Desde 2024 a AMD vive um dos melhores anos em sua história recente, seja pela consolidação da marca no território dos AI PCs, uma maior inserção no mercado de data centers, e o retorno mais acalorado no segmento das GPUs gamer. O time vermelho aposta na constância e um planejamento coordenado para manter sua expansão.

O TecMundo realizou uma entrevista exclusiva com três representantes da AMD Brasil, que detalharam os esforços da companhia ao longo de 2024, e algumas expectativas para 2025.

Setor de data centers é o carro-chefe

Com dados revelados no início de fevereiro, a AMD apontou uma receita alta de US$ 3,85 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões em conversão direta) somente no setor de data centers durante o quarto trimestre de 2024. O montante é 69% superior em relação ao valor arrecadado no mesmo período de 2023.

O fato de quase 70% da receita da AMD ser proveniente de aceleradores de IA e servidores não é nem de longe uma surpresa. As margens de lucro das grandes empresas estão sendo tomadas pela ascensão meteórica da inteligência artificial generativa e a necessidade de hardwares cada vez mais precisos.

Planilha de relatório financeiro da AMD no Q4 de 2024
Setor gamer mostrou desaleceração rotineira no planejamento da AMD (Imagem: AMD)

Nesse sentido, o especialista de hardware da AMD Brasil, Alfredo Heiss, aponta que o sucesso recente da companhia tem relação com o roadmap bem ajustado. A gigante vermelha tem lançado produtos de maneira consistente e acredita que vem “ganhando cada vez mais a confiança do mercado e investidores”.

Heiss indica que o segmento de data centers até mesmo no Brasil segue um bom ritmo para a empresa. O executivo destaca que por mais que a produção da linha de processadores EPYC tenha sido tardia no país, a empresa conseguiu parcerias importantes com grandes empresas, como Dell, Lenovo, HP e Supermicro nos últimos anos.

De modo geral, a adoção desse tipo de tecnologia tende ser mais lenta pelas empresas, justamente por ser uma área que necessita de estabilidade para funcionar. Um movimento observado desde 2023 é a conversão de diversas companhias para utilizar o ecossistema da AMD.

Por exemplo, em 2023 a Oracle Exadata anunciou que utilizaria os processadores AMD EPYC de 4ª geração em sua infraestrutura. O mesmo ocorreu com a Cisco em 2024, a empresa focada na elaboração de softwares e serviços usa a mesma tecnologia da equipe vermelha.

Renderização de uma CPU AMD EPYC para data center
Certas versões das CPUs AMD EPYC para data centers têm quase 200 núcleos para computação de alto nível (Imagem: AMD)

“Esse número de crescimento não é um resultado que veio de repente. É algo que a AMD está construindo há muitos anos e isso dá confiança no mercado. Então não tem mágica. Tem regularidade, entrega e resultado”, explica Alfredo Heiss.

AMD apoia o DeepSeek

O DeepSeek se tornou a primeira grande tecnologia a cair nas graças do público durante 2025, e foi responsável por fazer gigantes como a Nvidia desvalorizarem muito dinheiro. Os criadores afirmam que conseguiram desenvolver seu modelo de IA, o DeepSeek-R1 com somente US$ 6 milhões (R$ 34 milhões).

Na visão da AMD, como aponta Alfredo Heiss, a própria companhia explicou oficialmente como os usuários interessados poderiam rodar o modelo chinês por meio de GPUs AMD. Assim que o DeepSeek estourou no fim de janeiro, a empresa criou tutoriais sobre como rodar a LLM (Grande Modelo de Linguagem) em suas placas gráficas Radeon e nos processadores Ryzen AI.

O porta-voz da companhia sugere uma certa proximidade entre a AMD e a DeepSeek, visto que a LLM chinesa trabalha em código aberto e o time vermelho tem um longo histórico em desenvolver tecnologias com a mesma característica. Heiss comenta que o ROCm, a plataforma aberta da AMD para desenvolvedores com drivers, APIs e diversas ferramentas, já oferece suporte para treinar a IA do DeepSeek.

