Nascida Norma Jeane Mortenson, em 1 de junho de 1926, Marilyn Monroe foi bem mais que só uma cantora, atriz e modelo. Ela também foi um símbolo-americano do século XX — o maior de todos —, a epítome de como a indústria e as agruras de uma sociedade essencialmente machista da época podem destruir um artista, principalmente, uma mulher.

Monroe foi mais que um rostinho e um corpo bonito, ela se tornou a segunda mulher na história dos Estados Unidos a possuir a própria produtora, desafiando a estrutura dos estúdios hollywoodianos que ditavam quais filmes suas estrelas fariam, controlando totalmente a carreira delas.

Ela usou de sua influente imagem e status na sociedade americana para lutar pelos direitos da mulher, bem em uma época em que não havia espaço para nenhum. Com isso, também foi uma das primeiras a defender o movimento dos direitos civis que causou uma verdadeira revolução em protestos, motins e mortes pelas ruas dos EUA na cena de meados de 1954.

Uma eterna perseguição

(Fonte: Mulher Portuguesa/Reprodução)(Fonte: Mulher Portuguesa/Reprodução)

Além de ser reconhecida como uma inspiração para aqueles que se esforçam para superar obstáculos pessoais e lutar por um objetivo de alcançar a grandeza, Monroe foi elevada a símbolo/deusa sexual dos anos 1950, aparecendo em 29 filmes ao longo de sua carreira e estampando todas as capas de revistas possíveis. Consequentemente, isso atraiu tantos rumores sobre sua vida amorosa, alegando que foi recheada de muitos homens, que isso a perseguiu.

“Se Marilyn dormisse com todos os caras que afirmaram estar com ela, ela nunca teria tempo para fazer nenhum filme”, disse seu amigo e fotógrafo Sam Shaw que, inclusive, sempre foi apontado pela mídia como seu amante.

(Fonte: Hypeness/Reprodução)(Fonte: Hypeness/Reprodução)

Isso porque ser notado por Monroe a ponto de levá-la para cama se tornou uma espécie de troféu masculino, algo muito ostentado na época, principalmente no meio artístico ou da alta sociedade. E essa má fama serviu apenas para reforçar ainda mais o enorme estereótipo na sombra de uma mulher bonita e atraente.

Em meio a tantos boatos, estava John F. Kennedy, o então presidente dos EUA. Mas esse suposto caso, em especial, surgiu em uma ocasião que entrou para a História.

Feliz aniversário

(Fonte: Rolling Stone/Reprodução)(Fonte: Rolling Stone/Reprodução)

Durante um evento sediado no Madison Square Garden para arrecadação de fundos e em comemoração antecipada aos 45 anos de JFK, em 19 de maio de 1962, Monroe, inesperadamente, subiu ao palco, pegou o microfone e desejou o famoso “Feliz aniversário, Sr. Presidente”, diante de uma plateia de mais de 15 mil pessoas. Em seguida, com seu tom de voz sensual, cativante e, por vezes, beirando algo estranhamente infantilizado, cantou Happy Birthday to You.

A partir desse momento, não só surgiu a possibilidade de que Monroe e Kennedy terem tido um caso em algum momento no passado, com a mídia erguendo falsas conjecturas sobre um amor frustrado que a atriz talvez nunca tivesse superado, com um término tão dramático quanto sua trajetória de vida —, como também todos os aspectos daquela noite eternizaram o momento, inclusive o vestido que ela usava.

Feito pelo renomado estilista francês Jean Louis, vencedor de um Oscar de Melhor Figurino, o vestido foi baseado em um esboço do estilista americano Bob Mackie quando tinha apenas 21 anos, inspirado nos figurinos de palco que o próprio Louis criou para Marlene Dietrich, em seu ato de cabaré em Las Vegas durante os anos de 1950 e 1960.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

O vestido em marquisette, com 2.500 mil cristais muito brilhantes costurados à mão custou US$ 1.440 (R$ 59 mil na atual cotação), era tão justo que Monroe optou por não usar nada por baixo para que ficasse como uma segunda pele. Além disso, Louis teve que costurá-lo no corpo da atriz instantes antes do evento devido às suas proporções muito estreitas.

Monroe fez tudo sabendo que sua performance seria escandalosa, mas talvez não imaginasse que entraria para a História — muito provavelmente porque não fazia ideia de que sua vida teria o fim que teve. E ela acertou, visto que a peça e todo o contexto se tornou um item histórico na moda, sendo vendido em um leilão por US$ 1,26 milhão em 1999.

Em meados de 2016, o museu de acervo pessoal Ripley’s Believe It or Not Museum pagou US$ 4,8 milhões pelo vestido, uma das peças mais caras da cultura pop de todos os tempos.

Usar ou não usar

(Fonte: Vogue/Reprodução)(Fonte: Vogue/Reprodução)

Na primeira segunda-feira deste mês (2 de maio), durante o famoso evento Met Gala, que reúne todos os tipos de celebridades e pessoas influentes do universo da moda, música, cinema e da sociedade —, a modelo e empresária Kim Kardashian apareceu usando o emblemático vestido de Monroe, nunca usado novamente por ninguém.

A mídia entrou em polvorosa e, por um breve momento, as pessoas consideraram que Kardashian estivesse usando uma réplica no tapete vermelho, porém não foi o que aconteceu, trazendo ainda mais controvérsia para sua aparição.

Além de estar totalmente fora do tema proposto para o evento, que era “Na América: uma Antologia da Moda”, cujo foco era o glamour dourado da Nova York do século XIX, com vestidos opulentos e espartilhos —, curadores de moda, preservadores de peças históricas, restauradores e o mundo da moda ergueram o questionamento se uma peça histórica como aquela deveria ser usada por alguém apenas por status.

(Fonte: Hollywood Forever TV/Reprodução)(Fonte: Hollywood Forever TV/Reprodução)

“A moda é viva, ela precisa continuar sendo reciclada”, disparou um internauta em uma publicação da FFW, um portal brasileiro focado no mundo da moda, tendência e estilos.

Em matéria à People, a Dr. Justine De Young, do Fashion Institute of Technology, enxergou a atitude de Kardashian como “irresponsável e desnecessária”. Ainda que a empresária tenha trocado o vestido original por uma réplica durante o jantar, os historiadores deixaram claro que o tecido e as costuras foram estressados.

“O que me preocupa é que colegas em coleções históricas de fantasias, roupas ou figurinos agora sejam pressionados por pessoas importantes a deixá-los usar”, disse Sarah Scaturro, ex-conservadora do Met’s Costume Institute, em entrevista à Town & Country.

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