Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu, na Península Arábica, os indícios mais antigos já revelados até hoje da produção organizada de lâminas de pedra. Datados por técnicas de luminescência em 80 mil anos, os achados redefinem o entendimento sobre a colonização da Arábia e também sobre as rotas usadas pelos primeiros seres humanos modernos a partir de sua dispersão inicial.

Antes associadas apenas as regiões da África e da Europa, essas técnicas avançadas de fabricação de ferramentas de pedra também estavam presentes na região árabe muito antes do que se imaginava. Na época, o local não era ainda um deserto, mas uma encruzilhada fértil, procurada pelos Homo sapiens que saíram da África.

Em um artigo publicado recentemente na revista Archaeological and Anthropological Sciences, o grupo de arqueólogos, etnólogos e historiadores descreve o local da escavação em Jebel Faya, um importante sítio arqueológico localizado nos Emirados Árabes Unidos, próximo à fronteira com Omã, que vem sendo estudado há vários anos.

A grande descoberta arqueológica em Jebel Faya

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Diversas matérias-primas líticas para fabricação de lâminas. (Fonte: Knut Bretzke et al., Archaeological and Anthropological Sciences, 2025/Divulgação)

Dados paleoclimáticos da região mostram que, há cerca de 130 mil anos, a Península Arábica passou por um extenso período de clima favorável, que transformou as áreas hoje desérticas em ambientes férteis e habitáveis. Essas condições favoráveis atraíram diversas populações pré-históricas para a região. Recentemente, pesquisadores têm procurado vestígios dessas populações humanas, focando em sítios arqueológicos conhecidos.

Uma equipe liderada pelo Dr. Knut Bretzke, da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, concentrou seus esforços no sítio arqueológico da Jebel (montanha em árabe) Faya, nos Emirados Árabes Unidos, um local com 210 mil anos de história. Desde 2003, os pesquisadores vêm coletando sedimentos das trincheiras para exames posteriores por meio do método de Perda na Ignição, que avalia alterações no peso das amostras após aquecimento.

A grande descoberta, relatada no estudo atual, foi a descoberta de um conjunto de pedras que remontam a cerca de 80 mil anos. A coleção de objetos de pedra é caracterizada como longas lascas com bordas paralelas, que só poderiam ter sido moldadas pelo Homo sapiens, afirmam os autores. O design das lâminas indica um método padronizado, técnica especializada e uma uniformidade intencional de formas e tamanhos.

A migração das primeiras populações de Homo sapiens

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A dispersão do Homo sapiens passou pela borda sul da Península Arábica. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Em um comunicado de imprensa, o Dr. Bretzke explica: “Nossos resultados sugerem que o sul da Arábia desempenhou um papel completamente diferente no estabelecimento e diversificação cultural das populações de Homo sapiens no sudoeste da Ásia do que o norte da península”. Ou seja, há cerca de 80 mil anos, a longa fase de condições climáticas favoráveis à ocupação humana na Arábia, iniciado há 130 mil anos, acabou.

As escavações demonstraram pela primeira vez que, na transição para a fase seca seguinte, diferentes grupos humanos no norte e no sul da Arábia desenvolveram culturas distintas ao longo do tempo. As descobertas fornecem novas pistas sobre quando e por onde os primeiros Homo sapiens saíram da África e se espalharam pela Ásia. Essa dispersão global ocorreu em várias ondas migratórias, sendo que uma delas avançou pela borda sul da Península Arábica.

Agora, com a descoberta dos artefatos de pedra, foi possível datar em 80 mil anos a época em que as condições hospitaleiras cessaram no deserto da Arábia. Mas, apesar de as ferramentas serem um sinal inequívoco da presença do Homo sapiens na região, “Nenhum vestígio humano do período paleolítico foi encontrado no sul da Arábia até agora”, lamenta Bretzke. No entanto, a expectativa é que futuras escavações descubram restos humanos.

Conclusões sobre lâminas pré-históricas e Homo sapiens

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Populações humanas fizeram lâminas de pedra para migrar para o norte. (Fonte: Knut Bretzke et al., Archaeological and Anthropological Sciences, 2025/Divulgação)

Depois de vários anos de pesquisa em Jebel Faya, o conjunto de ferramentas de pedra agora encontrado pode ter sido produzido por humanos primitivos que planejavam migrar, afirmam os autores. É possível que as populações pré-históricas tenham fabricado essas lâminas já antecipando a necessidade de usá-las para proteção ou caça durante sua longa jornada para o norte

Para Bretzke, talvez tão importante quanto as ferramentas encontradas foi descobrir que a Arábia tinha na época diversos rios permanentes e formações de lagos que permitiram que as populações humanas florescessem em suas margens. O estabelecimento de populações nesse ambiente favorável estimulou o desenvolvimento e a produção de tecnologias líticas mais complexas.

Para o arqueólogo, as lâminas descobertas não apenas mudam nossa compreensão sobre como e quando os humanos antigos ocuparam a Península Arábica, mas “reescreve” um dos eventos da história humana: a migração da nossa espécie para fora da África a caminho da colonização global.

Se você gosta de descobertas sobre civilizações antigas, saiba também como ocorreu um dos maiores achados arqueológicos desde Tutancâmon: a recente identificação do túmulo do faraó Tutmés II. Ma”a as-salama! (Vá em paz)


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