Embora os historiadores da ciência apontem a chamada Revolução Científica, entre os séculos 16 de 17, como o nascimento da ciência moderna, observações astronômicas e calendários primitivos já eram criados por sociedades neolíticas por volta do ano 10000 a.C.
Os primeiros agricultores daquela época precisavam observar sistematicamente os ciclos sazonais, relacionar eventos celestes com mudanças climáticas e documentar isso, ainda que de forma oral. Bem antes disso, os caçadores-coletores desenvolveram conhecimentos sobre o comportamento animal, bem como compreensão dos habitats, técnicas de previsão de movimentos migratórios e métodos de rastreamento.
Mas, embora esses conhecimentos tenham sido literalmente vitais para a espécie humana, não podem ainda ser considerados como ciência, ainda que incorporem alguns elementos como observação sistemática, reconhecimento de padrões, formulação de hipóteses simples, teste prático e transmissão e refinamento do conhecimento por gerações.
As primeiras formas de conhecimento científico

As diferenças entre essas práticas sofisticadas de entendimento do mundo natural e a ciência moderna são: a formalização do método, uma documentação sistemática, a busca intencional por explicações causais (não mágicas) e, principalmente, a sua disposição para revisar afirmações anteriores quando novas evidências assim o determinam.
Ainda assim, esses conhecimentos foram imprescindíveis, pois a sobrevivência das pessoas dependia da precisão das observações e previsões. Essa dependência acabou criando um forte incentivo para o desenvolvimento desses primeiros sistemas de conhecimento baseados na observação do mundo natural
Em um artigo recente, publicado na plataforma The Conversation, o historiador da ciência James Byrne, professor da Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA, diz considerar os astrônomos da antiga Babilônia, com seus observatórios e registros detalhados, como os primeiros cientistas do mundo.
Por que a astronomia babilônica pode ser considerada científica?

Desenvolvendo-se na região onde é hoje o centro-sul do Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, a civilização babilônica floresceu há cerca de 2,5 mil e 4 mil atrás, e foi uma das mais importantes da Mesopotâmia antiga. Sua astronomia pode ser considerada científica pela abordagem sistemática e registros detalhados de seus escribas, além do uso da matemática avançada e da capacidade de prever eventos celestes com precisão.
Em uma época em que não havia relógios, o céu funcionava como uma espécie de marcador universal do tempo. Durante o dia, o Sol indicava as horas, e à noite, as estrelas serviam de guia. Os calendários também se baseavam nos astros: um mês correspondia ao ciclo lunar, e um ano, à órbita da Terra ao redor do Sol. Além de relógio, o céu era considerado pelos babilônios como um mapa para prever colheitas, festivais e até mudanças políticas.
Para fazer suas “previsões”, os babilônios observavam constelações fixas e planetas errantes, além de fenômenos como eclipses, e os interpretavam como presságios. Registrados em obras como o compêndio Enuma Anu Enlil, esses prognósticos acabavam por aprimorar o estudo detalhado da astronomia, que era, em grande parte, separada das interpretações astrológicas
Como os astrônomos babilônicos registravam suas observações?

A fundação da astronomia babilônica foi compilada, por volta do século 7 a.C., em um livro chamado MUL.APIN, que servia como um guia prático para a observação dos céus. Ele continha informações obre constelações, movimentos dos planetas, estações do ano e calendários, além de técnicas para prever eventos celestes, como o surgimento e o desaparecimento das estrelas.
Em seus Diários Astronômicos, os escribas babilônicos registraram, por mais de 700 anos, as posições da Lua, planetas, clima e preços de grãos, correlacionando presságios celestes a eventos terrestres. Os registros permitiram previsões científicas, como os “anos-objetivo”, que calculavam o retorno de planetas às mesmas posições. Chamadas de efemérides no século 4 a.C., essas tabelas matemáticas são consideradas um marco na história da ciência.
Para se ter uma ideia da precisão e da importância dessas obras da astronomia babilônica, basta dizer que, até hoje, contamos as horas como eles faziam. Em vez do nosso sistema decimal, os babilônios usavam um sistema sexagesimal. E é por isso que, até os moderníssimos relógios atômicos de rede óptica dividem uma hora em 60 minutos e um minuto em 60 segundos.
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