplay, começando pelas estações do ano – as quatro delas. Durante o jogo, foi possível ver que o clima poderá te ajudar ou atrapalhar dependendo do que você for fazer. Na primavera, a grama estará um pouco mais alta que o normal, podendo se agachar entre ela e atacar algum inimigo, porém se você estiver no outono, terá que deitar-se para não ser visto, já que a grama não estará tão alta assim.

Inverno? Esquece. A neve não irá te ajudar, tendo que encontrar outras maneiras de seguir com sua missão. Será possível mudar as estações depois de um certo tempo, porém só iremos descobrir como isso irá funcionar após o lançamento. As estações também irão afetar os NPCs, já que até o vento poderá interferir no mundo do jogo.

Luzes e sombras também serão pontos a serem levados em conta: agora você pode usar as sombras para se esconder de inimigos e apagar velas dentro de lugares para que não seja visto — sim, me viram entrar num templo por conta da minha sombra na parede).

Origins e Odyssey, embora tenham coisas boas ,me cansavam muito depois de um tempo, já que era sempre fácil demais chamar um inimigo para o arbusto e matá-lo em seguida. Em Shadows, tive um pouco de dificuldade, pois eles podem me detectar se eu não me certificar de que fiz tudo certo para não ser pego, adicionando um desafio extra no stealth que já estava bem datado.

Um respiro numa saga desgastada

Embora o jogo tenha sofrido três adiamentos (seu lançamento original era para novembro de 2024, depois fevereiro de 2025 e agora 20 de março), foi possível notar o motivo deles – e ainda bem que adiaram. Ao perguntar sobre o motivo deles, Charles Benoist, diretor do jogo disse que não foi por conta das polêmicas com Yasuke ou mudanças na história, mas sim para polir aspectos das lutas e parkour dentro do jogo.

Mesmo sabendo que eu estava sob ambiente controlado, não cheguei a presenciar bug ou algo do tipo durante o gameplay, coisa recorrente em alguns jogos da empresa. E isso é ótimo, afinal antes um jogo adiado e bem-feito do que sair antes e ficar manchado para sempre (Watch Dogs e Unity que o diga).

Assassin’s Creed Shadows vai reinventar a roda? Não. Porém é nítido como a equipe no meio de tantos problemas está se esforçando para entregar uma experiencia nova para os jogadores, seja usando o ambiente como aliado do jogador ou anexando um sistema de construção que até então não existia na saga.

Shadows será o Assassin”s Creed definitivo?

Durante a apresentação, nos foi dito que Assassin’s Creed Shadows seria a experiencia definitiva da franquia, algo que não posso confirmar com somente seis horas de jogo. Se tem algo de bom que se possa tirar no meio dessa enorme maré de azar é que provavelmente a Ubisoft daqui pra frente trate todos os seus jogos como este está sendo tratado: com calma, atenção e polindo tudo que for possível para que se tenha espaço mais para elogios do que criticas.

As coisas não estão fáceis para a empresa francesa, porém fico na torcida para que consigam dar a volta por cima e voltem aos tempos de glória do passado. Será difícil? Talvez, porém Shadows parece ser o primeiro passo para uma nova era da Ubisoft, era boa diga-se de passagem. Mas isso é o tempo dirá.

Assassin’s Creed Shadows tem lançamento marcado para 20 de março no PC, PlayStation 5 e Xbox Series S e X.


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