Os buracos negros estão entre os objetos mais misteriosos e fascinantes do Universo. Previstos em decorrência da Teoria da Relatividade Geral (TRG) de Albert Einstein em 1916, esses corpos celestes possuem um campo gravitacional tão intenso que nada, nem mesmo a luz, pode escapar de sua influência. Mas o que realmente acontece dentro de um buraco negro?

A ideia de um objeto com gravidade extrema surgiu no século XVIII, quando o matemático John Michell e o cientista Pierre-Simon Laplace especularam sobre a existência de “estrelas escuras” cujas velocidades de escape seriam maiores que a velocidade da luz. 

No entanto, foi só com Einstein que essa ideia se tornou matematicamente consistente. Em 1916, o físico alemão Karl Schwarzschild encontrou a primeira solução exata das chamadas equações de Einstein, descrevendo o que hoje chamamos de buraco negro.

Raio-de-Schwarzschild.jpg
Calculado por Karl Schwarzschild, o Raio de Schwarzschild, ajudou a definir o limite para a formação do que hoje conhecemos como buraco negro. (Fonte: Perth Observatory)

Os buracos negros se formam principalmente pelo colapso gravitacional de estrelas massivas no fim de sua vida, após esgotarem seu combustível nuclear. Dependendo da massa inicial da estrela, o colapso pode formar uma anã branca, uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.

Um buraco negro é definido por seu “horizonte de eventos”, uma região esferoidal que marca o ponto de não retorno: tudo que atravessa esse limite é inevitavelmente atraído sem a possibilidade de saída. Em seu centro, a TRG prediz a existência de uma “singularidade”, uma região onde a densidade e a curvatura do espaço-tempo se tornam infinitas.

O problema é que a física moderna ainda não consegue descrever o que acontece nesse ponto. As leis conhecidas da física deixam de ser aplicáveis, indicando que uma teoria da gravidade quântica é necessária para resolver esse enigma.

ilustração-de-um-buraco-negro.jpeg
Diagrama das estruturas conhecidas de um buraco negro. (Fonte: NASA)

Embora o horizonte de eventos seja uma barreira intransponível para obtermos informações do seu interior, algumas teorias tentam descrever o que poderia estar lá dentro:

  • Espaço-tempo curvado ao extremo: dentro do horizonte de eventos, todas as trajetórias levam inevitavelmente à singularidade.
  • Dilatação temporal extrema: para um observador externo, um objeto caindo em um buraco negro pareceria desacelerar conforme se aproxima do horizonte de eventos, nunca o atravessando completamente. 
  • Radiação de Hawking: embora os buracos negros sejam considerados objetos “negros”, Stephen Hawking propôs que eles possam emitir uma radiação quântica causada pela criação e aniquilação de pares de partículas virtuais, que os levariam a se evaporar lentamente ao longo de trilhões de anos.
Representação-artística-de-um-buraco negro.jpeg
Representação artística de um buraco negro. (Fonte: NASA)

De modo a evitar os problemas gerados pela singularidade dos buracos negros para a física teórica, os cientistas propuseram algumas hipóteses buscam evitar essa anomalia:

  • Gravidade Quântica: a teoria das cordas e a gravidade quântica em loop sugerem que os efeitos quânticos podem evitar a formação de uma singularidade, talvez a substituindo por um “núcleo” finito.
  • Buracos de Minhoca: algumas soluções matemáticas sugerem que os buracos negros poderiam ser atalhos para outras regiões do Universo, mas ainda não temos evidências experimentais disso.
  • Estrelas de Planck: modelos recentes propõem que buracos negros possam se transformar em estruturas densas colapsadas no comprimento de Planck (cuja dimensão equivale a um bilionésimo de um bilionésimo de um bilionésimo de metro), chamadas “estrelas de Planck”, onde os efeitos quânticos evitam o colapso total. 

Com o avanço das observações astronômicas, nossa compreensão sobre buracos negros continua a crescer. Em 2019, a colaboração Event Horizon Telescope revelou a primeira imagem direta da sombra de um buraco negro na galáxia M87, confirmando previsões da relatividade geral. 

A detecção de ondas gravitacionais por observatórios como LIGO e Virgo também fornece evidências concretas da fusão desses objetos.

 um-buraco-negro-supermassivo-M87*jpg
(Primeira imagem da história de um buraco negro supermassivo, M87*. (Fonte: NASA)

No futuro, experiências quânticas podem nos ajudar a entender se buracos negros são realmente portas para outras dimensões ou apenas armadilhas gravitacionais absolutas. Se conseguirmos unir a relatividade geral e a mecânica quântica, talvez um dia descubramos o que realmente existe dentro de um buraco negro

Até lá, esses colossos continuarão nos desafiando e alimentando nossa curiosidade sobre os mistérios mais profundos do cosmos.