No dia 24 de março, exatamente um mês após a Rússia lançar sua invasão militar à Ucrânia, a Casa Branca anunciou a formação de uma equipe de especialistas para informar à OTAN sobre planos de contingência em caso de acionamento de qualquer tipo de “armas nucleares táticas”. Mas, o que são exatamente esses artefatos que, mais de 30 anos após o fim da Guerra Fria, ainda persistem nos arsenais tanto dos EUA quanto da Rússia?

Uma reportagem publicada no The New York Times dá uma pista do que são essas “pequenas” bombas atômicas. Segundo a publicação, são “armas de curto alcance, geralmente com pequenos rendimentos”. Construídas na mesma época em que eram desenvolvidas ogivas poderosas para ataques nucleares de longo alcance, essas armas nucleares de menor alcance formariam uma superartilharia contra eventual ataque soviético à Europa.

Canhão atômico M65, o Canhão atômico M65, o “Atomic Annie”. (Fonte: myself, Mark Pellegrini/Wikimedia Commons/Reprodução.)

Como surgiram as armas nucleares táticas?

Pesados investimentos feitos pelos EUA e Rússia desde o início da Guerra Fria na década de 1940 até a década de 1980 ultrapassaram milhares de vezes o poder de destruição da bomba atômica americana que destruiu Hiroshima em agosto de 1945. A perspectiva de uma potencial destruição mútua garantida, conhecida como MAD, gerou uma barreira psicológica na qual que eventuais ataques nucleares de grande porte se tornaram impensáveis.  

Quando a OTAN começou a se organizar, nas décadas de 1950 e 1960, a distância física das forças armadas norte-americanas fragilizava os países europeus que, em sua maioria, fazia fronteira com as nações do Pacto de Varsóvia. A solução encontrada para evitar uma iminente invasão soviética foi a implantação de armas nucleares táticas de curto alcance no caminho de qualquer avanço da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).  

A base de lançamento móvel 9K720 Iskander para mísseis balísticos está sendo usada na guerra da Ucrânia. (Fonte: Vitaly V. Kuzmin/Wikimedia Commons/Reprodução.)A base de lançamento móvel 9K720 Iskander para mísseis balísticos está sendo usada na guerra da Ucrânia. (Fonte: Vitaly V. Kuzmin/Wikimedia Commons/Reprodução.)

Antigas e novas ameaças

Uma das primeiras armas nucleares táticas implantadas na Europa foi a “Atomic Annie’, uma grande peça de artilharia que, em 1950, podia disparar uma ogiva nuclear de 15 quilotons (o equivalente à bomba de Hiroshima) a uma distância de mais de 29 quilômetros. Mas havia armas menores, como a ogiva Dacy Crockett, de apenas 20 toneladas de TNT com alcance de quatro quilômetros e a Munição de Demolição Atômica Especial, que ficava em uma mochila.

Mais tarde, o Exército dos EUA substituiu essas peças de artilharia por ogivas nucleares em foguetes de curto alcance. Ao tornar essas armas nucleares menores, porém com direcionamento mais preciso, seu uso acaba se tornando mais factível. No entanto, se ilude quem pensa que um “pequeno rendimento” de 0,3 quilotons produziria pequenos danos. Os mesmos horrores de Hiroshima estariam presentes, embora em menor escala.

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