Inerentes à rotina de diferentes formas, fones de ouvido são companheiros importantes para ouvir músicas, podcasts e audiobooks, trabalhar, estudar, conversar com amigos e muito mais. A escolha do dispositivo ideal, porém, deveria ir além da qualidade sonora do aparelho, considerando a importância de bons periféricos para manutenção da saúde auditiva.

Em termos de estrutura, há basicamente três tipos de fones de ouvido: over-ear, in-ear e on-ear. Cada um deles oferece um diferente tipo de encaixe e não existe um objetivamente melhor do que o outro ao falar sobre conforto, recaindo à escolha pessoal.

Contudo, conforto não é o único critério que precisa ser observado em fones de ouvido, afinal, esse aspecto também interfere intimamente no potencial de danos à audição.

A escolha de fone de ouvido também deve considerar o potencial dano à saúde auditiva. (Fonte: GettyImages)
A escolha de fone de ouvido também deve considerar o potencial dano à saúde auditiva. (Fonte: GettyImages)

Para entender melhor qual tipo de fone mais prejudicial para sua saúde auditiva, o TecMundo ouviu médicos e o fundador da Kuba, também dono do canal do YouTube Mind The Headphone, Leonardo Drummond, para preparar um guia completo sobre como escolher e utilizar fones de ouvido.

Quais são os tipos de fones de ouvido?

Basicamente, fones de ouvido modernos se dividem em três categorias. Conforme explica Drummond, elas são:

  • On-ear: o headphone tradicional, construído com arco para apoio na cabeça e almofadas que são praticamente do tamanho das orelhas;
  • In-ear: os os fones menores que se encaixam diretamente no canal auditivo — geralmente, com ponteiras de borracha ou silicone;
  • Over-ear: também são headphones construídos com um arco para apoio na cabeça, mas com almofadas maiores que as orelhas.

Cada uma das categorias oferece vantagens particulares: os fones on-ear tendem a ser mais versáteis, mas a falta da cobertura completa do acolchoado dificulta a implantação de cancelamento de ruído passivo; os in-ear são menores, interessantes para atividades físicas, mas podem incomodar ou não se encaixar bem com o formato do ouvido do portador; e os over-ear são interessantes para o uso sem tanto movimento, mas há quem reclame do calor gerado.

Os fones over-ear (à esquerda) são maiores que as orelhas, os on-ear (centro) cobrem as orelhas e os in-ear (à direita) vão direto no ouvido. (Imagem: Sonos/Divulgação)
Os fones over-ear (à esquerda) são maiores que as orelhas, os on-ear (centro) cobrem as orelhas e os in-ear (à direita) vão direto no ouvido. (Imagem: Sonos/Divulgação)

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O tamanho dos fones também tende a interferir diretamente com a qualidade sonora do modelo. Drummond explica que os fones over-ear, dado o seu tamanho maior, podem entregar sons mais amplos, enquanto os in-ear têm potencial de proporcionar melhor detalhamento sonoro — mas não há resposta certa, uma vez que depende do modelo escolhido e da preferência do usuário quanto à qualidade do som.

Ao falar sobre cancelamento de ruído, são os fones in-ear que levam a vantagem do isolamento passivo — afinal, eles vedam completamente o canal auditivo. Quanto ao cancelamento de ruído ativo, todos os tipos conseguem entregá-lo, mas a eficiência desse recurso varia conforme o modelo, formato e marca.

Qual tipo de fone é mais prejudicial à saúde auditiva?

Os três tipos de fones podem causar danos à saúde auditiva, mas os in-ear tendem a ser mais prejudiciais.

“As ondas sonoras captadas pela orelha externa e o sistema composto pela membrana timpânica e os ossículos da orelha média têm a capacidade de amplificar e reforçar a pressão sonora de algumas frequências. Assim, quanto mais próxima a fonte sonora, maior a probabilidade de ser prejudicial à audição”, explicou o médico otorrinolaringologista, Dr. Eder B. Muranaka.

Ainda que os fones in-ear tenham mais potencial de trazer danos, todos os fones podem causar problemas. (Fonte: GettyImages)
Ainda que os fones in-ear tenham mais potencial de trazer danos, todos os fones podem causar problemas. (Fonte: GettyImages)

Dada a sua estrutura, os fones in-ear “podem causar traumas, superficiais ou até mais graves, com dor, sangramento e risco aumentado de infecção local ou mesmo inflamação crônica”, afirmou o especialista. Por isso, é importante escolher bem o modelo e inseri-lo corretamente e com cuidado nos ouvidos.

