Um dos maiores enigmas da vida, a chamada homoquiralidade, que é a preferência da vida por aminoácidos “canhotos”, foi objeto de um estudo recente financiado pela NASA. No entanto, a descoberta de que essa característica especial pode não ser resultado de um determinismo químico, aprofundou ainda mais o mistério.
Os aminoácidos, espécie de blocos de construção da vida, podem existir de duas formas: a canhota (levógira ou L) e destra (dextrógira ou D). Mas, na natureza, o que se percebe é que todos os aminoácidos usados pelos seres vivos atuam de forma L, ou seja, L-aminoácidos em proteínas, e os açúcares atuando de forma D em estruturas de ácidos nucleicos.
Publicada na revista Nature Communications, a pesquisa descobriu que o RNA, uma molécula que poderia ter sido a portadora de informações genéticas antes que o DNA existisse, pode produzir tanto aminoácidos canhotos quanto destros. A descoberta detona a tese de um determinismo químico na origem da vida e de uma orientação molecular específica.
Hipótese de um mundo de RNA na origem da vida
Os pesquisadores testaram a hipótese de que foi o RNA, uma molécula “terceirizada” pelo DNA para levar instruções aos ribossomos construtores de proteínas, o responsável original por esse tipo de construção de proteínas canhotas em vez de destras. Isso se tornou um mistério, pois uma vida baseada em aminoácidos destros teoricamente funcionaria bem.
Para simular condições potenciais da Terra primitiva, os autores colocaram moléculas de RNA funcionando como enzimas, uma função própria de proteínas, mas incomum para uma molécula de nucleotídeos. Atuando como enzimas, as moléculas de RNA construíram aminoácidos, batizados como ribozimas.
Segundo a autora correspondente Irene Chen, cientista da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), “O experimento demonstrou que as ribozimas podem favorecer aminoácidos canhotos ou destros, indicando que os mundos de RNA, em geral, não teriam necessariamente um forte viés para a forma de aminoácidos que observamos na biologia agora”.
A “culpa” da homoquiralidade não é do RNA
Conforme o coautor Alberto Vázquez-Salazar, pós-doutorando da UCLA, “As descobertas sugerem que a eventual homoquiralidade da vida pode não ser resultado do determinismo químico, mas pode ter surgido por meio de pressões evolutivas posteriores“.
Ele se refere especificamente aos blocos de construção da vida (aminoácidos) trazidos por asteroides, durante a história prebiótica da Terra, cujos registros fósseis foram apagados pelas placas tectônicas.
Embora não tenha chegado a uma conclusão fechada sobre a homoquiralidade, a compreensão das propriedades químicas da vida fornece pistas úteis para a NASA “saber o que procurar em nossa busca por vida em todo o sistema solar”, afirmou o coautor Jason Dworkin, do Goddard Space Flight Center.
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