Celular com app DeepSeek aberto
Nvidia já confirmou que a DeepSeek usa suas GPUs para treinar os modelos de IA (Imagem: GettyImages)

Apesar disso, Alfredo adota cautela ao comentar a respeito das “incríveis” capacidades dessa LLM. “Não há uma auditoria [sobre os valores de investimento]. Ou a empresa pegou uma LLM pré-treinada e deu um ‘tapa’ por cima, ou realmente não explicou esses números […] Nós damos suporte, roda em Radeon e Radeon Pro, e temos toda essa compatibilidade nas APUs de notebook também. Mas viver com preocupação sobre isso [ascensão das IAs chinesas]? Não”, explica Heiss.

AMD foca em eficiência nos novos Ryzen

Deixando o mundo da IA e do corporativo de lado, 2024 foi um ano bem interessante para a AMD quando o assunto são os processadores de uso cotidiano, e claro, a linha gamer. Em junho, a empresa anunciou os Ryzen AI de série 300 com foco em inteligência artificial e gráficos integrados mais potentes para notebooks.

O TecMundo já conversou com uma representante especializada na área de notebook, que destacou parcerias com outras empresas e os desafios na alta do dólar. O tópico, dessa vez, tem relação com o lado das CPUs para computadores de mesa com os Ryzen 9000.

Lançada em agosto, a linha Ryzen 9000 não empolgou tanto assim o público. Os modelos regulares não chegam a oferecer um salto geracional tão forte assim, mas se destacam no baixo consumo energético e menor aquecimento — tópicos que os Ryzen 7000 deixaram a desejar.

Para um dos gerentes de Componentes da AMD Brasil, Artur Oliveira, a adesão dos Ryzen 9000 ainda engatinha no Brasil. Oliveira aponta que por conta da companhia ter lançado somente os Ryzen 9000X, ou seja, com frequências e preços maiores, o mercado brasileiro ainda não teve volume para esses produtos.

Renderização do processador Ryzen 9000
Mesmo com foco em eficiência, o que os jogadores realmente querem é mais performance (Imagem: AMD)

Mesmo assim, o porta-voz da empresa coloca o fato da série 9000 ter mais eficiência energética como um dos grandes diferenciais desse lançamento. Oliveira utiliza o Ryzen 7 9700X como exemplo, que utiliza oito núcleos e 16 threads, mas com consumo energético de apenas 65W. Seu antecessor, o Ryzen 7 7700X, tem características similares, mas trabalha com 105W.

“Esse tipo de eficiência nós já prevíamos em nosso roadmap. Então a chegada da série Ryzen 9000 foi extremamente importante por isso. Nossa percepção é que a transição vai ser tão grande para a série 9000 que alguns processadores da série 7000, como os Ryzen 9 7900X3D e 7950X3D, saem de linha para abrir espaço”, aponta o representante.

Artur confirma que a transição entre a série 7000 e 9000 será lenta, e que essas duas gerações ainda devem caminhar juntas em mercados como o Brasil durante 2025 e até mesmo 2026. Na perspectiva de vendas, isso é um bom sinal para a AMD, já que o movimento natural do mercado fará com que o preço dos Ryzen 7000 continue caindo.

Ryzen X3D demonstram força no setor gamer

Um dado interessante fornecido pelo gerente de componentes da AMD Brasil é sobre o padrão de consumo recente dos consumidores brasileiros. Artur comenta que nos Ryzen 5, os brasileiros costumam adquirir os Ryzen regulares, sem nenhum tipo de sufixo, enquanto nos Ryzen 7 e Ryzen 9 é normal que os modelos com sufixos X ou X3D sejam mais vendidos.

Por falar nisso, no fim de 2024 a empresa lançou o poderoso Ryzen 7 9800X3D, considerado em nossa análise como o processador gamer mais forte da atualidade. Por mais que os estoques do produto tenham chegado com força apenas a partir de janeiro deste ano, Artur indica que o número de vendas está triplicando.