Volumes altos também são um problema

A exposição a sons em volume elevado também pode ser problemática. “Considerando que a maioria dos fones de ouvido atinge até 110 decibéis, a chave está em evitar volumes acima de 85 dB por períodos prolongados e fazer pausas durante o uso”, pontuou a presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e CEO da ProBrain, doutora Ingrid Gielow. “Ouvir a sua música favorita acima dessa intensidade não é um problema, mas não dá para ouvir sua playlist inteira assim”, alertou.

O controle de volume é importantíssimo para evitar exposição prolongada à sons prejudiciais. (Fonte: GettyImages)
O controle de volume é importantíssimo para evitar exposição prolongada à sons prejudiciais. (Fonte: GettyImages)

Quanto ao possível dano auditivo, é importante observar três aspectos: tempo de exposição, intensidade do som e a susceptibilidade individual.

“Fazendo uma analogia, em um ambiente ocupacional, um trabalhador pode ser exposto a ruídos de forma de 85 dB por até 8 horas, de 100 dB por até 1 hora e 115 dB por somente 7 minutos”, exemplificou Muranaka.

Existem aspectos técnicos para escolher fones menos prejudiciais à saúde?

Segundo Leonardo Drummond, não. “Não existe nenhuma especificação técnica que você deva procurar que vá indicar se o fone é mais ou menos seguro para a audição, da mesma forma que não há nada que indique a qualidade do fone”, argumentou o especialista. Contudo, a doutora Gielow acrescenta: cuidado com fones piratas.

Fones piratas ou não certificados carecem de qualquer garantia de qualidade. (Fonte: GettyImages)
Fones piratas ou não certificados carecem de qualquer garantia de qualidade. (Fonte: GettyImages)

Fones piratas ou sem certificação podem não atender aos padrões de segurança e qualidade, resultando em um som de qualidade comprometida, ausência de limites de volume e risco de exposição a flutuações de intensidade e falha na equalização de frequências que podem ser prejudiciais”, disse a fonoaudióloga.

Um ponto em comum mencionado por Drummond e Gielow é sobre a qualidade de isolamento sonoro: fones de ouvido com cancelamento de ruído (passivo ou ativo) ruim permitem a entrada de sons externos, e é natural que o usuário aumente o volume do dispositivo para compensar essas distrações — e aí mora um problema: intensidade exagerada por tempo prolongado.

Cancelamento de ruído faz mal à saúde auditiva?

A tecnologia de cancelamento de ruído não apresenta riscos diretos à saúde auditiva, comentou Gielow. “Pelo contrário, esta solução pode ser benéfica, permitindo que o usuário escute o conteúdo em volumes mais baixos, já que os ruídos externos são minimizados”.

Nesse aspecto, é importante se atentar à inserção correta dos fones — especialmente os in-ear. O otorrinolaringologista Muranaka explicou o passo a passo:

  1. Identifique o lado correto do fone (se houver);
  2. Puxe a parte superior da orelha para cima e abra levemente a boca para facilitar a inserção do fone;
  3. Insira o fone suavemente, sem resistência, até sentir firmeza no encaixe, mas sem dor ou desconforto.

Como reduzir a chance de danos auditivos por fones de ouvido?

Segundo Leonardo Drummond, é essencial ter disciplina. O executivo defende o uso de fones com volume baixo, não aumentando o volume de forma desnecessária, mas é difícil entender exatamente qual o limite dos próprios ouvidos.

“Na dúvida sobre quanto são 85 decibéis? Existem vários aplicativos de decibelímetros disponíveis que permitem a mensuração da intensidade do som e que podem ajudar o usuário a ter ideia da sensação dessa intensidade”, sugeriu Ingrid Gielow.

Confira, abaixo, sugestões de apps que fazem a mensuração:

  • Decibelímetro – Sound Meter (Android);
  • Medidor Decibéis (iOS);
  • Decibelímetro (Android);
  • Decibel X: dB Medidor de Som (iOS).
A ferramenta utilizada para medir a intensidade sonora do ambiente é o decibelímetro. (Fonte: GettyImages)
A ferramenta utilizada para medir a intensidade sonora do ambiente é o decibelímetro. (Fonte: GettyImages)

Contudo, as soluções não não são perfeitas. Os médicos entrevistados pelo TecMundo indicam, por exemplo, que é importante não confiar no alerta de volume nativo do sistema — presente em celulares Android. Esse aviso genérico considera a saída do dispositivo, mas não necessariamente a intensidade gerada pelo periférico, exceto em dispositivos com interoperabilidade mais íntima.

Nesse sentido, Drummond destaca a integração do iOS com os AirPods. A ferramenta nativa do sistema mostra a intensidade sonora média ouvida pelo usuário, e há um bom nível de precisão nessa estimativa, uma vez que os fones são produzidos e testados pela marca.


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