Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Vivemos um tempo em que a máquina não é a ameaça. A ameaça é a mente humana cada vez mais distraída, desorganizada e condicionada a recompensas instantâneas. Não será a inteligência artificial que destruirá empregos, mas a incapacidade de muitos em manterem sua própria inteligência funcionando.
O problema não é a IA. O problema é o que grande parte das pessoas está se tornando: cognitivamente despotencializadas.
Hoje, um número crescente de indivíduos não consegue mais sustentar um raciocínio por mais de alguns segundos. Isso é consequência direta de um estilo de vida moldado por algoritmos de dopamina: scroll infinito, vídeos curtos, notificações em excesso. Tudo isso recalibra o cérebro para respostas rápidas, mas superficiais. O resultado? Atenção fragmentada, memória prejudicada, criatividade atrofiada.
A neurociência já mostra claramente o impacto: o córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento lógico e planejamento, sofre com a falta de uso. O hipocampo, que consolida memórias, fica inibido pela enxurrada de estímulos. A rede de modo padrão — que participa dos devaneios criativos — é silenciada por um bombardeio constante de conteúdo. A dopamina, neurotransmissor do prazer, passa a responder a qualquer estímulo banal. Isso vicia. E emburrece.
Se você não consegue mais se concentrar para ler um texto como este até o fim, talvez já esteja sendo substituído.
O que está se formando é uma sociedade dividida. Uma minoria vai dominar as máquinas porque ainda é capaz de aprender, criar, conectar ideias. O restante, cada vez mais improdutivo, será sustentado por sistemas de renda básica, pagos com impostos sobre tecnologia. Ou seja: um pequeno grupo ativo vai carregar, literalmente, a maioria passiva.
É cruel? É. Mas é consequência lógica.
Quando se abre mão do esforço cognitivo em nome da facilidade, alguém — ou algo — fará o trabalho por você. E quem faz, comanda. O futuro não será das máquinas. Será daqueles que ainda conseguem pensar por si mesmos.
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Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Pós-PhD em Neurociências, é membro da Society for Neuroscience (EUA), Royal Society of Biology e Medicine (Reino Unido), entre outras. Mestre em Psicologia, licenciado em História e Biologia, tecnólogo em Antropologia e Filosofia. Autor de 300 estudos e 30 livros, membro de sociedades de alto QI como Mensa, Intertel, Triple Nine, IIS e ISI. Professor em PUCRS, UNIFRANZ e Santander, diretor do CPAH e criador do projeto GIP.