Uma equipe de arqueólogos no Egito encontrou um túmulo de 4 mil anos que teria pertencido a um médico que provavelmente era também especialista em venenos e em magia. Os restos mortais foram encontrados em Sacara, um sítio arqueológico do Egito que funcionou como necrópole da antiga cidade de Mênfis.

Embora existam evidências de possíveis saques ocorridos no túmulo, as paredes do local permaneceram intactas e bem decoradas, o que revela detalhes importantes da pessoa que foi embalsamada e enterrada ali. Além disso, os arqueólogos também encontraram um sarcófago de pedra com as inscrições do nome e dos títulos do médico.

Quem era o médico enterrado?

As descobertas foram feitas por uma equipe arqueológica franco-suíça que trabalhou em conjunto. Os pesquisadores dizem ter revelado o túmulo de um médico real chamado Teti Neb Fu, que viveu no Reino Antigo, de acordo com uma declaração confirmada pelo Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito.

Dentre os títulos ostentados pelo “doutor”, estão o de ter sido Médico-Chefe do Palácio, Sacerdote e Mágico da Deusa Sélquis, além de Chefe dos Dentistas e Diretor de Plantas Medicinais. Ele serviu ao país durante o governo do Rei Pepi II, que se tornou líder durante a sexta dinastia do antigo Egito, ocorrida aproximadamente entre 2305 a.C. e 2118 a.C.

(Fonte: Egypt Today / Reprodução)
A tumba encontrada pertencia ao médico real Teti Neb Fu. (Fonte: Egypt Today / Reprodução)

Os achados foram destacados pelos porta-vozes do Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito. “O túmulo é adornado com esculturas impressionantes e obras de arte vibrantes, incluindo uma porta falsa lindamente pintada e cenas de oferendas funerárias”, afirmou a equipe do Ministério em uma postagem do Facebook.

O egiptólogo Philippe Collombert, que liderou a missão arqueológica, declarou que as paredes do túmulo são decoradas com relevos e inscrições que chamam a atenção. Entre um dos elementos de destaque está o teto pintado de vermelho, que busca se assemelhar a blocos de granito, um material que era comumente encontrado em edifícios imponentes. No meio do teto, aparecem os títulos e o nome do médico.

Novas informações sobre o Antigo Egito

As escavações na região de Sacara foram iniciadas em 2022, visando desenterrar os túmulos de funcionários públicos do Rei Pepi II. Entre as várias tumbas de autoridades e de suas respectivas esposas, o túmulo do médico Teti Neb Fu chamou a atenção.

Para começar, o túmulo é uma “mastaba” – termo que descreve um tipo de estrutura retangular com um telhado plano, normalmente construída de calcário ou tijolos de barro, e que costumava ser utilizada para enterrar faraós ou nobres importantes.

(Fonte: Arkeonews / Reprodução)
A tumba de Teti Neb Fu pode trazer novas luzes sobre a cultura dos antigos egípcios. (Fonte: Arkeonews / Reprodução)

Mas outro fato interessante é que, além de médico do governo, Teti Neb Fu também era considerado um sacerdote e “mago” devotado à deusa egípcia Sélquis – que, na mitologia, era quem protegia as pessoas que sofriam picadas e ferroadas venenosas.

Segundo os pesquisadores, isso é um indício de que Teti Neb Fu provavelmente era um especialista em tratar ferimentos causados por escorpiões ou cobras venenosas, o que fez com que ganhasse uma reputação “mágica” como curandeiro.

Muhammad Ismail Khaled, que ocupa o cargo de Secretário Geral do Conselho Supremo de Antiguidades no Egito, enfatizou a importância desta descoberta, pois ela revelaria novos aspectos da vida diária durante a era do Estado Antigo. Ela também confirmaria o respeito que essa população tinha tanto pela medicina quanto a magia.

As práticas de magia, aliás, eram muito populares no Egito Antigo. De acordo com uma publicação do Museu do Brooklyn, “o Egito era a mãe dos mágicos”. Há também indícios dessa constatação na Bíblia Hebraica, em momentos como quando o Faraó é assistido por mágicos que competem com Moisés e Aarão na realização de feitos mágicos como transformar cajados em serpentes. Os egípcios também acreditavam que as palavras (sejam elas escritas, faladas ou usadas em rituais) teriam o poder de influenciar o mundo.

O culto a Sélquis e a relação com a medicina e a magia

A deusa Sélquis era a deusa escorpião do Antigo Egito, que protegia os humanos vítimas de veneno e mordidas, e teria também a função de cuidar do faraó reinante. Por isso, ela era normalmente retratada como uma mulher com um escorpião ou dois enfeitando a sua coroa.

A deusa também era importante nos contextos funerários, e foi representada por uma estátua dourada sua que guardava o tórax do túmulo de Tutancâmon. Em ambientes tumulares, Sélquis costumava aparecer de braços estendidos, protegendo o que estava em seus braços. Ela ainda era exibida de forma zoomórfica completa como uma cobra, uma leoa ou um escorpião.

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
A deusa Sélquis costuma ser representada como um escorpião em sua cabeça. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Um fato curioso é que o Egito possuía dois tipos de escorpiões: um mais escuro e relativamente inofensivo, e outro mais claro, bem mais venenoso. Segundo a mitologia, a deusa Sélquis tomava a forma de um desses animais.

Mas, apesar da periculosidade desse bicho, ela se manifestava como uma divindade protetora e curadora que defendia os humanos contra a picada desses artrópodes.

No idioma egípico, seu nome era Serket-Heru, que significa “aquela que faz a garganta respirar” ou “a que facilita a respiração na garganta” – uma referência ao fato de que a picada do escorpião é capaz de levar à asfixia. Sélquis também prestava ajuda para que um recém-nascido ou um defunto, em seu renascimento, pudessem respirar. Por isso, ela também é citada em textos funerários como “mãe dos defuntos”, aos quais amamentava e dava um sopro de vida.

Vale lembrar que, para os antigos egípcios, a medicina e a magia eram provavelmente vistos com algum tipo de relação, sendo ambas reverenciadas e respeitadas. Como se sabe, os egípcios tinham conhecimento avançado da anatomia e sabiam até praticar cirurgias. Também sabiam como tratar muitas doenças, incluindo distúrbios dentários, ginecológicos, gastrointestinais e urinários. Há até um estudo de 2024 que mostrou a existência de um crânio egípcio com sinais de tentativas de um tratamento para câncer.

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