Apresentadas como verdadeiras maravilhas da natureza, as aves-do-paraíso (Paradisaeidae) são um grupo deslumbrante de pássaros mundialmente famosos pela sua plumagem brilhante e colorida. Encontradas principalmente na Nova Guiné, essas aves performam rituais de acasalamento nos quais parecem emitir luz durante complexas coreografias.

Agora, uma equipe de cientistas do Museu Americano de História Natural (AMNH) e da Universidade de Nebraska-Lincoln, ambos nos EUA, descobriu que sim: 37 das 45 espécies das aves-do-paraíso apresentam biofluorescência. Em outras palavras, elas absorvem luz em um comprimento de onda e a reemitem em um comprimento de onda diferente, geralmente em tons de azul, verde ou vermelho.

Publicado na revista Royal Society Open Science, o estudo explica como algumas áreas da plumagem ou outras partes do corpo desses pássaros absorvem luz ultravioleta (UV) e a emitem em frequências mais baixas. “Os comprimentos de onda biofluorescentes emitidos são verde e verde-amarelo”, afirmam os autores no artigo.

Estudando a luz emitida pelas aves-do-paraíso

imagem-mostra-a-biofluorescencia-nas-aves-do-paraiso.jpg
Brilhando sob luz UV, os machos de aves-do-paraíso exibindo flashes para atrair parceiras. (Fonte: Rene Martin/Divulgação)

A pesquisa, que se baseou em espécimes do AMNH coletados desde 1800, sugere que o brilho característico das plumagens analisadas se deve à reemissão de luz UV. “No mínimo, isso tornaria essas áreas biofluorescentes mais brilhantes: uma pena amarela pode ser mais verde-amarelada, uma pena branca pode ser mais brilhante e ligeiramente mais verde-amarelada”, explica em um comunicado a primeira autora do estudo, Dra. Rene Martin, do museu de Nova York.

Das 37 espécies biofluorescentes encontradas, que representam 14 dos 17 gêneros existentes, somente Lycocorax, Manucodia e Phonygammus não apresentam o fenômeno de produção de luz. Para testar essa manifestação, os autores colocaram machos e fêmeas de cada espécie sob luz azul em uma sala escura, e registraram os comprimentos de onda e a intensidade da luz emitida.

Os resultados mostraram que machos de 21 espécies apresentaram fluorescência em penas corporais e barbelas faciais, enquanto 16 espécies revelaram o fenômeno internamente, em partes da boca e garganta. Além disso, fêmeas de 36 espécies, e possivelmente todas as 37, exibiram biofluorescência em diferentes regiões do corpo, como peito e barriga, além de uma espécie de faixa ocular na lateral da cabeça.

O fenômeno da biofluorescência em peixes e pássaros

imagem-mostra-uma-ave-do-paraiso-pousando-em-galho.jpg
As aves-do-paraíso chegam a construir “palcos” para exibir sua plumagem colorida. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O fenômeno da biofluorescência em organismos vivos vem sendo estudado nos últimos anos pelo curador do AMNH, John Sparks, que é ictiólogo e coautor do estudo atual. Estudando principalmente peixes, com uma configuração de fotografia especializada, com luzes UV e azul, a equipe do museu capturou biofluorescência em espécies como tubarões, tartarugas e corais.

Há cerca de uma década, o pesquisador-curador trabalhou em parceria com ornitólogos para analisar o fenômeno de produção de luz em pássaros. “Apesar de existirem mais de 10 mil espécies de aves descritas, com numerosos estudos que documentaram sua plumagem brilhante, exibições de acasalamento elaboradas e excelente visão, surpreendentemente, muito poucos investigaram a presença de biofluorescência”, reconhece Sparks.

Embora conhecidos por construírem palcos onde realizam shows de acasalamento multicoloridos e brilhantes, as aves-construtoras e os pequenos malurus da Austrália e da Nova Guiné não mostraram brilho em seus corpos. No entanto, Sparks conseguiu identificar uma fluorescência verde-amarela brilhante em algumas aves-do-paraíso, o que motivou a realização do estudo atual.

Para que serve a biofluorescência nas aves-do-paraíso?

Segundo os autores, as exibições de cortejo dos machos de espécies biofluorescentes seriam potencializadas pelo fenômeno. Como exemplo, eles citam os machos da espécie Lophorina (conhecida como ave-do-paraíso soberba), que abrem suas bocas para as fêmeas durante suas performances de acasalamento.

“Os machos das aves-do-paraíso geralmente têm essas manchas próximas à plumagem totalmente preta [ou] escura, então o efeito adicional da biofluorescência pode ajudar a tornar essas áreas de sinalização ainda mais brilhantes ao serem usadas durante exibições”, acrescenta Martin em um comunicado.

Para as fêmeas, no entanto, o fenômeno parece desempenhar um papel diferente. Segundo o estudo, a localização e os padrões de plumagem biofluorescente sugerem uma possível função de camuflagem, para se confundir com o ambiente. Martins destaca que, mesmo em um grupo tão estudado quanto as aves-do paraíso, há espaço para “novos insights sobre a visão, o comportamento e a morfologia das aves”.

O que você achou desse artigo? Leia mais insights sobre o comportamento das aves e outros animais aqui no TecMundo, e compartilhe a matéria em suas redes sociais. Aproveite para conhecer os plânctons, organismos microscópicos que vivem suspensos na água, são fundamentais na cadeia alimentar e na produção de oxigênio do planeta, e… brilham por biofluorescência. Até a próxima.


Previous post Trailer do live-action de Meninas Superpoderosas aparece na internet (e não é bom)! Assista aqui
Next post Os acidentes aéreos no Brasil e no mundo aumentaram ou é só impressão?