CPU Ryzen 7 9800X3D
O Ryzen 7 9800X3D é ideal para gamers entusiastas (Imagem: Felipe Vidal/TecMundo)

“Antes havia muita discussão e indicações para as pessoas comprarem um Ryzen 5 e uma boa placa de vídeo. Você não precisava nem de um Ryzen 9. Quando sai o Ryzen 7 9800X3D essa discussão acaba […] Jogos são executáveis single-core, então você não precisa de vários núcleos. Agora, quando eu tenho mais cache [Como no Ryzen 9800X3D], tem como armazenar mais dados e aumentamos a taxa de quadros”, explica o gerente de componentes da AMD Brasil.

Plataforma AM4 é sucesso no Brasil

Por mais de 7 anos a AMD vem alimentando a plataforma AM4 com cada vez mais processadores. Inclusive, nas últimas semanas a companhia anunciou os inéditos Ryzen 5005G com gráficos integrados, e mostra que o lendário soquete ainda tem gás suficiente para mais um tempinho.

A respeito do volume dessa plataforma, Artur confirma que 60% dos processadores da AMD vendidos no Brasil hoje são do soquete AM4, enquanto algo em torno de 27% representa a plataforma AM5 mais recente.

Oficialmente, a AMD vai oferecer suporte ao AM4 até o fim de 2025, mas sinceramente não seria surpresa ver a empresa aumentar o ciclo de vida da tecnologia por mais um período. Aliás, mesmo que o soquete chegue ao fim da vida nos próximos meses, é possível que o mercado brasileiro ainda continue com estoques de CPUs compatíveis por um tempo, até completar bem a transição para os Ryzen 7000, 8000 e 9000.

Processador AMD com cooler box instalado no PC
Processadores das gerações Ryzen 3000 e 5000 estão entre os mais populares do país (Imagem: Vladimir Malyutin/Unsplash)

Inclusive, alguns dos processadores mais vendidos da AMD em 2024 são justamente do soquete AM4. Artur coloca os Ryzen 5 5600GT e o Ryzen 7 5700X3D como os campeões em vendas, com destaque para o 5700X3D, que oferece um dos melhores custo-benefício da atualidade pelo valor entre R$ 1.300 e R$ 1.500.

Radeon RX 9070 chegam agressivas

Para o mundo das placas de vídeo, a AMD teve um 2024 bem frio, já que não realizou o lançamento de nenhuma nova GPU focada ao público gamer. No entanto, essa situação mudou nos últimos dias com o forte lançamento das Radeon RX 9070.

Os novos modelos inauguram a microarquitetura RDNA 4 com mais desempenho bruto em rasterização e via Ray Tracing, que sempre foi uma pedra no sapato da companhia. O TecMundo ainda não conseguiu testar os novos exemplares, mas a imprensa internacional teceu muitos elogios para a Radeon RX 9070 XT, modelo mais forte da geração, e isso retoma a competitividade ao setor.

Para Patrícia Lenny, também gerente de Componentes da AMD Brasil com foco na área das GPUs, a AMD chega com uma proposta bem mais agressiva nessa geração. “A gente ainda não tem uma placa para competir com a GPU mais forte da Nvidia, mas estamos subindo degrau a degrau. Não temos mais ouvido que ‘AMD é custo-benefício’, muito pelo contrário, temos vistos ótimos benchmarks e o gamer gosta do nosso produto”, informa Lenny.

Slide com as principais Radeon RX 9070
Novas Radeon RX 9070 não tem versão de referência, apenas as fabricadas por empresas parceiras (Imagem: AMD)

Como nossa entrevista foi realizada antes da revelação completa das Radeon RX 9070, Patricia Lenny não pôde informar tantos detalhes assim a respeito das vindouras GPUs. A executiva, no entanto, confirmou que a AMD mira essas GPUs para brigar contra as GeForce RTX 4070 e até mesmo bater contra as RTX 4080.

Por mais que nenhuma GPU tenha sido lançada em 2024, Patrícia aponta que a Radeon RX 6600 foi o modelo mais vendido durante o ano. Isso não chega a ser uma grande surpresa, visto que é uma das GPUs mais baratas da AMD e entrega um desempenho satisfatório para rodar games no médio em Full HD.

A empresa também confirmou que encerrará o ciclo de vida dessa GPU no terceiro trimestre de 2025, e já prepara a Radeon RX 7600 como sua sucessora no segmento das mais baratinhas. 


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