Pesquisadores da Universidade de Princeton publicaram recentemente um estudo surpreendente: eles mostraram que a pobreza é tão exaustiva mentalmente que as pessoas pobres têm pouca capacidade cerebral para se dedicar a outras áreas de sua vida. 

Por conta disso, as pessoas desfavorecidas economicamente estariam mais propensas a tomar más decisões que podem aumentar – e mesmo piorar – seus problemas financeiros, em uma espécie de bola de neve.

Os cientistas sugerem algo muito impactante: o problema da pobreza é muito grave porque, aos poucos, a pessoa vai perdendo as chances de sair dela. Isto porque sua função cognitiva é prejudicada por conta dos esforços mentais que ela gasta para procurar maneiras de pagar as contas e suprir suas necessidades mais básicas. Por conta disso, ela tem menos recursos cerebrais para investir em questões ligadas à sua educação ou ao aprimoramento profissional.

Como o estudo foi feito

(Fonte: Pexels)(Fonte: Pexels)

O estudo foi feito a partir de uma série de experimentos que constataram que as preocupações financeiras afetam profundamente a capacidade de um indivíduo de fazer raciocínios lógicos simples. De acordo com o que foi levantado, uma pessoa sem dinheiro tende a ter uma queda de 13 pontos no seu QI, o equivalente ao impacto no cérebro de passar uma noite sem dormir.

Por outro lado, quando as mesmas pessoas não estavam lidando com problemas financeiros, elas se saíam bem nos testes. “Essas pressões criam uma preocupação saliente na mente e atraem recursos mentais para o problema em si. Isso significa que não podemos nos concentrar em outras coisas da vida que precisam de nossa atenção”, explicou Jiaying Zhao, um dos autores da pesquisa.

Outros estudos sobre os efeitos da pobreza

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Mas não é a primeira vez que a ciência chega à conclusão de que a pobreza prejudica as funções cerebrais. Em 2013, o cientista comportamental Eldar Shafir e o economista Sendhil Mullainatha lançaram um livro chamado Escassez – Uma Nova Forma de Pensar a Falta de Recursos na Vida das Pessoas e nas Organizações.

Na obra, eles usam a expressão “banda larga mental” para explicar o efeito do excesso de preocupações no cérebro dos endividados. Eles comparam o cérebro a um computador com vários programas abertos ao mesmo tempo: sua performance fica necessariamente prejudicada.

“A banda larga mental é muito limitada. Muitas vezes você precisa focar na urgência do agora e faz isso com competência: resolve o problema. Mas se esse movimento ocorrer o tempo inteiro nunca será suficiente. Vai negligenciar outras áreas da sua vida”, explicou Shafir em entrevista à BBC.

É um raciocínio semelhante ao desenvolvido no livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, de Daniel Kahneman, que já venceu o prêmio Nobel de economia. No livro, ele difundiu a ideia que tomadas de decisão feitas em situações de escassez levam a julgamentos apressados e equivocados.

Todas estas constatações estão sendo úteis para esclarecer os mecanismos perversos da pobreza e da desigualdade social. O que se observa é que, quando um sujeito cai na miséria, vai ficando cada vez mais difícil sair dela. Deste modo, pode-se provar que os problemas econômicos vão muito além da irresponsabilidade de quem contraiu a dívida, como muitas pessoas costumam acreditar.

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