O novo modelo generativo Gemini 2.0 Flash tem demonstrado grande capacidade, e aparentemente consegue até remover marcas d’água para “piratear” imagens de bancos pagos. No último fim de semana, usuários descobriram que uma ferramenta do Google AI Studio permite eliminar qualquer marcação de imagens com perdas imperceptíveis na qualidade — e o TecMundo conseguiu ver o recurso em ação.
A descoberta ganhou tração quando usuários compartilharam os resultados dos testes nas redes sociais. Conforme mostram essas publicações e os experimentos realizados pelo TecMundo, as imagens tratadas ficam praticamente idênticas às originais, mas sem qualquer marcação do banco de imagens.
Um dos exemplos mais notáveis envolve fotos do Getty Images, um dos bancos de imagens pagos mais populares. O Gemini 2.0 Flash remove a marca d’água no canto da imagem sem dificuldade, preenchendo automaticamente o espaço vazio com conteúdo gerado a partir do próprio contexto da foto.
Atualmente, a capacidade de geração de imagens do Gemini ainda está em fase experimental e não disponível para aplicações finais. O acesso à ferramenta é restrito aos usuários do Google AI Studio, plataforma voltada para desenvolvedores.
No entanto, o Gemini 2.0 Flash não é perfeito em todas as ocasiões. Conforme destacou o site TechCrunch, algumas marcações semi-transparentes não são completamente removidas, especialmente quando cobrem grandes áreas da imagem.
Impacto nos bancos de imagens pagos
Empresas que administram bancos de imagens pagos já lidam há anos com softwares capazes de remover marcas d’água e, por isso, estão em constante atualização para impedir o uso não autorizado de seus arquivos. Agora, a capacidade do Gemini 2.0 Flash representa mais um desafio para esses serviços.
Gemini 2.0 Flash, available in Google”s AI studio, is amazing at editing images with simple text prompts.
It also can remove watermarks from images (and puts its own subtle watermark in instead ??) pic.twitter.com/ZnHTQJsT1Z
— Tanay Jaipuria (@tanayj) March 16, 2025
Outras inteligências artificiais generativas oferecem recursos semelhantes, mas contam com restrições de segurança para evitar a remoção de marcas d’água de imagens protegidas. Modelos como o Claude 3.7 Sonnet, da Anthropic, e o GPT-4o, da OpenAI, se recusam a realizar esse tipo de alteração quando solicitados.
Testamos a remoção de marcas d’água
O TecMundo testou a ferramenta com Gemini 2.0 Flash e conseguiu remover marcas d’água de imagens do Getty Images e do Shutterstock. Os resultados foram bastante convincentes, embora algumas imperfeições visuais ainda fossem perceptíveis.
As imagens processadas pelo modelo geram automaticamente uma marca d’água do Gemini no canto do arquivo, mas essa marca pode ser facilmente removida em qualquer editor de imagem com ferramenta de recorte. Além disso, a imagem gerada também é marcada com a marca d”água invisível SynthID, também removível com facilidade com ferramentas alternativas ou edições complementares.
Remover marcas d’água de imagens é crime?
Os bancos de imagens geralmente possuem regras rígidas para a reprodução de seus arquivos. No caso de serviços pagos, apenas assinantes têm autorização para utilizar as imagens. A remoção de marcas d’água por meio de ferramentas externas pode ser considerada reprodução indevida, sendo necessário o pagamento de royalties ao autor ou detentor dos direitos.
Nos Estados Unidos, a prática é considerada ilegal, salvo em raras exceções. No Brasil, a remoção da marca d”água também pode ter consequências legais, pois o uso não autorizado pode se enquadrar como violação de direitos autorais.
“Se alguém usa uma imagem com marca d”água removida por para publicação, ele pode responder pelo crime de violação de direitos autorais, conforme descreve o artigo 184 do Código Penal brasileiro”, explicou Dr. Luiz Augusto D”Urso, advogado especialista em Direito Digital ouvido pelo TecMundo. A pena pode chegar a detenção de 3 meses a um ano ou multa.
A pena é ainda maior para quem usa imagens de forma não autorizada para fins comerciais, chegando a reclusão de 1 a 4 anos e multa.
Google também pode ser levada à justiça
Os detentores de bancos de imagens pagos podem entrar com ações coletivas contra o Google para questionar o uso do Gemini 2.0 Flash para remover marcas d”água, contou D”Urso.
“Nunca uma IA de uma empresa tão grande deveria permitir esse tipo de utilização, até porque não se trata de uma utilização com alteração do código fonte [do modelo], mas, sim, uma aplicação padrão”, pontuou o advogado. O jurista diz que é responsabilidade do Google a aplicação de travas de segurança para evitar esse tipo de uso indevido do Gemini 2.0 Flash.
“Se a empresa sabe que a inteligência artificial é utilizada para remover marcas d”água e não faça nada para prevenir isso, ela pode sim ser levada à justiça”, concluiu D”Urso.