A menos que você tenha sido comprovadamente diagnosticado com a doença celíaca, qualquer tipo de “sensibilidade ao glúten” que você tenha sentido provavelmente não tinha nada a ver com glúten. De acordo com pesquisadores da Universidade de Oslo, na Noruega, o verdadeiro culpado por tudo pode ser o frutano.

Para quem desconhece, o frutano é um tipo de carboidrato encontrado em grãos como trigo, centeio e cevada. Porém, ele também aparece em alimentos sem glúten, como alcachofras, aspargos, alho, alho-poró e cebola. Entenda mais sobre o assunto nos próximos parágrafos!

Confusão alérgica

(Fonte: Shutterstock)(Fonte: Shutterstock)

Em um teste realizado com 59 pessoas, pesquisadores fizeram experimentos usando glúten e frutano. Ao longo de seis semanas, os participantes tiveram que experimentar três tipos de barras de muesli diferentes — cereal matinal popular à base de flocos de aveia crus, fruta e frutos secos.

A primeira barra possuía glúten, a segunda apresentava amostrar de frutano e a última amostra era livre de ambas as substâncias. Ao fim do processo, cada participante teve que realizar uma avaliação de como cada barra afetou sua digestão. Em suma, a maioria das pessoas nunca foram alérgicas de fato ao glúten, mas faziam dietas sem o composto por apresentar algum tipo de sensibilidade. 

O resultado do estudo demonstrou que 24 pessoas sentiram o maior desconforto com a barra de frutano, enquanto 22 pessoas tiveram o mesmo tipo de desconforto com a barra de placebo. Por fim, somente 13 pessoas enfrentaram uma indigestão mais agravante com a barra de glúten — o que deixa múltiplos resultados a serem analisados.

Conflito de informações

(Fonte: Shutterstock)(Fonte: Shutterstock)

Em 2011, um estudo feito pelo pesquisador Peter Gibson, da Universidade de Monash (Austrália), identificou que muitas pessoas sem doenças celíacas podem sentir desconforto gastrointestinal em dietas envolvendo glúten. O artigo, publicado na Gastroenterology, batizou esse fenômeno de “sensibilidade ao glúten não celíaca”.

Esse movimento, inclusive, fez com que a indústria de alimentos sem glúten atingisse a marca de US$ 16 bilhões de faturamento em 2016. Naquela época, uma pesquisa de campo indicou que, embora apenas 1% dos habitantes dos Estados Unidos realmente sofram da doença celíaca, 18% dos adultos norte-americanos consumem alimentos sem glúten.

Na visão de Gibson, muito desse fenômeno tem a ver com efeito ‘nocebo’ — os pacientes sensíveis ao glúten autodiagnosticados sentem desconforto justamente por imaginar que terá esse tipo de problema. Em seu experimento, ele avaliou 37 pacientes que se autoproclamavam celíacos, mas sem diagnóstico médico.

Ao longo do seu teste, Gibson recolheu amostras de urinas e fezes de seus pacientes por nove dias. Durante esse tempo, eles receberiam refeições quaisquer potenciais gatilhos alimentares para sintomas gastrointestinais, incluindo lactose, conservantes e demais substâncias. Mesmo assim, muitos apresentaram problemas intestinais, o que a equipe de pesquisa avaliou como interpretação erroneamente dos sinais do corpo como sensibilidade ao glúten.

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