No meio de uma região de selva fechada em Belize, existe uma caverna que por muitos anos foi utilizada pelos maias para reencenar a história da criação. A Actun Tunichil Muknal (caverna ATM) é uma entrada para Xibalba, o submundo sagrado dos maias.
Xibalba é descrito na mitologia maia como um lugar no mundo inferior onde espíritos de doenças e morte reinam. Segundo o Popol Vuh — algo como “livro da comunidade”, é um dos principais registros culturais dos maias —, seria uma corte abaixo da superfície da Terra associada à morte e com doze deuses ou governantes poderosos conhecidos como os Senhores de Xibalba. A caverna ATM era utilizada como uma representação deste local.
Uma oferenda aos deuses do submundo
Esqueleto de uma pessoa que foi utilizada durante um sacrifício maia na caverna ATM.
Os primeiros estudos levaram os pesquisadores a concluir que a caverna ATM era um local utilizado para que os maias se conectassem com suas divindades. Mas foi somente em 2021, que um grupo de arqueólogos liderados por Holley Moyes e Jaime J. Awe conseguiu construir uma imagem das cerimônias religiosas que aconteciam ali.
De acordo Moyes e Awe, os maias estavam usando a caverna para encenar reconstituições teatrais elaboradas e mortais do mito da criação. Não existem relatos sobre o que realmente acontecia nestas cerimônias, nem sua principal motivação. A principal teoria é que os maias estavam pedindo um “renascimento” do mundo para os deuses durante um período de forte seca.
No mito da criação Popol Vuh, duas figuras divinas conhecidas como os Heróis Gêmeos vão ao submundo para acalmar os Senhores de Xibalba e desafiá-los para um jogo. Os gêmeos perdem e são prontamente sacrificados, mas acabam sendo vingados por outros heróis. Um destes heróis vingado renasce como o Deus do Milho, que dá origem a toda a vida humana.
Evidências dentro da caverna ATM sugerem que é esse mito que os maias estavam reencenando. “Os maias devem ter acreditado que os senhores de Xibalba estavam triunfando de alguma forma durante o período de seca”, disse Moyes. “Os Senhores de Xibalba não têm permissão para ter coisas boas, e quase tudo o que encontramos na caverna está quebrado, o que me faz pensar que devem ser oferendas para divindades do submundo”.
Dentro da caverna
Entrada da caverna ATM.
A caverna ATM, que hoje é aberta a visitação, possui alguns rios que se espalham por dentro. Em determinados pontos, é necessário nadar para poder avançar. Os pesquisadores acreditam que era assim também com os maias, que provavelmente precisavam nadar com tochas acesas. Por mais de 1.000 anos, os 5 quilômetros de túneis da ATM permaneceram intactos. Sua descoberta aconteceu em 1986, por moradores da região. Pouco tempo depois os primeiros esqueletos foram encontrados pelo hidrólogo e espeleólogo Thomas Miller.
Por ser um sítio arqueológico que se manteve intocado por séculos, ele logo se tornou objeto de muitos estudos, oferecendo aos cientistas um vislumbre único da religião e sociedade maia de cerca de 700 a 900 a.C.. Ao chegar à câmara principal, é possível se deparar com uma parte importante da história dos maias. Quase 1.500 objetos e fragmentos foram registrados até agora, além de 21 esqueletos humanos.
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