Um vídeo falso criado por inteligência artificial (IA) envolvendo Fernando Haddad vai virar caso de polícia. O Ministério da Fazenda pediu investigações sobre o clipe, que circulou de forma massiva por redes sociais e mensageiros.
O material tem pouco mais de 30 segundos de duração e simula uma entrevista de Haddad para veículos de imprensa. No vídeo, ele diz que “o plano é taxar tudo esse ano” e que novos impostos incluem tributos sobre bichos de estimação, para grávidas antes mesmo do bebê nascer e no lucro obtido por casas de apostas esportivas, as populares bets.
“O brasileiro gosta de um imposto novo também, né. Todo mundo sabe, imposto e Big Brother é a nossa paixão“, diz o falso vídeo, que imita a aparência e também a voz do ministro.
Não há qualquer indicativo nas redes sociais ou no próprio vídeo de que o material foi produzido artificialmente.
O clipe tem uma marca d”água que identifica o autor, que atende pelo apelido de King IA no TikTok e posta no perfil outros deepfakes — inclusive retratando mais políticos em falas falsas, como o presidente Lula, além de celebridades como Neymar Jr. e Gusttavo Lima.
O vídeo de Haddad foi aparentemente apagado do perfil identificado como o criador, mas réplicas circularam por várias plataformas digitais e até foi repostado por opositores do governo, como o deputado federal Osmar Terra, do MDB do Rio Grande do Sul.
O que diz o governo
A Polícia Federal foi notificada para averiguar a origem do vídeo e como ele se disseminou, em especial a partir de mensagens mal intenciondas. Além disso, a Advocacia Geral da União (AGU) solicitou ao Facebook oficialmente que as publicações do deepfake fossem removidas ou alteradas para trazer um contexto.
Segundo a AGU, a postagem manipulada traz “informações fraudulentas e atribui ao ministro declarações inexistentes” sobre “assuntos de interesse público“, gerando a possibilidade de confundir a população.
Até o momento, a Meta não respondeu o governo sobre o que fará com as publicações. Nesta semana, o bilionário Mark Zuckerberg confirmou mudanças na moderação das redes sociais da empresa, incluindo Facebook e Instagram, flexibilizando a curadoria de conteúdo a favor do discurso de liberdade de expressão.
No X, o antigo Twitter, replicações do vídeo falso de Hadda também seguem no ar e são facilmente encontrados por meio da busca da plataforma.
Além do pedido, Haddad gravou um vídeo para desmentir a criação de impostos — incluindo uma suposta taxa sobre o Pix, que também circulou nas redes sociais e é falsa.
O ministro afirmou ainda que o único novo tributo que de fato está entrando em vigor no Brasil envolve as bets, que foram regularizadas no país a partir deste mês.
Deepfakes estão cada vez melhores
Uma das preocupações do governo está na capacidade do vídeo de se passar por uma declaração verdadeira do ministro. Se visto em baixa qualidade ou sem a devida atenção, o clipe até pode enganar desavisados por ter uma qualidade já avançada de replicação de áudio e vídeo por IA.
A técnica usada neste caso parece ser a de criação de deepfakes. Nessas montagens, um vídeo real é adulterado na região do rosto para inserir outra face ou mudar a sincronia labial da pessoa retratada.
Combinada com a geração artificial de vozes, algo também possível atualmente por meio de múltiplos serviços e modelos de linguagem, é possível fazer com que a pessoa diga algo totalmente diferente, como no caso do vídeo viralizado.
Há alguns cortes bruscos na imagem, alterações nos labial e no timbre de voz, mas em geral a replicação do tom e da aparência do ministro têm qualidade — o que pode ser explicado pela possível alta quantidade de imagens do político usadas para alimentar a IA, em especial por se tratar de uma figura pública e de grande visibilidade.